"A recente desvalorização [do kwanza] deve colocar uma pressão adicional na taxa de inflação durante os próximos meses", lê-se numa nota de análise aos mercados africanos que os economistas do banco português enviaram aos clientes.
No documento, a que a Lusa teve acesso, os analistas explicam que "a autoridade monetária espera abrandar a pressão inflacionária, dado o aumento da taxa de inflação nos últimos meses" e lembram que só em agosto os preços subiram 11,01% em Luanda face ao período homólogo, enquanto em julho tinha subido 10,41% sobre o mesmo período do ano anterior, o que dificulta a meta de 9% definida pelo executivo.
Em agosto, o Banco Nacional de Angola (BNA) aumentou a taxa de juro de referência pelo terceiro mês consecutivo, para 10,5%.
Devido à crise decorrente da quebra na cotação internacional do petróleo, Angola viu reduzir a receita fiscal para metade, assim como a entrada de divisas no país, agravando o custo das importações e o acesso a produtos, inclusive alimentares.
Os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística angolano indicam que, analisando a situação em agosto (mas com o total de doze meses), voltou a ser ultrapassado, tal como em julho, o intervalo (7 a 9%) para a inflação anual previsto pelo Governo angolano no Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2015, revisto em março precisamente devido à crise petrolífera.
A taxa de inflação a doze meses representa um máximo desde abril de 2012, tendo em conta os dados do INE.
A Lusa noticiou em agosto que, segundo o Banco Angolano de Investimento (BAI) Europa, a crise que afeta Angola deverá comprometer as metas do Governo de manter a inflação abaixo dos 9% em 2015.
A situação é explicada no boletim daquele banco sobre o comportamento da economia angolana no terceiro trimestre com as consequências da crise da quebra da cotação internacional do barril de crude.
"É agora expectável, com o maior deslizamento cambial, uma aceleração dos preços, afigurando-se razoável admitir, desde já, a impossibilidade de cumprir o objetivo anual da inflação que, segundo a proposta de Revisão do OGE, não deveria exceder 9%, em média anual", escrevem os analistas do BAI Europa.
A posição é justificada também com base no conjunto de políticas - orçamentais, cambiais, monetária e outras -, preparado pelo Governo para lidar com as dificuldades, nomeadamente de acesso a divisas.
Dizem os especialistas daquele banco - cujo grupo é um dos maiores em Angola - que "uma das consequências prováveis" destas medidas "deverá fazer-se sentir ao nível dos preços no consumidor, devido ao peso dos produtos importados nas despesas de consumo das famílias".
Lusa