Há 26 nomes que reúnem o consenso entre os cinco partidos que compõem a comissão parlamentar de inquérito ao BES. A família Espírito Santo terá toda de prestar esclarecimentos. Maria Luís Albuquerque e os reguladores também.
Há nomes que são conhecidos pelo papel noutras empresas que não o banco ou o Grupo Espírito Santo mas que, mesmo assim, irão falar sobre eles. Zeinal Bava e Henrique Granadeiro são exemplos. Ambos foram presidentes da Portugal Telecom, empresa que aplicou grande parte dos excedentes de tesouraria em dívida do Grupo Espírito Santo, sem assegurar a diversificação, como era afirmado nos relatórios. O não pagamento de uma dívida de uma empresa do GES, a Rioforte, acabou por prejudicar a PT na fusão com a brasileira Oi.
A audição a Pedro Queiroz Pereira, que enviou documentação em 2013 ao Banco de Portugal sobre o GES, é requerida por todos os partidos, oposição ou maioria, já que terá tido um papel de relevo na identificação de alegadas irregularidades no universo Espírito Santo. O presidente da Semapa, que controla a Portucel, era aliado de Salgado mas a relação entre ambos acabou por se deteriorar.
Álvaro Sobrinho, que entrou em colisão com Salgado devido à gestão no BES Angola, unidade que causou fortes perdas à casa-mãe, também é um nome inscrito nas listas enviadas por todos os partidos.
Conselho Superior é todo chamado
A família Espírito Santo, nomeadamente o Conselho Superior do Grupo Espírito Santo, onde se tomavam as grandes decisões estratégicas do grupo, é chamada. Pede-se a presença de oito membros da família desde Ricardo Salgado a António Ricciardi e o seu filho José Maria Ricciardi. Mesmo o nome de Maria do Carmo Moniz Galvão, a líder do ramo da família que era o principal accionista do GES e que raramente aparece em público, é requerido por todas as forças políticas.
Amílcar Morais Pires, António Souto e Joaquim Goes fizeram parte da administração do BES encabeçada por Salgado e devem agora, também, acompanhá-lo na ida ao Parlamento, dado que constam dos quatro requerimentos endereçados ao presidente da comissão, Fernando Negrão (são cinco partidos mas o PSD e o CDS fizeram um requerimento conjunto). Pedro Brito e Cunha, presidente da Tranquilidade que pertencia ao GES, é chamado pelos partidos, à excepção do PCP.
Tal como a oposição, também a maioria está interessada em ouvir as declarações de Francisco Machado da Cruz, o "commissaire aux comptes" [contabilista] da Espírito Santo International, sociedade do Grupo Espírito Santo onde foram detectadas irregularidades que acabaram por afectar todo o universo. Machado da Cruz é acusado por Salgado de ter causado tais falhas. Sikander Sattar, da KPMG que auditava as contas do BES, é chamado também por PS, PSD e CDS/PP, BE e PCP.
Almunia pode responder por escrito
A ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque é a única governante que é chamada por todos os partidos, apesar de já ter prestado declarações sobre o tema na comissão de Orçamento e Finanças por duas vezes. Paulo Portas, Pires de Lima, Vítor Gaspar e Carlos Moedas são chamados por quatro partidos (os primeiros três à excepção do Bloco, o último à excepção do PCP).
Os representantes da troika no programa de ajustamento português também são convocados a falar sobre o BES, desde Poul Thomson, do Fundo Monetário Internacional, a Rasmus Ruffer, do Banco Central Europeu.
Joaquín Almunia, o comissário europeu com responsabilidades sobre a Concorrência, é uma das audições pedidas pelo PS, PSD e CDS/PP. O PCP pede um esclarecimento por escrito.
Supervisores são chamados, PS "dispensa" Constâncio
Os supervisores também são chamados. Carlos Costa e Pedro Duarte Neves, do Banco de Portugal, Carlos Tavares, da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, e José Almaça, do Instituto de Seguros de Portugal, deverão ter de explicar tudo o que poderá ter levado à difícil situação do BES e à aplicação de uma medida de resolução que ditou o seu fim.
Vítor Constâncio é chamado por ter estado na supervisão quando liderou o Banco de Portugal, antes da entrada de Carlos Costa, em 2010. Só o Partido Socialista não convoca aquele que já foi o seu secretário-geral.
Vítor Bento, que se recusou a falar na comissão de Orçamento, não poderá evitar uma ida ao inquérito parlamentar, sob pena de um processo, já que a sua presença é requerida por todos os partidos. Eduardo Stock da Cunha, presidente do Novo Banco, e Luís Máximo dos Santos, responsável pelo actual BES (que tem os activos considerados problemáticos), são igualmente convocados.
À excepção do PS, os partidos também chamam Fernando Ulrich, presidente do BPI, Nuno Amado, presidente do BCP, e José de Matos, presidente da CGD, para prestarem declarações sobre o concorrente.
Estes são os nomes que reúnem o consenso entre todos os partidos mas ainda terá de haver um entendimento entre todos sobre quem convocar. A comissão parlamentar de inquérito tem a próxima reunião no dia 28 de Outubro, onde a "organização dos trabalhos" é o único ponto da agenda. As audições deverão começar nas próximas semanas. Até agora, há 120 dias para os trabalhos se desenrolarem – até Fevereiro. A legislação permite uma extensão por mais 90 dias, ou seja, até Maio. O Diário Económico escrevia hoje que a maioria abre portas a esse prolongamento, dada o previsível grande número de audições.
Os 26 nomes que reúnem entendimento
Maria Luís Albuquerque - ministra das Finanças
Ricardo Salgado - antigo presidente do BES
Antonio Ricciardi - membro da família Espírito Santo
Manuel Fernando Espírito Santo Silva - membro da família Espírito Santo
José Manuel Espírito Santo Silva - membro da família Espírito Santo
Pedro Mosqueira do Amaral - membro da família Espírito Santo
José Maria Ricciardi - membro da família Espírito Santo
Maria do Carmo Moniz Galvão Espirito Santo Silva - membro da família Espírito Santo
Ricardo Abecassis - membro da família Espírito Santo
Amílcar Morais Pires - antigo administrador do BES
António Souto - antigo administrador do BES
Joaquim Goes - antigo administrador do BES
Francisco Machado da Cruz - contabilista da ESI
Carlos Costa - governador do Banco de Portugal
Pedro Duarte Neves - vice-governador do Banco de Portugal
Carlos Tavares - presidente da CMVM
José Almaça – presidente do ISP
Laginha de Sousa - presidente da Euronext (Bolsa de Lisboa)
Sikander Sattar - presidente da KPMG em Portugal
Vitor Bento - antigo presidente do Novo Banco
Stock da Cunha - presidente do Novo Banco
Máximo dos Santos - presidente do BES "mau"
Pedro Queiroz Pereira - presidente da Semapa
Álvaro Sobrinho - antigo presidente do BESA
Zeinal Bava - antigo presidente da Oi/PT
Henrique Granadeiro - antigo presidente da PT
DN|JN