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Sábado, 28 Mai 2016 23:20

Prevenir os incidentes ou retaliações - José Ribeiro

O povo angolano de Cabinda ao Cunene é, na sua esmagadora maioria, tolerante, hospitaleiro e fraterno, razão pela qual temos dos mosaicos etnolinguísticos africanos mais pacíficos.

Por José Ribeiro | Jornal de Angola

Não se trata de mera retórica, mas de uma realidade que permitiu gerir o conflito armado, o reencontro e reconciliação das famílias sem interferências externas. Sendo um país com realidades e sequelas de pós-conflito, gradualmente superamos desafios que, em muitas paragens do mundo, prevalecem como problemas insanáveis. 

Hoje, podemos dizer que independentemente dos passos na direcção para a construção de uma sociedade democrática, solidária, de paz, igualdade e progresso social, estamos no bom caminho. 

Temos desafios, é verdade, mas comparativamente aos anos que se seguiram ao fim da guerra, fomos bem sucedidos no relançamento do processo de construção das infra-estruturas, reassentamento das populações e na melhoria de numerosas indicações. Não são muitos os países cujas instituições e populações, testadas por uma guerra das mais sangrentas e destrutivas, souberam gerir o período subsequente como estamos a fazer. 

Sabemos o quanto ainda custa a muitas comunidades, famílias e pessoas olhar para trás e conviver com lembranças desagradáveis que muitos preferem simplesmente que sejam apagadas com o exercício do esquecimento, sem que o diálogo e o perdão sejam devidamente explorados. Em todo o caso, acreditamos que nos encontramos num processo que deve levar toda a sociedade a esta fase, como fez contra os piores desafios enfrentados. 

Como é natural, muitas comunidades, famílias e pessoas singulares continuam numa fase de aprendizagem do momento de paz e estabilidade, não raras vezes, convivendo com o difícil dilema do esquecimento e do perdão. Não é um exercício fácil na medida em que perder um ente ou enfrentar o desafio de recomeçar tudo de novo, foi e   continua a ser um problema que, esperamos todos, o tempo ajude a resolver. 

A guerra movida pela UNITA, principalmente a pós-eleitoral, deixou marcas profundas em numerosas localidades de Angola, realidade que nem sempre torna possível a eliminação de actos isolados de cidadãos ou comunidades ainda movidas por atitudes menos positivas. 

É falso pensar, como faz o partido do “galo negro”, que os actos de intolerância de que se queixa a UNITA tenham bases institucionais e sejam instigados por sectores identificados da sociedade. Não raras vezes, os actos de intolerância partem de sectores e são instigados de dentro da própria UNITA, por indivíduos que encontram dificuldades em se readaptar nas localidades com marcas de morte e destruição com o selo do “galo negro”. 

Mesmo que imaginariamente Angola atinja o rácio de um agente da polícia por cada habitante, nunca as instituições do Estado serão capazes de reduzir a zero o azedume ou intolerância nalgumas comunidades, famílias e pessoas que foram vítimas das acções intolerantes, essas sim, da UNITA, durante décadas sucessivas. Não é exagerado dizer que em muitos casos o legado de morte e destruição do maior partido da oposição devia levar a um amplo exercício de reconciliação com as comunidades em todo o país, sobretudo nas zonas mais afectadas pelo conflito. 

Os actos de intolerância de que permanentemente se queixa a UNITA resultam também de uma precária gestão do pós-guerra, em que o diálogo com as comunidades para o exercício do perdão deu lugar à ingenuidade, arrogância e indiferença. 

Os confrontos que envolveram elementos da UNITA, incluindo deputados, que resultaram em três mortos, quatro desaparecidos e três feridos, um dos quais agente da Polícia Nacional, quarta-feira no município do Cubal, Benguela, não são novos e provam mais uma vez que a UNITA faz má gestão do seu legado e deve mudar de procedimentos. 

Contrariamente ao pensamento predominante no seio da UNITA, não é expectável uma recepção apoteótica de delegações ou individualidades daquele partido em muitas localidades onde a acção destrutiva da UNITA deixou marcas ainda visíveis. 

Sendo uma das regiões mais fustigadas pelas acções das forças militares da UNITA, era bom que os responsáveis do maior partido da oposição coordenassem, por via de uma comunicação prévia às autoridades, o seu programa, para que fosse assegurada cobertura policial à sua actividade de massas. Quando se trata da realização de acções de massas, é lamentável que o procedimento da UNITA, um partido que se diz preocupado com actos de intolerância política, seja traduzido por ausência de comunicação prévia às autoridades. Essa realidade contribui para abrir brechas nos eventuais esforços para a contenção de casos manifestos de insatisfação e intolerância para com figuras da UNITA, cuja presença, em muitas localidades, constitui motivo para a exaltação dos ânimos. 

Da parte das instituições do Estado há o compromisso para com a manutenção da paz e estabilidade e a livre circulação de pessoas e bens, sendo importante que todos os outros organismos da sociedade adoptem uma postura adequada à prevenção de incidentes.

 

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