Domingo, 12 de Mai de 2024
Follow Us

Quarta, 15 Abril 2015 12:21

Falta de liquidez e confiança anulam esforço de Angola para relançar economia

A Economist Intelligence Unit (EIU) considera que os esforços de Angola para facilitar o acesso ao crédito e incentivar o investimento baseiam-se na existência de liquidez e confiança dos investidores, duas premissas quase inexistentes hoje em dia

De acordo com uma nota sobre o ambiente empresarial em Angola, enviada esta semana aos investidores, e a que a Lusa teve acesso, os peritos da unidade de análise económica da revista britânica The Economist dizem que o Governo está a tomar medidas para diversificar a economia e promover o investimento, mas está a ter dificuldades em distanciar-se da imagem de um regime marcado pela corrupção.

"As medidas para facilitar o acesso ao crédito e acelerar o investimento são benvindas, e alguma proteção pode ajudar a indústria nacional a crescer, mas esses esforços baseiam-se na liquidez e na confiança dos investidores, duas coisas que estão atualmente em baixo em Angola", lê-se no documento.

A nota enviada aos investidores vai ao ponto de dar conta de "relatos na imprensa local", segundo os quais os investidores estariam a ser aconselhados a "incentivar as autoridades", na forma de subornos, para que as contas sejam pagas.

"De acordo com relatos da imprensa local, as empresas que queiram ver as suas contas pagas estão a ser encorajadas a incentivar as autoridades nos ministérios. Verdade ou não, isto não faz nada para ajudar Angola a sacudir a sua má reputação no que diz respeito à corrupção", lê-se no relatório enviado aos investidores internacionais assinantes da EIU.

Os analistas acrescentam, de resto, que os atrasos nos pagamentos do Estado e das empresas públicas intensificaram-se nas últimas semanas, havendo "algumas empresas que afirmam que não receberam qualquer dinheiro desde setembro de 2014", mas esta situação, notam os analistas, não é propriamente uma novidade.

"Esta não é a primeira vez que o Governo angolano acumulou atrasos nos pagamentos do Estado; no pico da crise de 2008/2009 - também causada pela descida dos preços do petróleo - Angola acumulou mais de 7 mil milhões de dólares de dívidas às empresas, principalmente construtoras estrangeiras, e em 2013, o ministro das Finanças, Carlos Alberto Lopes, foi demitido por causa de contas por pagar, atribuídas a má gestão e supervisão", escreve a EIU.

Apesar das críticas, os analistas reconhecem que Angola "está a tentar afincadamente reduzir o impacto negativo da queda do preço do petróleo e insiste que é uma oportunidade para desenvolver a sua economia não-petrolífera, que representa mais de metade do PIB, mas só 10% das receitas governamentais".

Entre as iniciativas elogiadas pela EIU está o programa Angola Investe, que pretende potenciar os investimentos das pequenas e médias empresas, a revisão da Lei do Investimento Privado e os incentivos de crédito aos empresários nacionais, mas, alertam, "estes ganhos arriscam-se a ser anulados pelos atrasos nos pagamentos do Estado e por um ambiente empresarial mau, minado pela ineficiência e pela corrupção".

Por isso, a EIU conclui que "operar em Angola não é fácil", mas nota que estas iniciativas para reavivar o investimento e mudar a legislação sobre o crédito podem ajudar a estimular o crescimento e criar os empregos e a diversificação económica altamente necessários".

Ainda assim, isso não deve ser suficiente para fazer subir o PIB até aos 6,6%, como prevê o Governo no Orçamento retificativo, que por sua vez representa uma revisão em baixa face aos 9,7% inicialmente estimados: "A EIU acredita que um valor de 3,5% é mais provável, dado o significativo impacto económico dos preços baixos do petróleo".

LUSA

Rate this item
(0 votes)