O senhor Joseph Biden enviou importantes nomes do governo dos EUA como a senhora Samantha Powers, da USAID, para tratar do maior projecto de engenharia de Angola, o Corredor do Lobito, no qual os americanos demonstraram grande interesse. Esta notícia foi confirmada pelas reuniões de João Lourenço com os responsáveis de diferentes províncias de Angola e pelas declarações de que é preciso dar mais atenção a esse projecto. Por sua vez, arautos da Casa Branca anunciam que a Itália e a Tanzânia poderão em breve juntar-se ao projecto do Corredor do Lobito, conforme o anúncio do secretário de Estado americano, Antony Blinken, projecto esse que já foi discutido na ONU.
Para Angola, a visita de Joe Biden pode levar a uma série de problemas. Enquanto muitos países buscam blocos e parcerias com Estados neutros, João Lourenço aproximou-se de um país conhecido por polêmicas e escandalosas campanhas militares que trouxeram grandes prejuízos a Estados soberanos. É um facto que a política externa dos EUA pode hoje se aliar a um Estado e amanhã combate-lo, ou o oposto, como aconteceu no conflito militar entre a Etiópia e a Somália. Há que considerar ainda que a política externa americana tradicionalmente segue a lógica e os planos delineados pelo poderoso Complexo Militar Industrial, empurrando parafernálias militares para outros países e incitando atritos entre os povos, levando a guerras, como já acontece em certos países.
Por mais que os EUA sejam um parceiro economicamente forte, eles jamais olham para países como Angola em condição de igualdade, favorecendo o seu próprio empresariado em detrimento dos Estados em ascensão nos países do Terceiro Mundo. Um exemplo disso são as várias sanções dos EUA contra a carne bovina do Brasil, país que sempre teve boas relações com os EUA, ou mesmo as práticas desleais que levaram à quebra da indústria bélica do Brasil nos anos 80 e início da década de 90. A posição dos EUA relativas ao Terceiro Mundo, aos países neutros, é, antes de qualquer coisa, uma relação mestre-escravo, reforçada por círculos que defendem uma aproximação com os anglossaxões conhecidos como “atlantistas”. Essa experiência demonstra que Angola não pode cometer o equívoco de acreditar cegamente nas promessas de Washington.
O governo de Angola precisa compreender que não importa se no poder está um republicano ou um democrata, o partido que de fato governa os EUA é o partido da devastação e Angola não pode ser arrastada para o olho da tormenta e isso é um alerta de que a visita de Joe Biden não beneficia Angola e longe de ser um triunfo da política externa de João Lourenço, em realidade se trata de um passo muito perigoso que pode trazer consequências negativas em nome de uma obsessão cega pela glória.
Abdoulaye Bah