"Foi fechado; formavam delinquentes enquanto não estavam legal," concluiu a nossa Fonte.
O preso político Nito Alves tem 19 anos. Com 15 anos, quando ainda vivia no Huambo, escolheu mudar de nome. No novo registo, acrescentou a Manuel Chivonde Baptista o nome Nito Alves, do líder (com José Van Dunem) do movimento que, dentro do MPLA, contestou o Presidente Agostinho Neto, e foi brutalmente reprimido no 27 de Maio de 1977. E foi pelo nome de Nito Alves que passou a ser conhecido “o rapaz que abalou o regime” quando em 2013 esteve preso dois meses, acusado de “ultraje ao Presidente”, por ter imprimido t-shirts com palavras contra o Presidente José Eduardo dos Santos.
Manuel Nito Alves é acusado de usar um nome falso e ilegal pelo Ministério Público que acrescenta a essa acusação a mesma que profere contra todos os 15 activistas presos desde Junho, a acusação de “um crime de actos preparatórios para a prática de rebelião” e “atentado contra o Presidente da República ou outros membros de órgãos de soberania”.
Manuel Chivonde Nito Alves e os restantes ativistas estão cumprir prisão domiciliária desde dia 19 de dezembro de 2015.
20 de Junho de 2015, preso políticos Nito Alves e 12 outros activistas do grupo foram surpreendidos por agentes da Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC) na habitual reunião que os juntava aos sábados na livraria Kiazele, no bairro central de Vila Alice – inspirados por obras como o livro de Gene Sharp, Da Ditadura à Democracia: uma abordagem conceptual para a libertação, sobre estratégias de luta contra ditaduras.
Um dia depois, na cidade de Santa Clara, na província de Cunene, era preso Domingos da Cruz, quando viajava para a Namíbia, enquanto em Luanda, agentes da polícia revistaram a sua casa de onde levaram “tudo o que era papéis com escrita”. Professor e escritor, Domingos da Cruz foi durante muito tempo “vigiado pelas autoridades pelos seus escritos considerados subversivos”. O seu livro Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura: Filosofia Política de Libertação para Angola é descrito pelo jornalista Rafael Marques como sendo inspirado e adaptado da obra de Gene Sharp.
O académico angolano não faz parte do Movimento Revolucionário mas participou, como orador, nalgumas das reuniões que se realizavam desde Maio pelos presos (e outros que não puderam estar nesse dia). Como este professor – que fez um Mestrado em Ciências Jurídicas sobre Direitos Humanos na Universidade Federal da Paraíba, no Brasil que dias depois da sua detenção apelou à sua libertação – também o académico Nuno Dala, 31 anos, fez estudos no estrangeiro. Tinha sido preso na na livraria Kiazele.
Nuno Dala concluiu um Mestrado em Ciências da Educação pela Universidade de Winnipeg, Canadá, e é investigador e professor da Universidade Católica de Angola. Também dá aulas no Centro de Atendimento e Integração de Crianças Especiais.
Na mesma fim-de-semana de Junho, Domingos da Cruz e os 13 detidos em Luanda foram levados para cadeias fora da capital, onde ficaram semanas em isolamento e sem contacto com a família e advogados, sem saberem de que eram acusados.
Osvaldo Caholo, tenente da Força Aérea e professor auxiliar de História de África na Universidade Técnica de Angola, a mesma onde se licenciou em Relações Internacionais, foi preso uns dias mais tarde. Um mês antes tinha sido distinguido como um dos melhores alunos que frequentou a Universidade Técnica de Angola, contou a mulher Delma Bumba. Era com ela que estava em casa, quando alguém às 7h00 da manhã se fez passar por vizinho, ligou pelo intercomunicador, sob pretexto de que estava um carro vandalizado à porta e pediu para Caholo abrir a porta. Seis elementos das forças de segurança entraram e levaram-no. Voltaram mais tarde para revistar tudo, levar computador, telefones e muitos livros. Entre eles estava Purga em Angola de Dalila e Álvaro Mateus, sobre os massacres do 27 de Maio.
Além do tenente da Força Aérea Osvaldo Caholo, dos dois docentes universitários Domingos da Cruz e Nuno Dala, e do músico e engenheiro Luaty Beirão há, entre os presos, professores, um mecânico, um engenheiro informático, um funcionário público, o jornalista do jornal Folha 8 Sedrick de Carvalho, o estudante e técnico informático Nelson Dibango, de 32 anos, e estudantes, como Benedito Jeremias “Dito Dali” de 26 anos, que está a estudar Relações Internacionais e Inocêncio António de Brito “Drux”, 28 anos, de quem a irmã conta como foi levado de casa com um saco preto na cabeça para não se aperceber para onde ia.