O continente africano, Angola em particular, está a transformar-se no potencial palco de outra guerra entre os Estados Unidos e a China, com o primeiro a querer combater a supremacia que o segundo conquistou na região. Haim Taib, fundador e CEO do grupo Mitrelli acredita que administração norte-americana “começa a olhar para África com os olhos certos”.
“No passado, todos os países que vieram para África tiraram o que queriam e deixaram as pessoas para trás. Agora os americanos estão a tentar a mudar a filosofia e a tentar empurrar os chineses do lugar que eles querem tomar”, afirma o empresário de origem israelita ao Negócios.
Haim Taib é um profundo conhecedor da realidade angolana e anunciou no final do mês de junho, durante a cimeira de negócios Eua-áfrica que decorreu em Luanda, uma parceria com o Fundo Soberano de Angola (FSDEA) para a criação de uma Plataforma de Investimento e Desenvolvimento do corredor do Lobito, com um compromisso inicial de investimento de 100 milhões de dólares (85 milhões de euros ao câmbio atual), 50 milhões de cada parte.
O processo de afirmação dos Estados Unidos em África será desafiante. “A China está aqui há 30 anos. Eu cheguei a Angola em 1991 e em 1996, 1997, comecei a ver chineses. Eles vieram com a preocupação de obter petróleo e os americanos estavam noutras geografias, não em África. Agora, os EUA estão a olhar para África porque se mentalizaram que este continente é o futuro do mundo. Em 2050, África duplicará a sua população. São 1,3 mil milhões, serão 2,8 mil milhões” sublinha Haim Taib, acrescentando que os contactos mantidos com senadores norte-americanos têm permitido perceber essa preocupação. “Eles pedem-nos, a nós, empresários, para encontrar a forma de, com o governo americano e os governos de África, construirmos juntos o futuro do continente. É isso que estamos a tentar fazer.”
O objetivo da Plataforma de Desenvolvimento lançada pelo grupo Mitrelli e o FSDEA para o corredor do Lobito, que envolve também a República Democrática do Congo e a Zâmbia, é captar até mil milhões de dólares (850 milhões de euros) para investir em projetos nas áreas de agricultura, infraestruturas, saúde, indústria ligeira, educação e inclusão digital.
Todos os projetos serão submetidos a concursos públicos e avaliados por um comité de investimento independente, com base em critérios como viabilidade técnica, impacto económico e sustentabilidade financeira.
“Ao combinarmos capital catalisador com parcerias de longo prazo, pretendemos desbloquear todo o potencial deste corredor — não só para o povo angolano, mas para toda a região”, afirmou na ocasião o presidente do FSDEA, Armando Manuel.
Haim Taib acredita que os outros beneficiários do corredor do Lobito, a Zâmbia e a República Democrática do Congo, irão igualmente financiar esta plataforma. “A Zâmbia, através do seu fundo de pensões, também já mostrou interesse em investir. Acredito que entrará com 30 milhões de dólares. A República Democrática do Congo também já disse que queria participar. Vamos procurar investidores nos EUA, Europa, Brasil, África. Acredito que chegaremos à meta de mil milhões de dólares.”
O modelo de negócio do grupo Mitrelli é abrir as portas aos governos de África, através da subsidiária Luminar Impact Capital, permitindo que estes obtenham financiamentos destinados a usar em “projetos transformadores”. O grupo Mitrelli, nos últimos dois anos, financiou Angola em 5,4 mil milhões de dólares, montante que o Governo de João Lourenço destinou a “projetos prioritários e urgentes”.
Haim Taib sustenta que Angola é um dos países de África com maior potencial de crescimento. “Para o Governo o petróleo vai ser sempre o principal recurso, mas acredito que precisam de diversificar as suas apostas, cobrar mais impostos e empurrar o setor privado para investir. Para isso precisam de criar infraestruturas um pouco por todo o país. Se elas não existirem, os empresários ficam à procura delas em Luanda para desenvolverem os seus projetos. África não precisa apenas de dinheiro, precisa de parceiros.”
Para o governo de Angola o petróleo vai ser sempre o principal recurso, mas acredito que precisam de diversificar as suas apostas. HAIM TAIB Fundador e CEO do grupo Mitrelli
Jornal de Negócios