"Restituímos as escoltas no troço entre Save e Muxúnguè, visando garantir a segurança das pessoas", adiantou à Lusa Sididi Paulo, oficial de imprensa do comando da Polícia da República de Moçambique (PRM) na província de Sofala, após uma série de ataques nos últimos dias que as autoridades atribuem à Renamo (Resistência Nacional Moçambicana).
Esta medida já tinha sido aplicada no mesmo troço, entre 2013 e 2014, na última crise política e militar entre Governo e Renamo, e, apesar disso, foram registados vários ataques que deixaram um número desconhecido de mortos e feridos, incluindo civis, e fortes danos na economia do país.
"Este troço já foi palco deste tipo de incidentes anteriormente e, com estes últimos acontecimentos, decidimos voltar ao sistema de caravanas para proteger as populações", justificou Sididi Paulo.
Segundo a oficial de imprensa da PRM, as colunas são feitas como nos outros anos, "um carro militar em frente, outro no meio e um terceiro no fim da coluna", assegurando, porém, que a situação está calma.
"A situação está controlada. Desde o ataque de ontem [quarta-feira], ainda não registámos nenhum outro incidente".
Sididi Paulo não avançou prazo para o fim das escoltas, afirmando que "esta situação vai prevalecer até haver garantia de que já há segurança para que as pessoas transitem".
Nos últimos dias vários ataques atribuídos a homens armados da Renamo voltaram a provocar o medo e insegurança na N1, a única estrada que liga o sul ao centro e norte de Moçambique, concentrados no troço Save-Muxúnguè mas também na Gorongosa e Maringué, na província de Sofala.
Fonte diplomática da União Europeia (UE) manifestou na quarta-feira preocupação com a "deterioração geral" da situação política e de segurança em Moçambique e quer o fim imediato dos ataques atribuídos à Renamo no centro do país.
Em vésperas de uma visita a Moçambique da alta representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Federica Mogherini, o bloco europeu considera que os recentes ataques na N1, a principal estrada do país, prejudicam a segurança das pessoas, a lei e a ordem e quer que os seus autores "parem imediatamente" com o uso da violência.
Moçambique vive uma situação de incerteza política há vários meses e o líder da Renamo ameaça tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país, onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de outubro de 2014.
Esta é a pior crise em Moçambique desde o Acordo de Cessação de Hostilidades Militares, assinado a 05 de setembro de 2014 pelo ex-Presidente Armando Guebuza e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, colocando termo aos ataques na N1.
A violência política voltou no entanto a Moçambique a seguir às eleições, agravando-se nos últimos meses, com acusações mútuas de ataques, raptos e assassínios.
A Renamo pediu recentemente a mediação do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e da Igreja Católica para o diálogo com o Governo, que se encontra bloqueado há vários meses.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, tem reiterado a sua disponibilidade para se avistar com o líder da Renamo, mas Afonso Dhlakama considera que não há mais nada a conversar depois de a Frelimo ter chumbado a revisão pontual da Constituição para acomodar as novas regiões administrativas reivindicadas pela oposição e que só retomará o diálogo após a tomada de poder no centro e norte do país.
Lusa