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Terça, 10 Novembro 2015 16:38

Para o regime de Angola, contestatários são os novos "canibais da FNLA"

Luvualu de Carvalho apresentou-se em Lisboa com o título de embaixador itenerante de Angola e já apareceu em diversos canais televisivos a tentar explicar a manutenção na prisão dos 15 jovens angolanos detidos depois de discutirem um livro e que irão ser julgados no próximo dia 16. Desenvolveu numa dessas suas intervenções a tese de que os jovens estavam a planear acções de rua que levassem a NATO a intervir em Angola.

Por Leston Bandeira

A sua primeira intervenção foi num debate com José Eduardo Águalusa e as suas teses deixaram a impressão de que a sua missão é bastante mais complexa do que a de um simples embaixador em missão de esclarecimento. As acusações que ele faz, nomeadamente a Luaty Beirão (que não teria sequer amor à vida), fazem-nos recuar anos, quando o MPLA, para acusar a FNLA de ser um grupo de canibais, se serviu dos órgãos que estavam armazenados em frigoríficos de um dos Hospitais de Luanda e os exibiu à imprensa com a insinuação de que era obra dos homens de Holden Roberto.

Uns dias depois, no último Sábado, Luvualu deu uma entrevista ao programa da Rádio Antena 1 Visão Global, categoricamente desmentindo a dificuldade que os jornalistas portugueses tinham para obter vistos para Angola. Publicamente, convidou o jornalista Ricardo Alexandre a entrar em contacto com ele, se, por acaso tivesse algum problema.

Um recado tipo :“eu sou o homem, eu resolvo”. Ora, segundo informações oficiais, Luvualu faz apenas parte do GRECIMA, cujo director é Manuel Rabelais, cujas relações com o ministro da Comunicação Social, José Luís de Matos são bastante conflituosas.

Este à-vontade ser-lhe-á transmitido pelo facto de pertencer a esse grupo de imagem muito próximo de José Eduardo dos Santos, um núcleo criado junto do presidente com a intenção de melhorar a imagem do país no estrangeiro. Todavia, a sua actuação está sobretudo concentrada no acompanhamento e controlo da comunicação social interna.

Luvualu de Carvalho é professor universitário e tem de si próprio uma imagem muito particular. Gente próxima atribui-lhe a ambição de vir a ser ministro. A sua nomeação foi, de resto criticada a dois níveis: o político e o de de cariz corporativo, originado no seio do numeroso grupo de diplomatas, muitos dos quais estão mal aproveitados ou mesmo sem nada para fazer.

Ministro ou apenas professor ou também embaixador itenerante, ele tem desenvolvido teses mais ou menos delirantes sobre as intenções dos jovens detidos, atribuindo-lhes o projecto de criarem uma “comoção” internacional com a realização de manifestações contra as forças de segurança e em que usariam crianças e mulheres como escudos humanos.

As mortes causadas acabariam por levar a uma intervenção da NATO que transformaria Angola numa segunda Líbia. E as suas comparações chegam ao Egipto e à Síria.

A verdade é que tem conquistado grandes audiências e com o seu ar de “detententor da verdade”. Garante que o Presidente Eduardo dos Santos não pode fazer nada quanto aos jovens detidos. Este impedimento pode levar a uma comoção nacional e internacional se o tribunal que os julgar resolver aceitar estas teses conspiratórias e condenar os 15 a penas pesadas.

Luvualu de Carvalho faz lembrar um arauto da desgraça.

AM

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