Graça Campos / Correio angolense
O general Furtado é directamente responsável pelo tumulto que os seus homens provocaram em Brasília.
A quantidade de indivíduos que o general Furtado põe a viajar com o Presidente da República sugere, de imediato, que alguém na Casa de Segurança tira proveito disso.
A tomada de posse de Luís Inácio Lula da Silva foi rodeada de máximas medidas de segurança.
Qualquer pessoa sensata sabe que as autoridades brasileiras não confiariam a segurança da cerimónia a agentes estrangeiros.
A galheta (muito leve para o “tamanho” do abuso) que o brigadeiro Barba Branca, chefe adjunto da Unidade de Segurança Presidencial, tanto implorou ao activista angolano foi-lhe dada muito longe da área reservada aos convidados de Lula da Silva.
Donde, fica evidente que o general Furtado usa as viagens oficiais do Chefe de Estado ao exterior como subterfúgios para passeios dos seus homens. Por acção directa do general Furtado, o erário suporta, com milhões de dólares, passeios e férias de funcionários e dependentes da Casa de Segurança.
Além do desperdício de dinheiro, não é de descartar alguma relação entre o novo e doloroso revés diplomático do Presidente João Lourenço e os incidentes que a turma de ociosos do general Furtado protagonizou em Brasília.
Além do escândalo em que se envolveram, do qual, como já se referiu, resultou uma leve galheta ao 2º Comandante da Unidade de Segurança Presidencial, em todo o caso suficiente para levar o homem ao tapete, os indivíduos interrogados pela Polícia Civil de Brasília viram as suas identidades publicadas, o que os expõem a perigos.
Nos países sérios e maduros, membros da segurança presidencial têm a identidade devidamente resguardada.
Depois do que se passou em Brasília, os vizinhos e outras pessoas ficaram a saber que António Joaquim Gomes, Edna do Amaral Simosa, Bartolomeu Cassoma e outros pertencem ao corpo de segurança do Presidente da República. E isso é perigoso tanto para os próprios como para o Presidente da República.
Por causa do lamentável episódio, os angolanos ficaram a saber que corre também por conta do seu bolso os cartões SIM locais atribuídos a todos os turistas que foram a Brasília. Nos registos da Polícia do Distrito Federal de Brasília consta que o fotógrafo do CIPRA, Adilson Agostinho, e a assistente de imprensa Josina Chivangu também tiveram participação activa nas escaramuças.
Nada dado a assumir os erros próprios, o chefe da Casa de Segurança do Presidente da República viu nos vergonhosos acontecimentos de Brasília uma oportunidade de sacudir a água do seu capote e endossar as responsabilidades à UNITA.
Num grupo de Whatsapp de que é membro, Furtado “descobriu” que o “vosso (da UNITA?) plano estratégico traçado aquando das eleições continua em marcha”.
E numa desmonstração de que deve ter um olho morto, Furtado ignorou completamente a ida à delegacia policial de todos os seus turistas e viu, apenas, o “lumpeno” (lúmpen, general) a ser “detido e levado na jaula do porta malas do carro da polícia”.
Além de transformar as viagens presidenciais em excursões para turistas seus dependentes, o que já é motivo bastante para ser imediatamente demitido, Francisco Furtado não honra a alta patente que lhe coube. Um general – e ele está entre os poucos que têm 4 estrelas – não deveria usar as redes sociais para espalhar calúnias e insultos.
É muito improvável que Francisco Furtado tenha noção do que seja, mas a um general é exigível recato.
A defesa que faz, nas redes sociais, dos “muchachos” que enviou ao Brasil, comprova que o chefe da Casa de Segurança do Presidente da República não é homem de assumir as suas responsabilidades.
Depois do que sucedeu no Brasil, com muito provável influência na decisão de Lula de cancelar, em cima da hora, o encontro com o Presidente angolano, o chefe da Casa de Segurança não deveria esperar pela demissão. Deveria tomar a iniciativa de colocar o cargo à disposição do Presidente da República.
Mas, uma decisão dessa natureza requer apreço pela honra e dignidade pessoais. Valores que alguns desdenham.
Em Maio de 2021, apesar de todas as evidências que apontavam para a iminência da sua demissão, o general Pedro Sebastião manteve-se agarrado ao cargo. Resultado: acabou quase “arrastado” até à porta de saída.
E como não há duas sem três…
Aliás, por mais que goste dele, o Presidente da República está perante uma situação em que não pode contemporizar com o general Francisco Furtado.