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Segunda, 05 Junho 2023 12:00

O fim dos subsídios aos combustíveis e a retórica de lutas de classe em Angola.

Para que o fim dos subsídios seja aceite pela população em geral, os membros do Estado e do Governo devem abdicar do seu subsídio de combustíveis também, sob pena de criar um sentimento de revolta popular que ponha fim à viragem Liberal do Governo e todo o bom trabalho que Vera Daves fez até agora.

Além de evitar discurso de lutas de classe, vai permitir que os Governantes tenham algo em comum com o povo: custo do combustível nas bombas.

Infelizmente, as medidas anunciadas pelo MINFIN demonstram a falta de maturidade da nossa discussão pública, pois o público em geral e os próprios “fazedores” de opinião estão presos em modo emocional, e como dizia Thomas Sowell, confundem as suas emoções com pensamentos, por isto que as medidas do MINFIN se focam em dois eixos. Primeiro, apaziguar o medo das pessoas pelo “sofrimento”, prometendo subsídios a esmo, para minimizar os efeitos da subida dos preços. Segundo, para usar o sentimento de inveja, que alimenta os discursos de luta de classe, para que a maioria da população aceite o fim dos subsídios porque estes beneficiam uma minoria de abastados donos de carros, que chegam a beneficiar de até 200.000kz anualmente na forma de gasolina barata.

A conclusão dos dois eixos é que vai-se usar o dinheiro para “ajudar os mais pobres” com o Kwenda e outras medidas inúteis. Ou seja, não temos esperança de convencer as pessoas com argumentos racionais, temos de gerir seus sentimentos de inveja, revolta e medo do sofrimento. Isto mostra que a política em massa ainda não é viável em nosso país.

Infelizmente, esta táctica de comunicação vai criar problema a médio prazo porque o documento não indica se os subsídios aos combustíveis para dirigentes, membros do Estado e do Governo, vão ser removidos, sendo que isto vai alimentar um sentimento de inveja e revolta que irá continuar a alimentar a retórica de lutas de classe contra uma massa anónima, de pessoas falsamente acusadas de serem “privilegiados” por terem carros, quando a classe dirigente é uma massa de pessoas identificadas que não pagam o preço real da gasolina que usam.

Uma vantagem de retirar o subsídio de combustível para as “Suas Excelências” e “entidades protocolares”, como diz o Revu que virou parasita do erário público, é permitir que tenham algum contacto com a realidade. Deputados, Ministros, Administradores, Directores, o fim do subsídio à vossa gasolina trará vários benefícios e está no vosso interesse. Primeiro, vai impedir que sejam alvos de ataques políticos, justificados, por parte da classe média que irá se insurgir ao ver-vos a andar de V8 de cima a baixo, enquanto que eles tiveram de recuar para um turismo. Segundo, isto talvez permita que tenham, finalmente, uma apreciação real da qualidade das estradas que talvez não sintam por andarem em carros grandes, deste modo, estariam mais sensíveis à qualidade das estradas.

Não que eu seja contra o vosso conforto, mas apenas acho que deveriam arcar com os custos do transporte, como todos nós, pois se uma pessoa de classe média decide andar com um Nissan Patrol Obama, ele tem consciência que vai ter de sacrificar outras despesas ou mesmo oportunidades de investimento.

Talvez, sentindo na vossa vida pessoal esta necessidade de gerir um orçamento, as excelências levariam este aprendizado para o vosso trabalho de gestão do erário Público. As excelências recebem salários, como nós, que o usem para comprar gasolina, como todos nós fazemos.

Por Roboredo Garcia

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