Por Orlando Castro | Folha8
Eugénio Costa Almeida, investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL, falava à Lusa após o anúncio de que o Presidente de Angola deixará a vida política activa em 2018, ano em que completará 76 anos.
Em reacção, Eugénio Costa Almeida disse temer que não haja tempo para preparar um sucessor: “Não estou a ver que ano e meio seja suficiente para apresentar uma figura que se torne consensual, abrangente e aglutinadora, salvo se, no interior do partido e dos gabinetes da Cidade Alta, essa situação já esteja a ser preparada há muito tempo sem ser do conhecimento dos angolanos”.
Que os angolanos são sempre os últimos a saber, sobretudo os que são considerados pelo regime como de segunda, não é propriamente uma novidade. Mas, para além disso, um ano e meio, na melhor das hipóteses, é tempo de sobra. Desde logo porque se sabe que as eleições estão marcadas, mas não se sabe se se realizarão. Poderão, por isso, ser adiadas segundo a conveniência do regime, não faltando meios e justificações para que tal possa acontecer.
Quando um regime que está no poder há 40 anos tem a desfaçatez de acusar um pequeno grupo de jovens activistas de rebelião e tentativa de golpe de Estado, é bem capaz de tudo.
Para o investigador, o risco de não estar preparada a sucessão “é haver alguma desestabilização política que possa provocar uma desestabilização social”, numa altura em que Angola vive “uma crise profunda, económica e financeira”.
Esta correcta análise de Eugénio Costa Almeida dá, só por si, corpo a um cenário indiciador de que as eleições serão quando o líder supremo do país assim entender. “Desestabilização política” e “desestabilização social” são possibilidades mais do que suficientes para que, com a cobertura internacional, o regime determine quando e como se realizarão eleições.
Eugénio Costa Almeida, um dos mais reputados especialistas em questões africanas, com realce para Angola, afirmou ainda não ser claro o significado das palavras de José Eduardo dos Santos no anúncio de hoje.
“Deixa-me duas questões prévias: vai abandonar a política no geral e simultaneamente a presidência, caso seja o número um e o MPLA ganhe as eleições em 2017; ou na perspectiva de que vai deixar a política em 2018 já não se candidatará?”, questionou, acrescentando aquela que é a verdade das verdades: Mesmo que “abandone a política activa não significa que abandonará a presidência”.
Pois é. O mais certo é José Eduardo dos Santos ser o candidato do MPLA na eleição indirecta (cabeça-de-lista do partido), em 2017 ou noutra data qualquer, ganhar folgadamente (como é timbre nas ditaduras) e depois calmamente passar o testemunho a um outro qualquer “Eduardo dos Santos”, devidamente formatado, domesticado e controlado.
Caso se concretize a saída da Presidência, diz Eugénio Costa Almeida, o MPLA deve começar a preparar alguém que efectivamente mereça a credibilidade junto da população e, principalmente, do bureau político do MPLA.
Como especialista em questões angolanas, Eugénio Costa Almeida sabe que, na versão factual, tal como o MPLA é Angola e Angola é o MPLA, José Eduardo dos Santos é o MPLA e o MPLA é José Eduardo dos Santos. Dizer-se que o MPLA deve começar a preparar alguém é tapar o Sol com uma peneira. Quem prepara, quem determina, o sucessor é Eduardo dos Santos. Tudo o resto é paisagem.
“Isto já devia ter sido anunciado há mais tempo e devia ter começado a ser preparada a continuidade dentro do partido com maior calma, maior ponderação”, afirma ainda Eugénio Costa Almeida com aquela ingenuidade que nos caracteriza a todos: pensamos que Angola é aquilo que não é – Um Estado de Direito Democrático.