Segunda, 18 de Agosto de 2025
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Segunda, 18 Agosto 2025 16:56

Crise de liderança na FNLA passa por mudança geracional - analistas

Uma solução para o fim da crise interna na FNLA passa, necessariamente, pela entrega da liderança a novas gerações e a políticos sem 'traços umbilicais' com o passado de guerrilha.

Esta é a conclusão a que chegaram os analistas políticos David Mendes, Alexandre Sebastião e Eurico Gonçalves durante o debate radiofónico, sábado, no Programa Tribuna Livre, em que foi analisada, também, a preparação do 14º Congresso da UNITA, anunciado pelo líder do partido, Adalberto Costa Júnior, na província do Icolo e Bengo, por altura das celebrações do 91º aniversário de nascimento do presidente fundador do partido, Jonas Savimbi.

Para o analista David Mendes, a causa da FNLA era a independência, e o partido fundado por Holden Roberto tinha um "slogan" que, para si, era dos melhores: "liberdade e terra".

"Você pode ter liberdade, mas se não tiver terra, não tem nada. Você pode ter terra e se não tiver liberdade, também, não tem nada. E este slogan atraiu muito boa gente", adiantou-se a argumentar o, também, advogado David Mendes.

As gerações anteriores, que conduziram a FNLA ao período antes da Luta de Libertação Nacional, após esta luta e aos primeiros anos de independência, acrescentou David Mendes, tiveram pouca preparação política.

"Perderam a vida nas matas. Perderam a juventude a lutar pela independência do país. Acontece que este país, por qual lutaram e tudo deram, não soube compensá-los", disse, afirmando que muitos destes antigos combatentes estão reduzidos à miséria.

"E acho que não é para isso que eles lutaram. Lutaram para que vivessem bem, mas estão remetidos à miséria. Sentimos isso, não só na FNLA, também na UNITA", lamentou.

David Mendes deplorou, ainda, a crise instalada na FNLA, lamentando o facto de isso estar a acontecer naquela que considerou "a maior força militar de Angola" na luta contra o regime colonial.

"O maior combate às tropas coloniais foi travado pela FNLA. Mas, começou a ter problemas depois da derrota na Batalha de Kifangondo. A partir do momento em que a FNLA perde na grande derrota de Kifangondo, deixou de ser a mesma coisa. Holden Roberto exilou-se, e os quadros notórios da FNLA emigraram para o MPLA", explicou.

No mesmo diapasão alinhou o político Alexandre Sebastião, que sublinhou estar a constatar que os "partidos tradicionais" estão presos àquela mentalidade do início e desenvolvimento da Luta de Libertação Nacional.

"A convicção de que são os donos do partido, que têm os movimentos de libertação de Angola, não permite novas gerações. Bloqueiam a ascensão das novas gerações", sustentou Alexandre Sebastião.

O político fez menção, ainda, a uma alegada carta de Nimi a Nsimbi que vazou, argumentando ser "uma questão que está a ser tratada internamente, em razão da ausência, por razões de saúde, do próprio presidente, facto que admite estar a inviabilizar a reunião do Bureau Político e, também, do Comité Central da FNLA.

"A FNLA carece, de facto, de uma renovação. É preciso renovar este partido. É um partido histórico, que deu o seu 'cabedal' para a libertação deste país, e não pode estar a desaparecer assim", acentuou.

Congresso da UNITA com várias candidaturas

O facto de o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, ter anunciado a preparação do partido para realizar o 14º Congresso, com múltiplas candidaturas, mereceu, também, a análise no debate da Rádio Correio da Kianda.

Sobre o assunto, David Mendes admitiu que não espera que a UNITA faça um congresso à altura do partido, que seja "congregador e capaz de suprir as divergências internas".

O, também, advogado referiu que, hoje, já não se esconde que a UNITA tem dois grupos, o "adalbertista" e o "grupo de resgate".

"Isso já não se esconde. Agora, cabe a quem está a liderar o partido congregar estes dois grupos e torná-los num único, porque com a saída do Abel Chivucuvuku da Frente Patriótica Unida, a UNITA vai ter que concorrer sozinha e não vai ter o apoio do Abel", sublinhou, admitindo ainda que "a UNITA dividida é uma derrota já programada".

O especialista em Assuntos Políticos Eurico Gonçalves admite que o discurso do líder da UNITA, Alberto Costa Júnior, proferido na província do Icolo e Bengo, deixa transparecer um momento de campanha política antecipada.

"Já é a campanha. Porque ele lança as farpas para os adversários, para os concorrentes internos na UNITA, ou seja, para os concorrentes endógenos a nível da UNITA, e também exógenos, ou seja, externos à UNITA", afirmou, reconhecendo que Adalberto Costa Júnior conseguiu a maior proeza eleitoral da UNITA.

"Conseguiu 43 por cento dos votos em 2022. E, obviamente, superou a marca até no tempo de Jonas Savimbi, como tenho dito. Jonas Savimbi alcançou, na altura, em 1992, apenas 34 por cento para a UNITA", esclareceu.

Em face disso, Eurico Gonçalves reforçou que o actual líder do maior partido na oposição está a trabalhar já no sentido de criar as condições para ganhar o voto de confiança dos delegados ao Congresso.

"Nestas eleições, que acontecem no Congresso da UNITA, temos pesos pesados. Não temos 'formigas trabalhadoras', nem 'puxa-sacos', mas pesos pesados como Massanga Savimbi e outros jovens, porque, na verdade, a política angolana requer rejuvenescimento", disse.

Alexandre Sebastião, por seu lado, discordou ser uma luta entre a nova e a velha geração, argumentando que os pretendentes ao "cadeirão" da liderança da UNITA são quase todos jovens.

" Adalberto é jovem, Massanga Savimbi é jovem, e tantos outros. E estão de parte aqueles que pudessem ser remetidos ao campo arável para produzir batata-doce e milho", ironizou, fazendo menção a algumas das palavras proferidas por Adalberto Costa Júnior, em Icolo e Bengo.

"Portanto, é uma luta interna positiva até. É positiva para cada um se forja e vai ganhando experiência para os desafios sucessivos", acrescentou.

Alexandre Sebastião lembrou que a UNITA, com Adalberto Costa Júnior, teve um resultado estrondoso nas últimas eleições, e que "ameaçou as hostes do poder com a concorrência da FPU".

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