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Segunda, 30 Outubro 2017 12:44

Massano regressa com as reservas internacionais 35% abaixo do que deixou

João Lourenço afasta Valter Filipe do BNA, recolocando no seu lugar o bancário José de Lima Massano, quando as divisas estão mais escassas e as reservas internacionais a baixarem a 35% desde que este as deixou em 2015. Analistas apoiam, ao VALOR, decisão presidencial e falam em “honrar de palavras” da parte do PR.

O Banco Nacional de Angola (BNA) tem, desde a tarde da última sexta-feira, um novo governador, José de Lima Massano, que substitui no cargo o jurista Valter Filipe, de acordo com um comunicado da Casa Civil do Presidente da República, distribuído à imprensa.

O novo governador chega ao banco central numa altura em que os recursos em moedas estrangeiras não param de cair e as reservas internacionais líquidas (RIL) a rondarem os 15,6 mil milhões de dólares, menos 35% do que as margens do período em que José Massano largou o comando do BNA. Massano é recolocado no banco central dois anos depois de ter saído,“a seu pedido”, e deixa, assim, o Banco

Angolano de Investimento (BAI), onde assumiu, até à tarde da última sexta-feira, a posição de presidente da comissão executiva, entidade que já é a segunda maior no ‘ranking’ da banca nacional por activo, com 1,3 biliões de kwanzas.

Até à tarde da última sexta-feira, o agora exonerado Valter Filipe caminhava para o vigésimo mês à frente dos destinos do banco central, onde chegou por indicação do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, em Março do ano passado.

A exoneração apanha Valter Filipe no encalço da implementação de dois programas no BNA, focados na “reestruturação orgânica” e na “adequação do sistema ­financeiro nacional às normas e boas práticas internacionais”.

Nem estas medidas pesaram na avaliação da continuidade do gestor no banco central.

As de reformas da casa da moeda nacional apenas foram apresentadas, aliás, nos dias antes e a seguir ao discurso do PR sobre o estado da Nação, que deixou ‘a nu’ a gestão do BNA, sobretudo no que toca à distribuição das divisas.

De acordo com João Lourenço, o diferencial entre os mercados primário e informal de divisas é “bastante signi­ficativo”, o que, na visão do PR, terá levado a uma segmentação do mercado cambial cujas “consequências mais importantes são a pressão sobre as ­finanças públicas e a balança de pagamentos e o seu efeito negativo no crescimento do sector produtivo do país.

Às consequências, João Lourenço somou a contracção aculmulada das reservas internacionais líquidas (RIL), entre 2013 e o segundo Trimestre de 2017, a um nível de 46,4%,, como “consequência dos sucessivos dé­ces da balança de pagamentos, que, por sua vez, resultaram, essencialmente, da diminuição do valor das exportações petrolíferas”.

Exoneração anunciada

Assim, o recém-eleito PR não viu outras medidas, senão o anúncio, embora implícito, de uma possível mexida no governo do BNA, medida apoiada, aliás, por analistas ouvidos pelo VALOR. “Pelo importante papel que desempenha em qualquer economia, em particular no seu sistema bancário, não descansaremos enquanto o país não tiver um banco central que cumpra estritamente e de forma competente com o papel que lhe compete, sendo governado por profi­ssionais da área”, sentenciou Lourenço, naquilo que passou a ser visto como a ‘morte anunciada’ de Valter Filipe à frente do BNA.

Para o consultor ­financeiro Galvão Branco, já era “expectável” a movimentação de Valter Filipe. Este gestor empresarial diz mesmo que o “pior seria não afastar” o agora exonerado Valter Filipe, além de repisar no facto de que a exoneração “em nada interferiria nos programas de reestruturação orgânica em curso no banco central.

“A exoneração não afecta em nada a aplicação dos programas da anterior administração. As pessoas têm a sensibilidade de ponderar. Acho que [a exoneração] não tem algum tipo de interferência. Eu penso que isso agrega maior valor em matéria de competência.

Não creio que haja qualquer tipo de impacto negativo, nem mesmo na assistência técnica do FMI”, defendeu o analista e dono da GB-consultores.

Mercado “ganha”

A fazer coro está o economista Rui Malaquias. Para este, João Lourenço apenas cumpriu com as palavras no discurso sobre o ‘estado da Nação’. “Em princípio, com a alteração de Valter Filipe por José Massano, que já lá esteve no BNA, o presidente está a ser fiel às suas palavras.

Está a fazer aquilo que ele já tinha dito: que não estava satisfeito com as divisas que estavam a ser alocadas. Nenhum grupo devia ser beneficiado, e, no entender dele [do Presidente], é isto que estava acontecer”, considera Malaquias, para quem a escolha de José Massano para o posto de governador é um “ganho” para o sector, a avaliar pela experiência deste no ramo.

Com o afastamento de Valter Filipe e o regresso de José Massano, completa seis, desde 2002, o número de alterações no comando do banco central. Nesse período, passaram pelo BNA Amadeu Castelhano Maurício, Abrahão Gourgel, José Massano (que regressa a casa), José Pedro de Morais e Valter Filipe.

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