A lista elaborada pelo MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola) para concorrer às eleições gerais de agosto consagra a liderança de João Lourenço, confirmando-o como candidato do partido a Presidente da República para cumprir um segundo mandato. Por sua vez, se era dada como certa a saída de Bornito de Sousa da vice-presidência, o nome escolhido para o substituir, Esperança Costa, atual secretária de Estado das Pescas, foi uma surpresa.
Mas não se tratou da única. A ausência da lista do MPLA da ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, causou estranheza. Na versão oficiosa destaca-se o facto de quase nenhum dos atuais ministros integrar a lista (Manuel Nunes Júnior e Carolina Cerqueira são exceções), mas o reverso desta medalha é que a mesma inclui a secretária de Estado das Finanças, Aia-Eza Gomes da Silva. Ou seja, à primeira vista, Vera Daves de Sousa não é vista pelo MPLA como um trunfo eleitoral, pese embora tenha levado a bom porto as negociações com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e sido distinguida com o prémio de Ministra das Finanças do ano nos Prémios African Banker.
Nesta medida subsiste a dúvida: será que o afastamento da ministra das Finanças foi consequência de ter alertado para a circunstância de o Presidente da República não estar a cumprir a lei dos contratos públicos?
Outras duas hipóteses de leitura que circulam relativamente ao afastamento dos atuais ministros são as de que o próximo governo vai ser radicalmente diferente, caso se mantenha a lógica de formação do governo a partir do Parlamento, ou que João Lourenço vai acentuar a separação entre o perfil executivo e o de legislador, a partir da Assembleia Nacional.
Amarguras e sinais de rejuvenescimento
A lista, naturalmente, causou algumas amarguras. Por exemplo, Manuel Nunes Júnior, ministro do Estado para a Coordenação Económica, e Adão de Almeida, chefe da Casa Civil de João Lourenço, acalentavam o sonho de serem candidatos a vice-presidentes e acabaram ultrapassados por Esperança Costa. Por outro lado, Virgílio Fontes Pereira, líder parlamentar do MPLA que ambicionava ser presidente da Assembleia Nacional, viu-se ultrapassado por Carolina Cerqueira. A ministra de Estado para a Área Social, por sua vez, desejava ser candidata à vice-presidência mais foi afastada por, até há pouco tempo, ter mantido a nacionalidade portuguesa.
Um outro olhar sobre a lista do MPLA, que circula anónimo, enfatiza os seus méritos. “Os primeiros 80 lugares representam um profundo sinal de rejuvenescimento. Não há nenhum dos mais velhos antes dessa posição e em contrapartida estão quase todos da nova geração de dirigentes/deputados como Esteves Hilário, António Paulo, Paulo de Carvalho, Agostinho Van-Dunem, etc. Também se destacam em posição elegível os jornalistas Milonga Bernardo, Carolina Fortes e Sara Fialho.”
A certeza, para já, é a de que apesar de as escolhas do comité central não agradarem a todos, os principais rostos do partido vão manter-se unidos até às eleições porque essa será uma variável importante para o MPLA se manter no poder.
Jornal Negócios