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Terça, 11 Janeiro 2022 17:57

Taxistas angolanos suspendem greve e denunciam detenções arbitrárias

As associações de taxistas angolanos anunciaram hoje a suspensão da greve iniciada na segunda-feira, denunciando a detenção pelas autoridades de mais de uma centena dos seus filiados.

A decisão foi anunciada pelos líderes das três organizações que convocaram a paralisação dos serviços, Manuel Faustino, da Associação de Taxistas de Luanda (ATL), Francisco Paciente, da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA), e Rafael Inácio, da Associação dos Taxistas de Angola (ATA).

Segundo Francisco Paciente, os taxistas estão a ser alvo de perseguições durante a paralisação, nomeadamente todos os secretários das associações, estando acima de 100 o número de pessoas detidas e levadas a julgamento sumário.

“Apelamos ao comando geral da Polícia Nacional para que proceda o seu trabalho no estrito cumprimento da lei”, referiu Paciente, salientando ainda que “as pessoas estão a ser caçadas nas respetivas placas de táxis [locais de concentração] e a serem obrigadas a trabalhar”.

O dirigente associativo informou ainda que taxistas que se recusaram a trabalhar na segunda-feira e hoje “são detidos, agredidos e ameaçados de morte”, para os forçar a voltarem à atividade.

“A polícia é uma instituição do Estado angolano, que deve primar o seu trabalho nos termos da lei e nenhum deles até agora foi detido sob mandado de captura, apenas estão a ser escorraçados, detidos, feito animais”, afirmou.

O presidente da ANATA frisou que o único objetivo da paralisação são reivindicações económicas e sociais dos associados, demarcando-se e condenando uma vez mais os incidentes ocorridos segunda-feira, na zona de Benfica, que provocaram danos materiais.

“Nós orientamos mais de 40.000 taxistas, divididos em ‘staffs’, frotas e singulares, para fazer uma paralisação pacífica, sem agressão a quem não aderisse, e foi o que aconteceu ontem no primeiro dia da paralisação”, indicou, lamentando o posicionamento de alguns órgãos de comunicação social públicos, que “prestaram um péssimo trabalho”, informando que não haveria greve.

O líder associativo revelou que, fruto da informação de órgãos públicos, as pessoas saíram à rua contando com os serviços, deparando-se com a situação da falta de táxis.

“Porque os mecanismos que utilizamos para convocar os taxistas não foram os órgãos de comunicação social públicos, que já fecham as portas às associações desde há algum tempo”, disse.

“Esta mentira grosseira de alguns órgãos de comunicação social foi o que provocou aquela situação de pessoas supostamente aborrecidas pela falta de táxi e, com algum aproveitamento de quem não sabemos, protagonizaram os incidentes que ouvimos no Benfica”, acrescentou.

Face à preocupação e interesse da governadora da província de Luanda em dialogar com as associações, prosseguiu Francisco Paciente, fica suspensa a greve, “para dar lugar ao diálogo”, o que poderá ocorrer ainda hoje ou quarta-feira, tendo em conta que “talvez tenha sido enganada quando foi informada que conversaram com os líderes das associações”.

“Olhando pelo número de detidos até agora e as promessas e ameaças que estamos a receber de alguns agentes da ordem e a maneira como agridem os nossos colegas a partir das vias públicas e das placas de táxis poderemos voltar a marcar uma nova paralisação nos próximos dias, mas vamos dar lugar ao diálogo a partir de hoje”, sublinhou.

Por sua vez, Rafael Inácio faz fé que as coisas corram bem e que os associados “que realizaram a paralisação de forma pacífica” possam ser libertados.

O líder da ATA explicou que muitos associados foram detidos por se recusarem a carregar passageiros, informando que os “taxistas estão a ser caçados em casa, alvo de ameaças e de constantes ligações”.

A continuidade destas detenções, avançou Francisco Paciente, pode ser motivo para uma nova paralisação.

“Porque os taxistas não vão aceitar ouvir que um determinado líder está detido sem mandado de captura, sem qualquer procedimento que a lei admite sobre a detenção”, apontou Paciente, denunciando que na segunda-feira muitos dos seus colegas “foram muito maltratados, barbaramente espancados”.

“Estive até às 23:00 de ontem [segunda-feira] no Hospital Américo Boavida, onde um dos secretários da ANATA estava descalço, numa cadeira algemado e a apanhar o soro, sem direito à água nem à sopa que os familiares queriam lhe dar e este doente está agora no Tribunal Dona Ana Joaquina, portanto, o que estamos a verificar não tem nada a ver com um Estado democrático de direito, esperamos que se corrija isso para que não chegue aos mais de 40.000 taxistas só de Luanda e do universo do país”, reforçou.

Já Manuel Faustino disse que a decisão da greve não tem a ver apenas com a questão da lotação (antes limitada a 30% da capacidade devido à pandemia de covid-19 e que, segundo o Governo, passou novamente a 100%), como se fez crer, mas sim com reivindicações que se arrastam há alguns anos.

De acordo com o presidente da ATL, o caderno de reivindicação tem sete pontos e apenas o da lotação foi atendido e negociado com pessoas alheias às associações, os quais tratou de “impostores”.

“Esperávamos que essas três [associações] fossem também chamadas para qualquer posição do Governo, aliás, a sensibilidade que nós todos temos é conjunta e unânime. Se o Governo, tivesse simplesmente em condição de resolver um único ponto, mas [negociasse] com as pessoas próprias, nós levantaríamos a paralisação, o infeliz foi ter chamado indivíduos que nada têm e conhecem e mal sabiam explicar os motivos”, disse Faustino.

À parte a questão da lotação, o líder da ATL considerou mais urgente resolver a relação entre taxistas e polícias, caracterizada pela “falta de respeito” das autoridades.

“Os nossos taxistas querem ações concretas e o que acontece é que politizam muito as coisas. [Isso] deixa os nossos taxistas tristes, enfurecidos, agastados. Temos taxistas que exercem a atividade há mais de 25 anos e são excluídos de forma direta, nunca é tido e nem achado”, salientou Rafael Inácio, lamentando a exclusão dos taxistas das políticas públicas do Estado e não materialização da profissionalização da atividade.

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