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Segunda, 14 Outubro 2024 10:21

O árbitro, jogador, dono da bola e apanha-bolas

A política é um jogo e, como em qualquer jogo ou competição, só vencem as equipas cujos jogadores ou atletas se submetem à organização e disciplina do colectivo e respeitam as regras do jogo e a orientação da equipa técnica.

Por Armindo Laureano

Ninguém começa o jogo sem ouvir o apito do árbitro, ninguém inicia a corrida de atletismo sem ouvir o tiro de partida, sob pena de ser desqualificado e prejudicar a equipa", disse o presidente do MPLA, João Lourenço, durante a abertura da 3ª sessão extraordinária do Comité Central realizada em Luanda, na passada quarta-feira, 09, do mês corrente.

João Lourenço deixou um recado claro para os pré-candidatos à presidência do partido e seus apoiantes. Os políticos fazem muitas vezes recurso ao desporto para explicarem situações internas dos seus partidos e até mesmo do país. Nesta analogia toda, João Lourenço não deixou claro qual é ainda e qual será o seu papel/posição nesta competição. Ele é árbitro? Jogador? O dono da bola? Ou o apanha-bolas? Se for o árbitro, quer dizer que deixa de ser o jogador e, se for jogador, deixa automaticamente de ser árbitro. Certo é que não pode ser árbitro e jogador ao mesmo tempo, a não ser que mude as regras do jogo. E com o jogo a decorrer?

É que, nos dias de hoje, o árbitro já não é o único que manda no jogo, existe agora também a figura do Vídeo - Árbitro (VAR), que tem um papel fundamental na decisão das jogadas. É importante para os outros companheiros de equipa que João Lourenço não se torne naquela figura muito conhecida dos nossos tempos de miúdo, o tal dono da bola. Aquele que por ser o dono da bola acha que não pode ser substituído, que todos os companheiros têm de lhe passar a bola para marcar golos e que quando lhe pedem para sair, leva a bola dele e o jogo acaba. Também tem toda a legitimidade e autoridade para exigir algum respeito pelas regras do jogo e que não façam dele um apanha-bolas.

É certo que não se podem mudar as regras do jogo com o jogo a decorrer. E que não existem jogos sem substituições. O certo é que não se anulam substituições, a tendência tem sido a de aumentar o número delas. Concordo com João Lourenço quando fala da necessidade de respeitar à organização, à disciplina, às regras do jogo e orientação da equipa técnica, é que as equipas, os partidos e instituições não podem andar ao sabor dos ventos que os treinadores de bancada procuram impor. É que, estando na bancada, todos se acham capazes de resolver os problemas em campo, é que da bancada todos têm soluções.

E João Lourenço falou também do atletismo e até aqui ele precisa de clarificar aos seus camaradas se estão numa prova de velocidade ou uma corrida de fundo. É que se for numa prova de velocidade, a ideia dos militantes é que o MPLA está numa corrida de estafeta, em que cada corredor tem um percurso definido e, a determinada altura, tem de passar o testemunho a outro companheiro de equipa. É que na estafeta as regras são claras e os timings de passagem de testemunho são fundamentais para o sucesso de toda a equipa.

O corredor que não entrega o testemunho a tempo o deixa cair, é desqualificado e prejudica toda a equipa. Nas corridas de fundo é muito comum existir a figura da lebre. Lebre são atletas contratados pela organização para ditar o ritmo de uma determinada prova e por uma certa distância. Ele estabelece um ritmo forte pré-planejado que leva os demais competidores a um recorde desejado.

O que temos no MPLA são algumas "lebres" a procurarem marcar a passada e forçar com que as verdadeiras saiam das suas tocas. No atletismo, o juiz também tem um timing para dar o tiro de partida, sendo que a corrida não pode ficar dependente da vontade do juiz disparar ou não. É que a linha de meta do MPLA com a inscrição "Dezembro de 2026" está já bem visível e a corrida a entrar na fase decisiva.

A rotatividade e a alternância são elementos essenciais da democracia e fazem parte da natureza finita do poder. É uma realidade que os militantes do MPLA vão dominando, numa altura em que o tema das múltiplas candidaturas e da sucessão ganha cada vez mais força. Enquanto sectores mais conservadores do MPLA entendem que uma candidatura única passa a imagem de união e coesão interna, existem sectores mais amplos que defendem que a questão das múltiplas candidaturas pode passar um sinal de maior abertura e democratização no MPLA. E é sobre esta última abordagem que João Lourenço tem de mostrar que está preparado para lidar, tem de se posicionar e clarificar a sua posição, e ser o timoneiro da verdadeira mudança interna. Existem duas coisas que João Lourenço tem de estar preparado para fazer : saber negociar e saber ceder. E há duas coisas que as " vacas sagradas" do MPLA tem de perceber : Não podem ver João Lourenço apenas como parte do problema, têm também de olhar e lidar com ele como parte da solução. Tudo isso para bem do MPLA e da Pátria. NJ

 
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