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Sexta, 07 Junho 2019 17:59

O que as falsas revoluções do Sudão e da Argélia podem ensinar a Angola

Depois da euforia das Manifestações que levaram à queda de de presidentes na Argélia e Sudão, agora segue uma fase de repressão que está a deixar muitos desiludida com a aparente traição destas revoluções, porem eram mesmo estes eventos Revoluções Democráticas?

Por Robore do Garcia

Não se trata de julgar sinceridade do sentimento e convicções Democráticas das pessoas que participaram nas manifestações nos dois países, mais de julgar se as circunstancias que levou a queda dos dois presidentes surge de uma mudança de fatores reais que criou uma feixe de forças democráticas ou se foi apenas um instrumento usado para ajuste de contas entre as elites.

O Argélia e o Sudão usaram sou sua renda petrolífera comprar comida para alimentar a população, fornecendo cesta básica a presos subsidiados, o que teve como consequência a população dos dois países cresceu mais que a capacidade efetiva dos agricultores de produzir comida de base em quantidade suficiente e cria um déficit alimentar permanente. Enquanto que a produção de petróleo da Argélia passou de 1.1 milhão a 2 milhões de barris dias de 1980 a 2005 a população Argelina passou de 19 a 33 milhões, e apesar da redução de produção que sofrida a partir de 2005 e que viu a produção descer para 1.5 milhões de barris a população passo de 33 a 41 milhões, sendo que em 2017 teve de importar 2.6 bilhões em bens alimentares.

Do mesmo modo a população do Sudão cresceu de 14 para 40 milhões de 1980 a 2019 com uma aceleração do crescimento da população no período de 1990 a 2005 quando o Sudão produzia 400.000 barris por dia. Normalmente na história o aumento da população de uma região era paralela a sua capacidade alimentar a população, porem com os transportes transcontinentais modernos países africanos podem depender de comida produzida no Brasil.

Além do aumento de população está renda também permitiu aos dois países terem Estados e Exércitos que suas economias não petrolíferas não conseguiriam suportar, e um nível de vida de estilo ocidental para a parte da população indispensável para manter o funcionamento do estado.

Apesar da queda de produção dos dois países terem origens diferentes, no caso da Argélia houve exaustão dos campos petrolíferos enquanto que o Sudão perdeu primeiro por causa da independência do Sudão do Sul e depois porque a guerra civil que fomento novo pais impediu que beneficiasse dos rendimentos do aluguer do pipeline que permite escoar o crude para Port-Sudan, os dois países se encontraram na mesma situação ser incapaz de produzir comida suficiente ou de importar comida. As medidas de austeridade que os dois governos foram obrigados a impor que criaram a penúria que desencadeou as manifestações e não o crescimento de um movimento pró-democrático que como aconteceu no Brasil em 1964 e ao qual parte da elite aderiu. Para a parte jovem ou subordinada das elites políticas e militares dos dois países só restou usar as manifestações para remover o sangue velho do poder sob os aplausos dos manifestantes antes de reprimir a ala democrática dos mesmos Manifestantes e acalmar os manifestantes motivados pela fome com bens alimentares.

O que Angola pode aprender com estes dois países?

Em termos económicos Angola sofre dos mesmos sintomas quando vemos que nossa população também cresceu de 7.6 a 30 milhões de 1975 a 2019 ao mesmo tempo que a nossa agricultura estagnou ao mesmo tempo que temos de importar o equivalente a 7.5 milhões de Euros de bens alimentares por dia, e a nossa produção de petróleo caiu agora para 1.4 milhões depois de um pico de 2.2 milhões de barris por dia em 2010, temos um sector público usado para distribuir salários a parte da população e a nossa economia não e capaz de produzir bens e serviços para dar um nível que o público espera. Em termos políticos a situação é diferente porque o Presidente João Lourenço está apenas no seu primeiro mandato e não sofre ataques a sua legitimidade baseado decorrente dos anos de serviço, como aconteceu com seu predecessor Jose Eduardo dos Santos ou os presidentes da Argélia e do Sudão, e não existe risco iminente de perca produção de Cabinda que já nem constitui a maioria do crude Angolano.

Porém o caso dos 15+2 mostra que parte da oposição civil tem como estratégia as manifestações de massa para denunciar as condições de vida e exigir a demissão de governantes, sendo que este ano por exemplo exigiu-se a demissão de Rui Falcão em Benguela. Não sei se este é a estratégia da UNITA ou dos outros partidos, porem a estratégia deles de uma vitória eleitoral decisiva traz riscos similares porque segundo o último censo dá um crescimento demográfico maior em províncias que a UNITA considera “suas” por serem povoadas por tribos que a UNITA tem como seus apoiantes naturais.

Daí que temos dois cenários que poderia acontecer em Angola:

  1. Um aumento da população Angolana, que poderá ser 45 milhões em 2030, que causa necessidades que excedem as receitas ou que estejam combinadas com a queda das receitas petrolíferas por redução da produção ou mudança do preço do barril, poderia causar uma crise económica. Manifestações seriam então organizadas entusiasticamente pela sociedade civil, que se convenceu durantes anos que este é meio de causar uma revolução dramática traria a democracia, e que poderiam ser usadas para remover um presidente antes de serem reprimidas depois de perderem a utilidade. Ou seja, uma falsa revolução no cenário Sudanês, ou se houver invasão por uma potência externa seria similar à queda do Mobutu em 1997.
  2. Uma crise eleitoral causada porque a UNITA considera injusta porque não entende como pode perder se a maioria dos eleitores vivem em “suas” províncias, como aconteceu na Costa do Marfim.

Concluindo a estratégia de esperar uma crise para causar uma mudança repentina e decisiva não seja a melhor, apesar de ser espetacular e alimentar as nossas fantasias, iria ignorar o problema Demográfico que Angola vive, e já o Governo tem dificuldades financeiras e procura financiamento externos em 2019 como será a situação em 2030 a população de será de 45 milhões?      

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