Em Angola, vários candidatos preparam-se para suceder a João Lourenço na chefia do MPLA e, sobretudo, no cargo de Presidente da República.
Um deles é o General Higino Carneiro, talvez o candidato menos desejado por João Lourenço. O presidente do partido no poder terá outras preferências, dizem comentadores e observadores ouvidos pela DW.
Há quem afirme que João Lourenço esteja a ponderar lançar a própria esposa para a corrida. E há também quem afirme que o maior desejo do de Presidente de Angola seria candidatar-se, ele próprio, a um terceiro mandato, tendo para isso que alterar a Constituição.
Mas essa última hipótese não é muito provável, uma vez que João Lourenço não dispõe de apoios suficientes no Parlamento para alterar a lei base da República de Angola.
Em entrevista à DW, Agostinho Sikatu, diretor do Centro de Debates e Estudos Académicos, uma organização não governamental angolana que se dedica precisamente à promoção do debate político e ao fortalecimento da democracia no país, diz que nomes como o do ministro de Estado e Chefe da Casa civil, Adão de Almeida; do ministro do Interior, Manuel Homem; da vice-presidente do MPLA, Mara Quiosa e até mesmo da própria esposa do Presidente, Ana Dias Lourenço, estão na lista dos favoritos de João Lourenco para a sua sucessão.
DW África: João Lourenço e o MPLA têm pela frente grandes desafios. Quais concretamente?
Agostinho Sikatu (AS): O MPLA tem dois desafios. O primeiro é a transição geracional. Portanto, precisa fazer a transição de uma geração para outra. E o outro desafio é manutenção do poder. Portanto, estes são dois desafios que o MPLA enfrenta nesta altura.
DW África: Há várias pessoas que já se posicionaram para suceder a João Lourenço. Estou a referir-me ao General Higino Carneiro, por exemplo. O que é que há a dizer sobre essa pessoa?
(AS): São, de facto, vários candidatos. O próprio Presidente também já deu monstras que tem preferência por uns e não por outros.
DW África: E quais, de facto, são as preferências de João Lourenço, pode adiantar nomes?
(AS): Nota-se que esteja a preparar o atual ministro de Estado e Chefe da Casa civil, Adão de Almeida. Mas também, ao mesmo tempo, tem outra figura que tem estado a se destacar, que é o atual ministro do Interior, o Manuel Homem. Para além deste, surgiu recentemente outra senhora, que é atual vice-presidente do MPLA, portanto, a Mara Quiosa. Há quem diga que pode apostar até na sua própria mulher, Ana Dias Lourenço. Portanto, está um jogo ainda baralhado.
DW África: Voltando ao general Higino Carneiro, é o candidato que mais se tem perfilado, digamos. E é um candidato que não agradará ao atual Presidente João Lourenço?
(AS): Em relação a Higino Carneiro, é uma das figuras que tem alguma representatividade dentro do próprio MPLA. É uma daquelas figuras que representa um grupo que se sente órfão de José Eduardo dos Santos. Portanto, quer restaurar a ala anterior de militares, aquele grupo daqueles militantes mais conservadores do próprio MPLA. É aqui onde choca com o atual presidente do MPLA, que já mostrou por todos os factos que não quer que Higino Carneiro seja o seu substituto. Portanto, mostrou que tem preferência por outro, menos o Higino Carneiro.
DW África: Haverá ainda hipóteses de João Lourenço voltar a candidatar-se à Presidência da República? Há, em teoria e na prática, essa possibilidade?
(AS): Em teoria, há sempre a possibilidade. Porque em África, infelizmente, os líderes, quando pretendem continuar no poder, utilizam um instrumento importante, que é a alteração da Constituição. Portanto, na teoria, a possibilidade para o Presidente João Lourenço de candidatar-se para um terceiro mandato passaria necessariamente por uma alteração constitucional - o que nesta altura, do ponto de vista do calendário político, é quase que sem tempo. Porque hoje a oposição tem uma representação maior, o MPLA, em si, não consegue alterar a Constituição. Portanto, precisaria de uma parte dos deputados dos partidos na oposição. Isto é que faz com que, na prática, esta intenção, a princípio, caia por terra.