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Quinta, 21 Julho 2016 09:44

A crise económica e os desavergonhados

A diversificação económica, já o dissemos neste espaço, mas nunca é demais sublinhar para despertar distraídos e “destapar” mal-intencionados, começou em Angola antes da crise que abalou, continua a abalar, o mundo.

Luciano Rocha | JA

O Governo angolano, vencida a guerra contra as forças invasoras e aliados, após reconstruir e construir as principais vias terrestres inter-provinciais, bem como as linhas de caminho-de-ferro, reparar e erguer pontes, prosseguiu a fase de diversificação económica, que passou pela desminação, que se mantém, distribuição de terras, sementes e utensílios de trabalho a agricultores e camponeses.

A aposta na diversificação económica inclui igualmente a edificação de casas, electrificação, instalação de chafarizes, em alguns casos de água canalizada nos domicílios, escolas, centros de saúde e jangos, local de discussão dos principais problemas das aldeias, mas também de confraternizarão, que “nem só pão vive o homem”.

O programa de diversificação económica abrangeu também, entre outros, o sector das pescas, com a distribuição a profissionais do ramo de embarcações a motor, redes e outros apetrechos de trabalho. Quer neste caso, quer no da agricultura, a iniciativa envolveu subsídios e formação profissional.

Estas medidas governamentais são indesmentíveis e os primeiros resultados estão à vista de quem quer que seja. Negá-las, ignorá-las, afirmar que os angolanos acordaram para a diversificação económica apenas com a crise que abalou o  mundo, atingindo indiscriminadamente países antigos e novos, mais ou menos desenvolvidos, de que são exemplos sobretudo Espanha, França Irlanda, Itália, Portugal, mas também Alemanha e Estados Unidos, revela maledicência dos que se deixam encandear pelos holofotes das televisões, pelo fascínio dos microfones, pelas parangonas de revistas e jornais sensacionalistas, ou dos que primam pela ignorância indesculpável num tempo em que a informação nos é trazida por minúsculo rádio a pilhas ou pelo clicar de botão de computador de trazer debaixo do braço.

Angola, dos mais jovens países do mundo, não podia fugir à regra, independentemente de programas que tivessem sido e foram desenvolvidos entre nós, vários dos quais em parcerias com privados e o empenho de muitos trabalhadores, que não todos, infelizmente. Nem as chamadas potências, guias da modernidade e do desenvolvimento mundial, onde a crise económica brotou, a conseguiram evitar.

A crise económica internacional inevitavelmente chegou a Angola, mas antes disso, mesmo quando já o “semáforo do mundo” tinha a luz vermelha acesa, muitos de nós, tal qual daltónicos, nem o amarelo víamos, a cor que nos norteava era o verde e continuámos a desrespeitar todas as regras do bom senso, próprias da classe média de qualquer sociedade, em especial se maioritariamente emergente. O ritmo do dia-a-dia manteve-se como se o amanhã fosse sempre igual ao hoje. Muitos ganhamos escandalosamente bem. Como troca damos absentismo e  a ocupação  indevida de cargos para os quais não estamos minimamente preparados. Não raro, temos mais do que um emprego, bastas vezes sem justificar o vencimento sequer de um. 

A luz vermelha do “semáforo do mundo” já há muito que se tinha acendido. Rimos do que se passava lá fora, “aqui as coisas são diferentes”. O que nos caía na conta bancária era derretido sem  nos darmos ao trabalho de fazermos operações de subtracção. Compramos o que não precisamos. Viajamos para o estrangeiro de malas vazias e regressamos com elas cheias. Adquirimos bens de luxo em excesso, compramos viaturas automóveis de último modelo em vez de carro utilitário, coleccionamos telemóveis com capas às cores,  frequentamos restaurantes com preços acima do razoável, comemos e bebemos “do mais caro e do melhor” até dizer chega, ostentamos despudoradamente falsos níveis de vida. 

Agora que o cenário começou a mudar, alguns dos que nunca nos “tempos das vacas  gordas” se resguardaram para dias piores responsabilizam o Governo pela crise económica que atinge o mundo e à qual, obviamente, Angola não escapou, como o filho a quem o pai, à custa de sacrifícios, mandou para a Universidade, mas que nunca foi às aulas, passou o tempo em noites de boémia e dias a dormir, a gastar o que tinha e não tinha, que a mesada chegava todos os meses, e no regresso a casa acusa o progenitor  de não arranjar emprego.

 

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