É um sobe-e-desce que não agrada nada aos angolanos. O poder de compra diminui cada vez mais e a inflação não para de subir. Educação, alimentos, transportes – está tudo mais caro e deverá ficar ainda mais.
O partido que suporta o Governo, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), diz ter conhecimento da situação e promete mais uma vez "resolver o problema do povo". "Há um compromisso muito grande pelo líder do partido, que é o Presidente de todos os angolanos, Presidente da República e do Executivo que lidera, em tudo fazer para possamos reverter o quadro", disse há poucos dias a secretária do Bureau Político para a Política Social do MPLA, Maricel Capama.
Em setembro, a taxa de inflação rondou os 15%. Para o próximo ano, o Executivo de João Lourenço prevê uma subida da inflação para 16,6%. São números que vão na direção contrária do que está previsto no programa de Governo. A promessa é, até 2027, "reduzir para um dígito a taxa de inflação, em convergência com os compromissos dos processos de integração económica regional".
O partido no poder insiste que os problemas económicos e financeiros no país são de conhecimento público – há um alto endividamento externo e uma forte dependência das exportações de petróleo, que expõe a economia angolana às constantes flutuações de preços no mercado internacional. E o cenário internacional não tem ajudado, refere Maricel Capama:
"Continuamos um país petrodependente, o que faz com que os conflitos que têm acontecido a nível [externo] tenham um reflexo direto nas questões económicas do nosso país. Logo, as questões sociais passam por aquilo que temos estado a acompanhar", admite.
Promessas antigas
Há muitos anos que o Executivo promete combater a petrodependência. No programa de governação 2022-2027 está inscrito o objetivo de "atingir uma taxa de contribuição do setor não petrolífero no PIB de pelo menos 80%, em linha com a diversificação da economia".
O Governo tem vários programas de incentivo à diversificação. A consultora BMI Research informou no final de outubro que as indústrias não extrativas continuam em expansão - 40% no setor financeiro, 5% nas telecomunicações, 2,9% no comércio e 1,4% na construção. Mas a taxa de contribuição dos setores não petrolíferos no bolo total do PIB ronda apenas os 74% e a inflação pode prejudicar este crescimento.
O politólogo David Sambongo sugere mais investimentos públicos - com uma aposta séria na agricultura, na melhoria das estradas e no alargamento da distribuição de energia elétrica - como uma das fórmulas para dar resposta à crise social, devido à diminuição do poder de compra.
"A melhor forma que o MPLA tem para reverter o quadro é efetivamente uma governação que olhe para o interesse nacional", defende.
O Governo prometeu aumentos salariais de 5% para a função pública e um alívio da carga fiscal em 2024, mas os críticos duvidam que só isso chegue para resolver os problemas no país. A pobreza das famílias agrava-se, um ano depois da reeleição do Presidente João Lourenço como Presidente da República.
"Em política, em um ano faz-se muita coisa. Depende muito da vontade política. Precisamos entender, por exemplo, que estamos num quadro em que temos uma elite política fragmentada. É preciso acabar com esta fragmentação", adverte David Sambongo.
Já o vice-presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), Joaquim Lutambi, diz que esperar pelas promessas do MPLA é o mesmo que acreditar em "milagres de falsos profetas".
"Enquanto jovens, não devemos esperar nada deste partido, porque quem não faz nada há mais de 40 anos, não vai fazer em quatro anos. Isso é uma mera ilusão", lamenta.
Lutambi aconselha o partido no poder a implementar brevemente as autarquias em todos os municípios, para que se possa começar a resolver os problemas básicos da sociedade.
"Temos visto problemas que podiam ser resolvidos ao nível do município ou da província a aguardar pelo pronunciamento do Governo central. Não é por falta de condições administrativas e financeiras que não implementa as autarquias, mas porque o MPLA não quer perder a hegemonia política", conclui. DW Africa