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Terça, 15 Março 2016 14:44

Corrupção, mercados e política marcam crises nas economias lusófonas

A dependência do petróleo em Angola, o fantasma da guerra civil em Moçambique ou as metástases da corrupção no Brasil ajudam a explicar algumas das crises no mundo português.

Uma parte significativa do mundo que fala português vive uma crise profunda. A conjuntura tem implicações sociais que, tudo indica, ainda estão em fase de amplificação, e repercussões económicas que vão pressionar negativamente a criação de riqueza, o aumento dos respectivos Produtos Internos Brutos (PIB), as exportações e a capacidade de absorver importações. Brasil, Angola e Moçambique são actualmente as três geografias mais expostas à (nova) crise. E, embora os seus contornos não estejam ainda totalmente definidos, é garantido o seu impacto na economia portuguesa, exposta em diferentes graus a esses mercados. 

O denominador comum é a baixa de preços das ‘commodities’ – especialmente as áreas energéticas, mas não só –, o que tem sido um factor muito negativo para os orçamentos de cada um dos páises. O preço do petróleo nos mercados mundiais (que se mantém perigosamente perto dos 40 dólares) despoletou uma avalanche de consequências imprevistas, que obrigaram ainda em 2015 à preparação de orçamentos rectificativos e que, já este ano, passaram de problema conjuntural à evidência de catástrofe estrutural.

Com a OPEP sem capacidade de resposta aos preços baixos e os Estados Unidos a chegarem novamente à condição de maior produtor do mundo e a inundarem os mercados com o muito barato gás de xisto, a crise dos preços do crude veio para ficar. E se, no caso de Angola, a ‘mono cultura’ do petróleo é um problema que os dirigentes políticos vão ter de enfrentar através da diversificação e da industrialização, já no caso do Brasil o drama do petróleo estende-se às outras ‘commodities’ (nomeadamente as agrícolas) que o país produz em largas quantidades. 

No que toca a Moçambique, o país ainda está a tempo de não ‘embarcar’ no mesmo erro: estudos internacionais apontavam para que, em 2020, metade do PIB daquele país fosse suportado pela exploração de gás natural – mas a crise dos mercados talvez aconselhe uma exposição menos monocórdica ao sector. Eainda ainda falta fechar acordos de concessão e exploração dessa fonte energética.

Crise cambial não ajuda

Mas, para além deste denominador comum, cada país tem as suas particularidades. Angola deu indicações de que a sua estrutura de poder pode estar a pretender adaptar-se a um mundo novo. O facto de o presidente José Eduardo dos Santos, no poder há pouco menos de 40 anos, ter anunciado que deixará a política activa em 2018, parece ser encarado pelos observadores internacionais como uma janela de oportunidade para a democracia e para a economia de mercado (no que ela tem de contrário às oligarquias). E nem mesmo a inevitável ‘interferência’ de Eduardo dos Santos na escolha do seu sucessor parece ser um problema complicado.

Como recordou o embaixador Francisco Seixas da Costa ao Económico, “é preciso que os portugueses não tenham tentações neo-colonialistas e percebam que a democracia em Angola só tem 14 anos” – sendo altamente desaconselhado qualquer processo de intenções externo no que diz respeito ao desenvolvimento político do país.

Mas esse não é o único problema em Angola. Tal como no mercado moçambicano, a desvalorização da moeda local está a causar estragos. E ontem as notícias voltaram a ser más: os bancos angolanos não receberam divisas na última semana, depois de no período anterior o Banco Nacional de Angola só ter vendido euros, indica um relatório semanal do banco central sobre a evolução dos mercados monetário e cambial.

Política e tentações armadas

Mais a Leste, a situação de Moçambique é mais surpreendente: o que está em causa é a ameaça de voltar à guerra civil. O acordo de paz entre a Frelimo e a Renamo, os dois partidos mais representativos, tem mais de 20 anos (foi assinado em 1992, com as primeiras eleições gerais a ocorrerem dois anos depois), mas o certo é que as escaramuças entre as duas forças nunca cessaram totalmente. Com o ciclo eleitoral concentrado em 2014 (presidenciais, legislativas e provinciais), a Renamo voltou a pegar em armas e têm surgido conflitos, em especial no centro do país. Um português que vive em Maputo explicou ao Económico que “a guerra não se sente na capital”, mas a tentação das armas está de volta.

No Brasil, o que marca a diferença só tem um nome: corrupção. A dimensão, a profundidade e as metástases do caso de corrupção que envolve a Petrobras, o Partido dos Trabalhadores, as grandes empresas de construção e o que mais ainda se vier a descobrir não parece ter paralelo no país. E, como dizia ao Económico Armindo Monteiro, empresário com interesses em Angola no Brasil – que ontem estava precisamente naquele país – “o grande problema é que os investidores estrangeiros estão a perder a paciência, e o Brasil não consegue sobreviver sem esses investidores, nomeadamente dos Estados Unidos” (ver entrevista na página ao lado). Entre os problemas com a justiça, as crises económicas e financeiras e os dilemas políticos, é certo que Portugal acabará por sofrer as consequências destas conjunturas em diferentes.

Economico.pt

 

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