"Antevemos que o governo do Presidente [angolano] João Lourenço vá continuar a aproveitar-se do renovado interesse geopolítico em África, ao mesmo tempo que mantém os fortes laços com a China, o seu principal e tradicional parceiro económico", escrevem os analistas desta consultora detidas pelos mesmos donos da agência de notação financeira Fitch Ratings.
Numa análise ao risco político do país, enviado aos clientes e a que a Lusa teve acesso, a BMI Research diz que o renovado interesse norte-americano neste país lusófono e na região "trouxe pelo menos dois mil milhões de dólares [1,8 mil milhões de euros] em investimentos na energia, telecomunicações e infraestruturas ferroviárias" e acrescenta que vê "mais investimentos nestes setores nos próximos trimestres".
Ao mesmo tempo, notam, "Angola procurou manter as atuais relações bilaterais com a China, assegurando a ausência de taxas aduaneiras no acesso aos mercados chineses para 98% dos produtos tributáveis, com efeitos a dezembro de 2023".
Neste contexto, a consultora prevê que "os esforços diplomáticos de João Lourenço vão continuar a garantir benefícios económicos para Angola, de uma perspetiva de investimento e comércio".
Na análise a outros pontos que podem alterar a perceção de risco político do país, a BMI Research considera que a liberalização interna vai "avançar lentamente" e vincam que a sua previsão aponta para que a retirada dos subsídios aos combustíveis continue, apesar da contestação popular.
Ainda assim, "o ambiente operacional de Angola continua relativamente pouco atrativo, a perceção de corrupção continua elevada, e o descontentamento popular vai continuar grande", prevê a BMI Research.
"Num contexto de espaço orçamental limitado para um estímulo fiscal e uma fraca perspetiva de crescimento da economia, que prevemos de 1% este ano e 1,4% em 2025, bem abaixo da média de 5,3% de 2010 a 2014, e com um crescimento populacional de 3,1%, é provável que haja mais protestos, mas não antevemos que evoluam para perturbações em larga escala, ao ponto de representarem qualquer ameaça para o governo, até porque as manifestações teriam uma resposta muito dura do forte aparelho de segurança angolano", afirmam os analistas.
A médio prazo, ainda assim, "o enfraquecimento do apoio eleitoral ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) coloca riscos à sua continuidade a médio prazo".
Os analistas consideram até haver o risco de o MPLA "perder a maioria no parlamento", nomeadamente porque "o PIB per capita tem estado em queda desde 2014 e só deverá voltar a crescer novamente em 2027, alimentando a perceção de degradação das condições de vida e de má gestão económica por parte do governo liderado pelo MPLA".