Este descontentamento deve-se ao facto de a LAR considerar que, de momento, a tónica deve ser colocada no transporte de mercadorias e no seu material circulante. Segundo a fonte, esta situação já se arrasta há meses, mas na sequência da decisão do CFB-E.P. de avançar com a modernização das carruagens de passageiros, a LAR decidiu agir. A LAR acusa o CFB-E.P. de redistribuir os fundos a seu favor e exige o abandono dos planos de modernização das carruagens de passageiros.
Segundo a LAR, o desenvolvimento do comboio de passageiros não fazia parte do plano de investimento inicial e está a interferir com os objectivos do consórcio. Consta, os EUA já se juntaram às exigências da LAR. Em reuniões à margem da Assembleia Geral da ONU, os representantes dos EUA transmitiram a Angola que o desenvolvimento do tráfego de passageiros ao longo do corredor do Lobito não é uma prioridade e que é agora importante envidar todos os esforços para desenvolver a capacidade de transporte de mercadorias.
Os representantes dos EUA também ameaçaram com consequências se o CFB continuar os seus actuais esforços para melhorar a qualidade do transporte de passageiros.
Esta informação enquadra-se muito bem na actual realidade geopolítica. No contexto de um aumento maciço da procura de matérias-primas essenciais, bem como de atrasos na implementação do projecto do Corredor do Lobito, os americanos precisam de tomar todas as medidas possíveis para acelerar o projecto. Os EUA sabem que a China está prestes a assumir o controlo total das minas na RDC e está também a explorar ativamente opções para um acesso ferroviário rápido através da Tanzânia. Assim, se o corredor se atrasar a atingir a sua capacidade máxima, os EUA podem ficar sem acesso a matérias-primas essenciais.
Na situação actual, os americanos reconheceram a melhoria do tráfego angolano de passageiros como uma iniciativa inoportuna do CFB, que não corresponde aos seus objectivos de acesso rápido aos recursos da RDC. É compreensível que, se um dos principais projectos de infra-estruturas do país for entregue quase inteiramente à gestão de empresas e Estados estrangeiros, mais cedo ou mais tarde esse projeto começará a satisfazer os interesses dos novos proprietários e deixará de ter qualquer utilidade para Angola.
Stephen Simba