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Sábado, 25 Janeiro 2014 12:03

Das telenovelas à religião ou economia, Angola na rota do Brasil

Os canais brasileiros de televisão “influenciam os costumes locais” e as suas igrejas conquistam fiéis, enquanto as empresas canarinhas ganham peso na economia. Para a organização anti-pobreza, Christian Aid esta crescente relação exige transparência nas acções cooperativas, para o que se “carece de instrumentos adequados”.

Num relatório recente, a Christian Aid mostra que, entre 2007 e 2010, o comércio entre Brasil e Angola cresceu de 4 mil milhões de dólares para os 20 mil milhões.As relações de cooperação entre Angola e Brasil continuam a intensificar-se, com a sociedade civil em ambos os países a pedir que esta decorra com maior interacção, transparência e monitorização.

Entre 2001 e 2009, os investimentos directos do Brasil em Angola chegaram aos 621 mil milhões de dólares, explicita ainda o relatório. As empresas brasileiras estão a investir principalmente nos sectores de petróleo e gás e da construção civil em Angola. No sector extractivo, a Vale do Rio Doce e a Petrobras são as mais significativas; também na construção civil as maiores empresas brasileiras estão presentes em Angola, a fazer obras de infra-estrutura, planeamento urbano e habitações.

As relações entre o Brasil e Angola também se estreitam fora do campo económico. Entre 2003 e 2012 assinaram-se 62 projectos de cooperação técnica, científica e tecnológica entre os dois lados do Atlântico. Também na área cultural, os canais brasileiros de televisão “influenciam os costumes locais,” afirma o relatório, e no campo religioso as investigadoras escolhem sublinhar a presença da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola desde 1992, com 250 templos no país.

O estudo, encomendado pela organização anti-pobreza Christian Aid, de origem britânica, reflecte ainda sobre as perspectivas sobre a presença brasileira em Angola, que “oscila entre ressaltar o êxito alcançado pelo Brasil na implementação de políticas de redução da pobreza,” e um discurso de dívida brasileira relativamente ao continente africano, de afinidade cultural.

Quanto às exigências futuras nesta relação de cooperação, as investigadoras do LABMUNDO, laboratório de análise política mundial da Bahia, chamam a atenção para a necessidade de transparência nas acções cooperativas, necessidade esta que “carece de instrumentos adequados” e “é um aspecto relevante para o êxito do monitoramento da cooperação.” Além disto, propõem que seja feito um melhor acompanhamento de certificação de que as leis e convenções nacionais e internacionais estão a ser respeitadas, tanto nos campos ambientais como de contratação, expropriação de terras ou qualidade das obras.

Foi ao longo das últimas duas décadas que Brasil e Angola se começaram a reaproximar, a partir de um discurso diplomático que dá mais prioridade à cooperação Sul-Sul. Segundo as autoras deste relatório, “é preciso aprofundar o conhecimento sobre as assimetrias económicas entre os dois países, indicando não apenas o lugar que cada uma ocupa no cenário económico e político internacional, mas também como as diferenças permeiam as relações de cooperação.”

Lusomonitor

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