Desde o fim da Guerra Fria, as relações entre os EUA e a Rússia passaram por momentos de aproximação e tensão. Os anos 1990 por exemplo, foram marcados por uma tentativa de integração da Rússia ao Ocidente, mas com a chegada de Putin ao poder no início dos anos 2000, o país começou a adotar uma postura mais assertiva, resistindo à expansão da OTAN e buscando reafirmar sua influência na Eurásia.
A partir de 2014, com a anexação da Crimeia, a relação EUA-Rússia entrou em um período de sanções e hostilidade que perdurou implacavelmente ate a chegada de Donald Trump ao poder. Durante o governo de Trump (2017-2021), houve sinais de um possível realinhamento, mas ainda assim, a relação entro os dois governos permaneceu sob o prisma de rivalidades e desconfiança. O actual conflito na Ucrânia reforçou ainda mais, a polarização entre Moscou e Washington, em que por um lado assistimos os EUA liderando o fornecimento de armas e sanções contra a Rússia.
- Trump como Agente de Reaproximação
A reaproximação entre Trump e Putin reavivaria o debate sobre a tese de uma Rússia menos hostil aos EUA sob administrações republicanas menos intervencionistas e mais pragmáticas. Essa mudança, se consolidada, poderia abalar a actual estrutura da OTAN e a coesão ocidental em relação à Ucrânia, dividindo opiniões entre aliados europeus sobre a melhor estratégia para lidar com Moscow. Isso reforça a percepção de que uma mudança na postura americana em relação à Rússia, acaba favorecendo mais a Moscou em Relação a ucrania.
Implicações Geopolíticas e Possível Formação de uma Aliança
Caso os EUA, sob a liderança de Trump, reduzam seu apoio à Ucrânia e busquem um entendimento com a Rússia, isso poderia levar a um novo equilíbrio de forças global. Algumas implicações possíveis seriam olhadas na:
– Divisão no Ocidente: Uma reaproximação EUA-Rússia enfraqueceria a coesão da OTAN e poderia levar países europeus a reconsiderarem sua postura em relação a Moscou.
– Redução da Dependência Chinesa: A Rússia tem se aproximado da China como alternativa ao isolamento ocidental. Um possível entendimento com os EUA reduziria essa dependência e poderia levar a uma nova configuração nas alianças globais.
– Acordo sobre a Ucrânia: A suspensão dos ataques pode ser um teste para futuras negociações, possivelmente resultando em um acordo que reconheça algumas conquistas territoriais russas em troca de um cessar-fogo ou congelamento do conflito.
Possíveis Obstáculos
– Resistência interna nos EUA: O establishment político e militar americano (Pentágono, Congresso) tende a manter uma postura dura contra a Rússia, o que pode dificultar uma reaproximação sob um governo Trump.
– Desconfiança mútua: A Rússia vê os EUA como um adversário estratégico de longo prazo, e qualquer tentativa de aproximação enfrentaria ceticismo.
– China como variável-chave: Uma reaproximação entre Washington e Moscou teria implicações para a relação EUA-China, que actualmente é a principal rivalidade global.
Portanto, se essa informação se confirmar, pode indicar um primeiro sinal de uma mudança nas dinâmicas geopolíticas entre Rússia e EUA. No entanto, tal mudança enfrentaria desafios internos e externos, tornando improvável uma aliança formal entre as duas potências, mas possível uma acomodação estratégica para reequilibrar o sistema internacional.
Juvenal Quicassa/ Especialista em Relações Internacionais