Segunda, 14 de Outubro de 2024
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Terça, 10 Setembro 2024 12:04

PGR mantém-se em silêncio sobre a corrupção no "caso BCG"

Dois especialistas consultados pelo Expansão acreditam que estas situações aumentam a sensação de selectividade no combate à corrupção, realidade que também pode ter efeitos negativos na atracção de investimento privado para o País. Pagamento de subornos ocorreu entre 2011 e 2017.

Nas últimas semanas, a empresa de consultoria de origem norte- -americana Boston Consulting Group (BCG) admitiu que pagou subornos em Angola para obter contratos, entre 2011 e 2017, que geraram receitas totais de 22,5 milhões USD, junto do Ministério da Economia e do Banco Nacional de Angola (BNA). Apesar de estas informações serem públicas e de terem sido divulgadas por vários órgãos de comunicação social nacionais e internacionais, a Procuradoria-Geral da República (PGR) mantém-se em silêncio sobre o processo.

Na terça-feira, 03, o Expansão perguntou à PGR se estas informações deveriam originar a abertura imediata de uma investigação em Angola sobre os factos denunciados pela consultora. Apesar de termos sido informados sobre o período de férias de Álvaro João, porta-voz da PGR, também disseram que a instituição iria responder à pergunta, o que não aconteceu até ao fecho desta edição.

O Expansão também ouviu dois especialistas nacionais em questões jurídicas, o advogado Vicente Pongolola e o académico António Ventura, e ambos foram taxativos: tendo em conta os factos que foram divulgados pela BCG e pela imprensa, a atitude correcta e mais esperada seria a abertura imediata de uma investigação, que poderia até envolver a troca de informações com a justiça dos EUA.

"Não tenho dúvidas sobre qual devem ser os procedimentos a seguir, mas nós já sabemos como funciona o País e as nossas instituições", disse Vicente Pongolola, que entende que a atitude da PGR é quase sempre marcada pelas pessoas e instituições eventualmente envolvidas nos processos. "É daqui que depois resulta aquela sensação de selectividade e de protecção de algumas figuras", considera Pongolola.

A auto-denúncia da BCG surge na sequência de uma investigação do Departamento de Justiça norte- -americano e, para garantir que o processo não atingisse outras proporções, a consultora admitiu as más práticas e tornou-se numa espécie de delatora premiada. Para resolver o problema, aceitou pagar uma multa de 14,4 milhões USD, equivalente aos lucros obtidos com os contratos ganhos em Angola.

Os subornos, que variavam entre 20% e 35% do valor dos contratos, foram pagos a um agente externo com fortes ligações às autoridades angolanas.

O Departamento de Justiça dos EUA revelou também que funcionários da BCG em Portugal tomaram medidas deliberadas para encobrir a verdadeira natureza dos pagamentos e do trabalho realizado pelo agente. Estas acções incluíram a retroactividade de contratos e a falsificação de documentos que alegadamente justificavam os serviços prestados.

Apesar das evidências de que a BCG violou a lei de Práticas de Corrupção no Estrangeiro (Foreign Corrupt Practices Act), o Departamento de Justiça dos EUA não avançou com acusações criminais contra a empresa, baseando a decisão no facto de a consultora ter reportado voluntariamente as suas condutas ilícitas às autoridades, além de ter cooperado integralmente com a investigação.

A BCG também garantiu que tomou medidas internas rigorosas, despedindo os funcionários envolvidos no esquema de subornos e fechando o seu escritório em Luanda.

No entanto, os contratos de consultoria em geral, mas sobretudo em jurisdições com sistemas legais e instituições mais frágeis, levantam inúmeras suspeitas relacionadas com corrupção, pagamentos irregulares, tráfico de influências e branqueamento de capitais.

Apesar do acordo com a empresa, o Departamento de Justiça dos EUA reservou o direito de reabrir a investigação contra a BCG caso surjam novas informações relevantes. Também continua em aberto a possibilidade de serem instruídos processos criminais contra indivíduos envolvidos neste esquema aplicado em Angola.

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