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Segunda, 15 Março 2021 15:37

"O povo não vai mais ser surripiado" – Novo líder da IURD em Angola

O coordenador da Comissão de Reformas da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Angola, Bispo Valente Bizerra Luís, afirmou, em Luanda, que esta instituição passará a incorporar, nos seus programas, acções de carácter social e económica, canalizando melhor as ofertas dos fiéis. 

Em entrevista à ANGOP, a propósito da reabertura dos templos da congregação, o religioso afirmou que, doravante, os fiéis participarão com as suas ofertas e oferendas de forma consciente e sem coação, "como se verificava, por exemplo, na campanha da fogueira santa".

Durante a entrevista, adianta que têm em carteira a construção de uma universidade ou instituto superior, além de escolas de ensino primário, com enfoque nas provinciais em que a necessidade urge.

Valente Bizerra Luís fala em nova era na IURD Angola e diz ser propósito da igreja participar, igualmente, na construção de centros médicos e outros projectos ainda por identificar.

Neste diálogo com o jornalista Venceslau Mateus, o novo representante legal da Igreja Universal de Reino de Deus em Angola fala do processo de reconciliação e da nova linha de evangelização,  afirmando que males como a vasectomia e a evasão fiscal já fazem parte do passado.

Eis a íntegra da entrevista:

ANGOP – As autoridades angolanas já reconheceram a vossa comissão de gestão como a única interlocutora válida para tratar dos assuntos da IURD Angola. Como tem sido a sua aceitação, nestes primeiros meses?

Valente Bizerra Luís (VBL) - A liderança brasileira esteve por quase trinta anos na gestão da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola, tempo suficiente para criarem fortes laços emocionais, de família e até para engendrarem compromissos financeiros com determinados fiéis e individualidades angolanas. O fim do vínculo com aqueles irmãos subentende frustrar sonhos e projectos dos seus próximos, que não esperavam tal ruptura. A título de vingança, estes indivíduos têm vindo a montar estratégias, com a finalidade de instigarem a desordem social, enganarem os membros e desacreditarem a nossa missão, mas a presença massiva dos fiéis nos cultos neste domingo (14 de Março), quer nas cinco catedrais em Luanda, quer em outras nove províncias de Angola, é sinónimo de uma resposta positiva da actual gestão. É um sinal evidente de que estamos próximos da meta (reconciliação total).

ANGOP – Recentemente, o ministro da Cultura, Turismo e Ambiente apelou aos fiéis que não se revêem na Comissão de Reforma para encetarem conversações com a sua liderança. Já há algum contacto neste sentido com a anterior direcção?

VBL: Desde o início do diferendo, desencadeamos várias tentativas de diálogo, reconciliação e unidade. Recorremos à intervenção das instituições vocacionadas para o efeito, a fim de termos uma negociação dos termos constantes do manifesto pastoral, mas não tivemos êxito. Recorremos ao Conselho de Igrejas Cristãs em Angola (CICA), na pessoa da sua secretaria-geral, a Reverenda Deolinda Dorcas Teca, e ao Fórum de Igrejas Cristãs, na pessoal do seu presidente, Reverendo Luís Nguimbe. Não nos limitamos às associações cristãs, procuramos também o socorro do Estado angolano, através do Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos (INAR), na pessoa do seu director, Castro Maria. Os anciãos da igreja tentaram, sem sucesso, um encontro com o Bispo Honorilton, mas este disse, em resposta, que se não estavam confortáveis com a gestão brasileira, fossem procurar outra congregação. Ao nosso nível, o bispo Felner Batalha enviou carta ao Bispo Edir Macedo, narrando,   pormenorizadamente, os problemas que a instituição enfrenta no país, onde a IURD está implantada, como forma de salvá-la. Esta tentativa, além de fracassada, custou o cargo do Irmão Felner Batalha, que foi de seguida convidado a abandonar o bispado. Em véspera das assembleias, endereçamos convites a alguns irmãos angolanos para integrarem a lista dos ministros de culto, mas eles publicamente achincalharam a nossa boa intenção e declinaram o convite. Não quero, com este argumento, indispor a contínua tentativa de proximidade, mas é um processo que depende das duas partes.

ANGOP – Diante deste quadro, acredita que ainda haja condições objectivas para falarem em verdadeira reconciliação dentro da IURD Angola?

VBL: Os pilares do cristão são o amor, o gozo, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão e o domínio próprio. Contra estas coisas não há Lei, Gálatas 5:23, estes são os frutos de quem nasceu do Espírito Santo. Contrário a estes, pode-se dizer que o indivíduo nasceu de outro. Portanto, apesar de termos sido rotulados por rebeldes, endemoninhados e outros adjectivos que não nos dignificam, de sermos chamados de macacos pelo Bispo Edir Macedo, que proferiu maldição e publicamente desejou a nossa morte, juntamente com as nossas famílias, mesmo assim a nossa mensagem é sempre de perdão, reconciliação e paz. A nossa fé diz-nos que em breve estaremos a cultuar juntos, porquanto acreditamos que os nossos irmãos são homens e mulheres nascidos de Deus.

ANGOP – Desde o começo das denúncias públicas, a Comissão de Reforma da IURD bateu-se muito para acabar com a prática de vários crimes supostamente cometidos na igreja. Nesta altura, já há elementos suficientes para afirmar que a vasectomia, a evasão fiscal e outros delitos sejam, de facto, coisas do passado?

BVL – (…) Risos. A nossa presença em público no dia 28 de Novembro de 2020, que culminou com a presentação do manifesto pastoral, deveu-se, exactamente, a estas razões, então como teríamos permitido a presença das mesmas práticas na actual gestão? Estes males, tal como bem colocou, fazem parte do passado. Carregamos apenas as marcas de um pai que não poderá carregar um filho biológico nos seus braços, de uma mãe condenada a nunca amamentar um filho, por ter tido o útero virado, enfim,  nenhum deste males vai ter reflexo na nova IURD.

ANGOP – A IURD Angola começou a reabrir faseadamente os seus templos, neste domingo (14), depois de oito meses encerrados. Qual é a expectativa dos fieis?

VBL: A expectativa foi tamanha. A alusão dos fiéis aos cultos, como fiz referência, é prova disto.

ANGOP - Daqui em diante e depois da reabertura dos locais de culto, o que a vossa direcção se propõe realizar, em termos de projectos sociais e económicos?

VBL - Em verdade, o paradigma mudou, sobretudo na vertente económica. O povo não vai mais ser surripiado como no passado, vai participar com as suas ofertas de forma consciente e sem sentir-se psicologicamente coagido, como se verificava na campanha da fogueira santa, por exemplo. Quero, no entanto, dizer que alguns projectos poderão encontrar entraves na sua execução em tempo record, outros poderão ser irrealizáveis devido à componente financeira, porquanto vamos priorizar um evangelho que leve o crente a garantir a sua salvação, sem ter como foco a componente financeira.

Mas para responder a questão, temos em carteira e como pontapé de saída, a construção de uma universidade ou instituto superior, cujo projecto e o espaço já existem. Vamos ainda, junto dos governos provinciais, construir escolas de ensino primário, com enfoque nas provinciais em que a necessidade urge. Queremos participar na construção de centros médicos e outros projectos ainda por identificar.

No contexto interno, pretendemos devolver a dignidade ao pastor, por ser o ganhador de almas, pelo que deve transpirar a paz e tranquilidade. Desta feita, estaremos mais próximos dos pastores, participando direita e indirectamente nos principais problemas ao longo do percurso. Prevemos construir creches e infantários para os filhos do pastores, obreiros e membros, enfim, desencadearemos estudos para descoberta de novos desafios. E como forma de devolver mais dignidade ao membro, vamos construir templos nas províncias onde não têm ou são por aluguer. Portanto, este e outros projectos, que a seu tempo iremos divulgar, fazem parte da actual política de gestão.

ANGOP – Mas que passos concretos já foram dados nestes domínios?

VBL - Alguns dos projectos enunciados fazem parte da antiga linha de forças e dos regulamentos da igreja e nunca foram materializados pela ambição humana. Isso quer dizer que vamos apenas aprimorar e adequar, com base na actual conjuntura económica que o mundo está a viver. Por outro lado, todo o projecto que se torna material tem a base teórica, pelo que quero, nesta perspectiva, dizer que começamos hoje a trabalhar activamente.

ANGOP - Quais são as metas estabelecidas, se é que podemos falar de metas?

VBL - Falar de metas, tal como frisou, é jogar no escuro. A igreja está inserida na sociedade e a alavanca de qualquer projecto são fundos a si alocados, portanto, estimar metas é optar pela inverdade. Porém, contrariamente a isso, a nossa fé diz-nos que, alguns dos projectos que enumeramos começarão a ser materializados antes do previsto.

ANGOP – Para terminar, uma mensagem à comunidade da IURD Angola, depois de todas as contrariedades que a vossa igreja enfrentou desde 2020.

VBL - Deus, quando derramou o Espírito Santo aos discípulos do Senhor Jesus Cristo que se encontravam reunidos no dia de Pentecostes, não olhou para raça, cor ou etnia, o único critério foi a entrega de cada um. Pensar que a unção reside na cor da pele, na raça ou etnia é demonstração de que este irmão não alicerçou a sua fé na palavra de Deus. A glória da segunda casa é maior que a da primeira, estamos a crer que Deus tem muitas bênçãos para derramar na vida de quem vier a ele de coração sincero. As portas dos templos estão abertas todos os dias, e nela um homem de Deus para ministrar a cura, a bênção, a restauração de casamentos e todo o tipo de socorro espiritual.

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