Domingo, 28 de Abril de 2024
Follow Us

Sábado, 11 Novembro 2023 15:00

Zungueiras trocam passeios por negócios às escondidas atrás dos prédios

Nem as viaturas escapam aos assobios das vendedoras, que encaminham depois os potenciais compradores para zonas onde não chega a fiscalização, que se vê incapaz de agir. "Não é ilegal que elas fiquem aqui de pé. Ilegal é elas ficarem aqui com os seus negócios", disse um fiscal.

Seis meses depois do encerramento de lojas e armazéns no São Paulo, medida tomada pelo Governo Provincial de Luanda (GPL) através do programa de "Reordenamento do Comercio" que visa organizar as ruas e as zonas com maior fluxo de comércio desordenado, melhorou a fluidez do trânsito, as ruas ficaram mais limpas e acabou a confusão que havia na zona, para alívio dos moradores. Apesar disso, a venda informal continua. Mas agora é feita às escondidas.

Por causa da fiscalização do GPL que se intensificou nas imediações, as zungueiras arranjaram outra forma de comercializar os seus produtos: guardam os negócios por detrás dos prédios, nos becos, quintais e casotas de seguranças.

Depois "instalam-se" debaixo dos prédios, das árvores, nos passeios, nas entradas das lojas a retalho, ou até mesmo no meio das ruas, onde vão interpelando pessoas anunciando os produtos que têm à venda.

Se o possível comprador mostrar interesse, é convidado a acompanhá-las aos locais onde têm guardados os produtos e onde é concluída a negociação. "Amigo temos t-shirts, calças, calçados, relógios e perfumes. O que está à procura?", dizia uma das vendedoras ao Expansão durante uma ronda pelo bairro.

Até as viaturas não escapam aos assobios das vendedoras. Tudo acontece aos olhos da fiscalização que se vê incapaz de agir. "Não é ilegal que elas fiquem aqui de pé. Ilegal é elas ficarem aqui com os seus negócios", disse um fiscal ao Expansão.

Nota-se um claro acto de resistência por parte das zungueiras em trocarem as ruas do São Paulo pelos mercados que existem em Luanda. "Depois do encerramento dos armazéns perdemos muitos clientes. Se antes vendíamos 50 mil Kz/dia, hoje para vender 15 mil Kz é uma luta", afirmou uma das vendedoras, que se identificou apenas por Rosária.

Mas o GPL já tinha avisado. "Os vendedores que persistirem em colocar os seus negócios ali onde foram removidos, verão a mão pesada da Lei", avisava ao Expansão, Dorivaldo Adão, director do Gabinete para o Desenvolvimento Económico Integrado do GPL.

Apesar das alterações que se registam nas ruas do São Paulo, muitas famílias residentes na zona, ficaram com a condição económica mais fragilizada. Algumas perderem a base do sustento porque, além de ganharem dinheiro com o aluguer das suas lojas e dos armazéns, aproveitavam o fluxo de gente que havia na zona para fazerem outros negócios na entrada das suas residências.

"Agora está melhor porque acabou a confusão e as ruas estão limpas e mais abertas para piões e automóveis. Mas, por outro, lado está difícil sobreviver nestas condições porque com o encerramento destas lojas acabaram os nossos negócios à porta de casa", comentava Selmira Guerra, moradora na Rua arreiou-arreiou.

"Tenho duas filhas que tiveram de deixar de frequentar a universidade porque era o armazém que arrendávamos aos chineses que garantia as propinas e também parte do sustento familiar", lamentou Quintino Lázaro, morador na rua da Gajajeira, revelando que tinha uma renda mensal de 400 mil Kz pelo seu estabelecimento.

Mas a generalidade dos moradores aplaude a aparente organização que hoje vive a zona. "Antes não tínhamos paz. O barulho começava às 4 da manhã. As vendedoras não respeitavam os moradores, éramos obrigados a deixar os nossos carros na estrada principal e se tivesse um doente em casa, para ir ao hospital tínhamos que levá-lo às costas", comentava uma moradora da conhecida rua Arreiou- Arreiou, identificando- -se apenas por Bela, tendo acrescentado que se houvesse óbito, pedido ou casamento não tinham qualquer hipótese de os realizar nas suas residências. EXPANSÂO

Rate this item
(0 votes)