A revelação foi feita em entrevista à Lusa pelo embaixador norte-americano, Tulinabo S. Mushingi, dez dias depois de Angola ter recebido a visita do Subsecretário do Tesouro para Terrorismo e Inteligência Financeira dos EUA, Brian Nelson, que se encontrou com várias entidades para discutir o reforço da parceria bilateral, incentivos ao crescimento económico e atração de investidores e luta contra a corrupção.
"Uma das questões que nós discutimos tinha a ver com a luta contra a corrupção. Encontrámo-nos com diferentes entidades incluindo a Procuradoria-Geral da República, o Banco Nacional de Angola, a ministra das Finanças, o ministro de Estado para a Coordenação Económica, e desta visita saiu um resultado concreto, em que já vínhamos trabalhando: o envio de um oficial do Tesouro que vai ficar cá", adiantou o diplomata à Lusa.
O oficial irá proporcionar uma "ajuda técnica", trabalhando em conjunto com o Ministério das Finanças, explicou, indicando que o departamento do Tesouro lida também com assuntos relacionados com a transparência fiscal.
Neste sentido, o especialista em Finanças irá apoiar o desenvolvimento de sistemas "que ajudem a detetar algumas transações que podem ser suspeitas" e na fiscalização do orçamento, e dará igualmente formação aos técnicos que em Angola desempenham estas funções.
Questionado sobre se os EUA estão a colaborar com a justiça angolana em investigações relacionadas com Isabel dos Santos, filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos, e outras figuras ligadas ao anterior executivo, o diplomata sublinhou que a colaboração dos Estados Unidos com Angola não se faz só no plano da luta contra a corrupção e engloba muitas áreas.
"Quando a nossa parceira nos pede para ajudar, em qualquer área, nós tentamos trabalhar com ela", disse o embaixador, realçando que a luta contra a corrupção não é só benéfica para Angola, mas beneficia toda a economia e os próprios Estados Unidos.
"É outra maneira de colaborar com o Governo e o povo de Angola", prosseguiu.
A Administração Biden impôs, em finais do ano passado, sanções ao antigo ministro de Estado e chefe da Casa Militar da Presidência de Angola Manuel Helder Vieira Dias Junior "Kopelipa" e ao antigo chefe do Serviço de Comunicação do Governo Leopoldino Fragoso do Nascimento "Dino" e ordenou o congelamento dos bens daqueles generais, antigos homens fortes de José Eduardo dos Santos.
A filha do antigo Presidente Isabel dos Santos também foi alvo do Departamento de Estado norte-americano que impôs restrições à entrada da empresária no país.
Questionado sobre se há mais figuras angolanas de topo a ser alvo de investigação, o diplomata escusou-se a entrar em detalhes.
Norte-americanos querem diversificar presença económica em Angola
Os Estados Unidos querem reforçar os laços económicos com Angola e apostam na diversificação dos setores de atividade, buscando uma “prosperidade” partilhada, disse à Lusa o embaixador norte-americano.
Tulinabo S. Mushingi assegurou, em entrevista à Lusa, que uma das prioridades da administração Biden, é “trazer prosperidade ao mundo”, uma prosperidade partilhada que beneficie tanto o povo angolano, como o povo norte-americano.
“Por isso estamos a tentar reforçar os laços económicos e aprofundar o comércio entre ambos”, afirmou.
Atualmente, 63 empresas norte-americanas operam em solo angolano, mas os EUA querem aumentar esta presença e diversificar os setores de atuação, além do tradicional “petróleo e gás”.
“Estamos a seguir não só a nossa política externa, e o que as companhias norte-americanas querem, mas também a política do Governo angolano, que é diversificar a sua economia”, referiu o diplomata.
Em breve, deve iniciar atividade no país a operadora de telecomunicações Africell, que já investiu 300 milhões de dólares em Angola, e pretende criar cerca de 6.000 postos de trabalho nos próximos cinco anos para desafiar a hegemonia da Unitel, exemplificou.
Também recentes no país são a Quantem, consórcio de capital norte-americano que venceu o concurso para a construção da refinaria do Soyo, província do Zaire, e a Sun Africa, que está a desenvolver um projeto solar fotovoltaico em sete províncias angolanas.
Tulinabo S.Mushingi salientou que as preocupações atuais com as alterações climáticas implicam a necessidade de fazer a transição das energias fósseis para as energias limpas, o que “não será fácil nem nos EUA, nem noutros países como Angola”.
O diplomata realçou que as empresas norte-americanas têm em comum algumas caraterísticas: a transferência de tecnologia e ‘know how’, incorporação de conteúdo local, bem como a criação de empregos.
Destacou ainda outras prioridades da sua missão alinhadas com a política externa de Joe Biden, entre estas o combate à covid-19, uma vez que “a segurança sanitária faz também parte da segurança nacional”.
Outro dos objetivos passa pela salvaguarda da democracia e a boa governação.
“A democracia não é única, mas tem alguns princípios básicos com os quais todos devemos concordar como a liberdade de expressão, a liberdade de votar, a não violência, os direitos humanos”, elencou, acrescentando: “não podemos atingir os nossos objetivos se não houver boa governação”.