Além da entrada de feridos no Hospital Provincial de Nampula, noticiado pela agência moçambicana AIM, onze pessoas foram detidas, de acordo com o canal de televisão privado STV, no dia em que o líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), Afonso Dhlakama, encerrava a campanha para as eleições de quarta-feira, com um comício na capital do maior círculo eleitoral do país.
"Na manhã de hoje, membros da Renamo [Resistência Nacional Moçambicana] espalharam-se pela cidade e praticaram atos de violência, arremessando pedras contra carros e pessoas", disse o porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM), referindo-se ao "comportamento selvático" de elementos do principal partido de oposição.
Além dos confrontos, as autoridades tentaram também dispersar, com gás lacrimogéneo, a multidão que se concentrava no estádio 25 de Setembro para ouvir Dhlakama, no seu comício final da campanha para as eleições de quarta-feira, testemunhou a Lusa no local.
Segundo Ivone Soares, deputada da Renamo e que também foi atingida pelo gás lançado no comício, os apoiantes da Renamo foram perseguidos hoje com provocações, insultos e manobras de intimidação de 'motards' do partido no poder.
"Os ânimos aceleraram e houve situações de pancadaria nas redondezas do local onde ia acontecer o comício. "Mas nada explica", para a dirigente da Renamo, "a força que depois foi aplicada", acusando as autoridades de recorrerem a um blindado do exército e a elementos da Força de Intervenção Rápida (FIR) e provocarem uma "situação de guerra e salve-se quem puder em plena cidade".
A situação não se tornou pior, adiantou, porque houve contactos entre autoridades locais e dirigentes da Renamo e "o blindado foi-se embora e os homens da FIR também".
Ivone Soares disse que em Angoche, distrito da província de Nampula, a delegação local da Renamo foi vandalizada, registando-se também casos de agressões e pelo menos um esfaqueamento de um elemento do partido de oposição.
A AIM informou que em Nacala Porto, também na província de Nampula, houve registo de mais confrontos, feridos e viaturas danificadas.
Apesar dos incidentes, a Renamo manteve o comício de Dhlakama em Nampula e que começou com quase duas horas de atraso, quando a situação tendia a serenar na cidade.
"Felizmente os jornalistas puderam ver em primeira mão aquilo que está a acontecer. Eu não sei se todos os regimes que estão em decadência têm que se comportar dessa maneira. Se o povo não quer a Frelimo {Frente de Libertação de Moçambique, no poder] não insistam. Saiam a bem", disse Ivone Soares.
Um membro da Polícia da República de Moçambique disse à Lusa que "as ordens para disparar contra as pessoas vieram da chefia máxima", não esclarecendo o que levou a polícia a atuar. "Nós apenas viemos cumprir", afirmou.
Moçambique realiza na quarta-feira eleições gerais (presidenciais, legislativas e assembleias provinciais).
líder da Renamo, Afonso Dhlakama passou ontem a tarde em Maputo, onde uma multidão saiu à rua para se certificar de que ele estava mesmo lá, aclamando-o como “papá” e futuro Presidente moçambicano.
Numa ação de campanha para as eleições gerais de quarta-feira, com início na sede da Renamo na cidade de Maputo, a caravana de Afonso Dhlakama foi recebida por milhares de pessoas ao longo de mais de duas horas e sob chuva leve e persistente, que cantavam eufóricas “É papá”,
“O Dhlakama é diferente dos outros, o Dhlakama quer mudar”, afirmou o líder da Renamo, com a voz amplificada pelas colunas de som da caravana, numa das muitas paragens que realizou no centro de Maputo.
Dhakama dançou, cantou e prometeu “acabar com a pobreza, criminalidade e raptos de crianças de pessoas ricas em Maputo”, acusando a Frelimo, partido no poder, de coordenar estes crimes.
“Não vamos perder tempo. Votem na Renamo e no Afonso Dlhakama, o lutador pela democracia, o vosso servidor, o vosso trabalhador”, disse o presidente do maior partido da oposição moçambicana, diversas vezes interrompidos por transeuntes e militantes desta formação política.
“Esperei muito tempo por este dia e é uma grande emoção saber que ele está vivo”, declarou à Lusa Ângela Fernandes, 24 anos, uma apoiante da Renamo na Matola, cidade-satélite de Maputo, referindo-se à ausência de Dhlakama da capital durante mais de cinco anos, quando fixou residência em Nampula antes de refugiar na Gorongosa, no mais recente conflito com o Governo. “Tudo o que ele fala, sabemos que ele vai fazer. Queremos dar-lhe essa oportunidade”, disse ainda.
LUSA\AO24