Segunda, 14 de Outubro de 2024
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Quinta, 05 Setembro 2024 14:48

João Lourenço do lado errado da crise

O MPLA está em crise. É um facto. Ninguém pode mais negá-lo. Também é verdade que as raízes ou as consequências dessa crise podem ser analisadas sob várias nuances. Uns adiantam-se a antecipar a erosão do regime.

Outros centram-se no perfil dos seus protagonistas. Preocupam-se em alertar para o facto de estar em causa uma disputa entre políticos autoritários, minimizando os eventuais efeitos para o processo democrático no MPLA e no país.

Tudo isso é válido. A história do MPLA e do país e o contexto actual dizem que não há cenários descartáveis. Não é para menos. Militantes proeminentes do MPLA já disseram, como se sabe, que não querem João Lourenço na direcção do partido nem pintado de ouro, depois de 2026. Há quem até já o queira fora este ano para que o partido tenha mais tempo de preparar o seu candidato às eleições de 2027.

Os contestatários até foram mais longe. Deixaram preto no branco que o processo da próxima corrida à liderança do partido não se sujeitará a um guião escrito exclusivamente por João Lourenço. Este, por sua vez, já deu sinais claros de que não quer largar o osso, sem dar luta.

Qual rei desnudado, Lourenço juntou, às pressas, em Luanda os primeiros secretários dos Comités de Acção (CAP) para reafirmar a sua liderança. E, numa incursão mal sucedida, terá recorrido a alguns proeminentes da velha guarda para desfazer a tese do isolamento. Não terá conseguido e, enquanto isso, atolam-se as guerras das narrativas que fazem retirar algum espaço à questão de fundo. É hora de identificar e hierarquizar os factos, conforme o seu grau de importância.

Qualquer análise séria e rigorosa deve ter como questão central os potenciais efeitos desta crise no MPLA no conjunto do processo político do país. Um descarrila- mento completo expõe necessariamente o país ao risco de uma implosão total. Esta é a principal razão que deve colocar os angolanos necessariamente ao lado de quem defende as regras. Não se trata da defesa de autoritários contra autoritários.

Trata-se, antes de mais, do reconhecimento de que as normas internas dos partidos, as leis aplicáveis e a Constituição devem ser respeitadas, conforme se apresentam. É uma questão de princípio.

Quem exige o respeito da Constituição não pode ser complacente com quem se mostra disponível a violar ostensivamente as regras do seu próprio partido. Não haveria maior contradição e é aqui em que João Lourenço perde razão total.

É esta dignificação do paradoxo que coloca João Lourenço do lado errado da crise.

A caminho de fechar o seu ciclo de comando no MPLA, sem brio nem honra, João Lourenço devia optar pelos "mínimos olimpicos". Juntar-se aos defensores das múltiplas candidaturas e esperar pelo tempo para recolher-se na reforma. A largos passos de concluir os 10 anos de governação que lhe foram oferecidos pelo seu próprio regime, devia escusar-se de adensar dúvidas, quanto ao futuro.

E ter a coragem de declarar que não vai inventar nada que exponha o país ao risco de um retro- cesso mais grave do que este em que já o colocou. Deveria simplesmente pendurar as chuteiras e deixar que o país ande. É o mínimo que se lhe exige, depois de uma governação totalmente desastrada, sem nenhuma ponta que se lhe pegue. Valor Económico

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