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Sábado, 25 Setembro 2021 07:22

"Operação Transparência empobreceu mais a população"

Três anos depois do lançamento da Operação Transparência, estrangeiros voltam a tomar conta do negócio ilícito do diamante em Angola. Os recursos apreendidos no âmbito do plano não beneficiou a Lunda Norte, diz ativista.

Os efeitos positivos da Operação Transparência foram temporários. Esta é a opinião de ativistas e políticos entrevistados pela DW África, que acompanharam de perto a expulsão de mais de meio milhão de estrangeiros ilegais que estavam no território da Lunda Norte.

Este sábado, 25 de setembro, completam três anos desde que as autoridades angolanas começaram a desmantelar as casas de compra e venda ilegal de diamantes, bem como a fazer a detenção dos garimpeiros em várias minas.

O ativista Jordan Muacambinza, munícipe do Lucapa, diz que a Operação Transparência enriqueceu a elite e empobreceu mais a população.

"Foram apreendidos vários geradores de grande porte. Mas as escolas dos municípios onde ocorreu a operação continuam às escuras, como no passado. Os geradores, as viaturas, os diamantes e outros bens essenciais só beneficiaram os governantes da Lunda Norte e do Governo central, e a população continua a ser a mesma da época da escravatura", lamenta.

Só no ano passado, as autoridades anunciaram que apreenderam mais de 125 pedras de diamantes, 1700 dólares norte-americanos e 55 mil kwanzas (o equivamente a cerca de 90 dólares) no âmbito da Operação Transparência, no município de Lucapa.

O Governo nunca deu explicações sobre em que projetos são aplicadas estes bens e outros apreendidos no início da operação.

"Ação cosmética"

O deputado pelo ciclo eleitoral na Lunda Norte, Domingos Oliveira, duvida que os referidos meios terão passado para a esfera do Estado angolano.

"Então, a operação passou aqui onde se recuperou tantos meios que podiam ajudar tanto a administração local como outros serviços aqui. Os meios desapareceram num abrir e fechar de olhos".

Domingos Oliveira diz que a Operação Transparência foi uma "ação cosmética" do Executivo liderado por João Lourenço. O parlamentar acredita que os traficantes de diamantes continuam a ser "apadrinhados" por figuras influentes no poder político.

"Quem quiser visitar a Lunda Norte, visita o Cuango, visita o Lucapa, o Nzaji e outras áreas afins. Vai ver que todas as casas de compra de diamantes pertencem aos estrangeiros", sublinha.

Politização da operação

O projeto que foi bem aplaudido pela população falhou, porque a politização da operação sabotou o garimpo artesanal que é o meio de sustento das famílias na região das Lundas, onde há um nível alarmante de desemprego, diz Gaspar dos Santos, secretário da Juventude de Renovação Social, braço juvenil do Partido de Renovação Social (PRS).

Gaspar fala também em privação da liberdade de circulação na região de Cafunfo, onde o povo padece de quase tudo.

"Entrei naquela zona por volta das 8 horas da manhã, e quando tocou 15 horas fizeram-me sinal de que tinha de abandonar a zona do Cafunfu, porque a vila fecha às 18h, tem cancelas. Como um município vai ter cancela? Isso é privação de liberdade. Há relatos também que há dificuldades de evacuação de doentes face às cancelas existentes", desabafou Gaspar dos Santos, que esteve na Lunda Norte nas últimas semanas.

O Governador da província da Lunda Norte recusou falar sobre o assunto à DW. Numa entrevista recente à revista angolana Figuras & Negócios, Ernesto Muangala disse que a operação garantiu a ordem na exploração ilegal de diamantes.

Mas Jordan Muacambinza tem uma opinião contrária. "A Operação Transparência promoveu a desordem, o saque, intensificou a pobreza e legalizou o garimpo. Os estrangeiros continuam a entrar em Cafunfo sob o olhar de todos os dirigentes. Desafio os comandantes a confirmar que as casas de compra de diamantes continuam encerradas".

A Operação Transparência está sob reforma e a direção deste projeto poderá fazer um pronunciamento em momento oportuno, disse uma fonte junto da Casa de Segurança do Presidente da República à DW África.

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