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Sábado, 12 Junho 2021 12:12

Parlamento e Ordem dos Médicos deploram acusações da UNITA sobre a morte dos seus deputados

A recente acusação do grupo parlamentar da UNITA, que afirmou que, muitos dos seus deputados, falecidos este ano, não procuraram ajuda médica por desconfiança política, não teve acolhimento por parte da Assembleia Nacional que assegura ter um plano de saúde funcional para todos os deputados e com a possibilidade de, em caso de necessidade, accionar uma eventual transferência para o exterior. Também a Ordem dos Médicos lamenta a acusação e diz que o atendimento clínico não obedece a critérios políticos

As mortes seguidas de renomados deputados do grupo parlamentar da UNITA, desde o início deste ano, crucial para os partidos políticos, tendo em antevisão as eleições de 2022, vem levantado os mais tensos e curiosos comentários no corredor da política nacional.

As mortes despertam as mais diversas inquietações e acesas discussões sobre o tratamento e cuidados médicos de que os deputadas têm direito, fundamentalmente, por se tratar de representantes de um órgão de soberania, que é Assembleia Nacional.

Fontes familiares apontam que, muitos destes deputados morrem em casa e por patologias que poderiam ser tratados caso tivessem uma assistência mais cuidada.

Raúl Danda, Vitorino Nhany, Demóstenes Amós Chilingutila, Adérito Kandambu e Constantino Zeferino perfilam a lista de deputados da UNITA que faleceram ao longo dos últimos dias, sendo que, muitos destes, pereceram no leito das suas residências, sem a possibilidade de procurar assistência médica.

A morte de Raúl Danda, aos 64 ano de idade, foi das que mais comentários e repulsa causou no círculo político, com os seus seguidores, militantes do partido e observadores que, nas vésperas, acusaram o partido UNITA de negligência.

O político teria se sentido mal e de seguida levado para uma unidade clínica nos arredores de Talatona onde acabou por falecer, tendo seus restos mortais ainda depositados por dias na morgue da referida unidade onde aguardava por eventuais perícias e laudo médico.

Na altura, fontes próximas ao político deram conta que a causa da morte teria sido um AVC hemorrágico que o apoquentava há já algum tempo. Referem as fontes, inclusive, que Raúl Danda estava de malas feitas para o Brasil para dar seguimento ao seu tratamento depois de uma série de consultas feitas na Namíbia e em Portugal.

Em meio a tantas inquietações sobre a morte dos seus deputados, recentemente, o Grupo Parlamentar da UNITA, na voz do seu presidente, Liberty Chiaca, veio a público refutar todas as acusações que davam conta que o partido não estaria a prestar a devida atenção aos seus parlamentares.

Na sequência, Liberty Chiaca atirou a culpa ao sistema nacional de saúde, um círculo que a UNITA contribuiu para a sua edificação a julgar que o partido já teve, na altura do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN), um ministro da Saude, o falecido médico Sebastião Sapuile Veloso.

Liberty Chiaca explicou que, muitos dos seus deputados morreram em casa por receio de se deslocarem ao hospital e verem a sua morte acelerada por receios políticos.

De acordo com Liberty Chiaca, alguns dos deputados do seu grupo talvez não tivessem falecido nesta fase se não fossem os receios e desconfianças de ordem política que habitam em muitos angolanos.

Conforme explicou, ainda existem receios fundados que afastam muitos dos seus compatriotas e correligionários dos hospitais públicos.

Esta situação de desconfiança, frisou, nada tem a ver com a competência técnica dos profissionais de saúde, mas com o facto de existirem factores estruturais de agressão ao Estado Democrático e de Direito e aos aspectos ligados ao espírito de reconciliação nacional. Neste sentido, apontou a partidarização das

“Temos recebido outros tipos de queixas e com as devidas responsabilizações. Mas no que toca a atendimento referente a cor partidária nunca tivemos qualquer problema neste sentido”

Não há limites quando se trata da saúde dos deputados

Também em reacção às desconfianças da UNITA, o secretário-geral da Assembeleia Nacional, Pedro de Neri, disse, em entrevista a OPAÍS, que os deputados não têm razão de morrerem em casa porque dispõem de seguro de saúde nas principais clínicas de referência.

Segundo o responsável, a Assembleia trata os deputados da mesma forma e todos dispõem da mesma benesse. Conforme explicou, a cobertura do plano de saúde dos deputados abrange todo o tipo de assistência médica das mais simples as mais complexas. Porém, em caso de complexidade, caso a necessidade se justifica, existe a possibilidade de uma eventual transferência para o exterior, cujos pagamentos das despesas é assumida entre a entidade seguradora da saúde internamente e o Parlamento.

Sem revelar o valor concreto que cada deputado tem direito no âmbito do plano de saúde, Pedro de Neri disse que não existe uma tabela específica ou concreta para custear o tratamento de um deputado. Referiu que os gastos são feitos em função da necessidade e do quadro clínico do paciente.

“Não podemos definir um valor máximo quando se trata de acudir a saúde de um representante de órgão de soberania. Afinal são deputados. E merecem um tratamento diferente”, notou. Pedro de Neri entende assim que as desconfianças políticas não têm razão de ser por se tratar de uma questão de vida humana.

“Temos contratos com as clínicas de referência. E quando o deputado está doente só tem de se dirigir a clínica para ser tratado. Não há necessidade de ficar em casa por desconfiança”, explicou. 

“Nós os enfermeiros juramos salvar vidas”

Por seu lado, o presidente do Sindicato dos Enfermeiros de Angola, Cruz Matete, desdramatizou as inquietações levantadas pela UNITA, sobre o facto de muitos angolanos, sobretudo figuras ligadas aos partidos políticos na Oposição recusarem tratamento em hospitais públicos, por causa da alegada existência de Comités de Especialidade de Médicos e Enfermeiros do partido no poder.

De acordo com o responsável sindical, nos hospitais públicos são atendidos todo o tipo de pacientes, independentemente da sua cor partidária, ideologia, cultura ou nacionalidade. Cruz Matete afirmou que os Comités de Espacialidade de Médicos e Enfermeiros do MPLA, apontados pela UNITA, existem a nível do Comité Provincial e nada têm a ver com as instituições hospitalares. “Nós os profissionais de enfermagem juramos para salvar vida a quem quer que seja. Entre os militantes do MPLA existe aqueles que são médicos e enfermeiros, e, na sua política o MPLA criou um Comité de Especialidade dentro do Comité Provincial, não dentro das instituições hospitalares”, disse.

O clínico sublinhou ainda que não há discrepância entre os profissionais de enfermagem, já que entre eles há aqueles que são do MPLA, da CASA-CE, da UNITA e de outros partidos. Porém, a nível profissional trabalham todos em harmonia, sem distinção. OPAIS

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