Segundo o presidente da Rede Angolana das Organizações de Serviços de Sida e Grandes Endemias (Anaso), organização não-governamental, António Coelho, o fenómeno da contaminação dolosa por VIH/Sida, “que já estava mais ou menos controlado, está de volta”.
“Portanto, as pessoas com alguma saúde financeira de todos os estratos da sociedade, entre membros do governo, deputados, empresários, polícias e militares, neste momento estão com esse comportamento que é a questão da contaminação dolosa”, disse hoje o responsável.
“De forma consciente, essas pessoas têm estado a utilizar as nossas jovens para passarem e disseminarem e epidemia e também temos que realizar um estudo para perceber que fatores têm estado a contribuir para termos este fenómeno de volta”, apontou António Coelho.
Em declarações à margem do encontro mensal da Anaso sobre as jornadas alusivas ao Dia Mundial da Sida 2022, realizado hoje, em Luanda, o presidente da organização apontou a contaminação dolosa como um dos principais fatores que concorrem para o alto índice da epidemia em Angola.
O elevado índice de pobreza em Angola, a grande mobilidade da população e o início precoce da atividade sexual por parte das jovens dos 10 aos 14 anos envolvidas na prostituição, realçou António Coelho, estão igualmente entre os principais fatores do aumento do VIH/Sida no país.
“Nós estamos neste momento a assistir jovens dos 10 aos 14 anos que estão a entrar para o mundo da prostituição por causa sobretudo dos problemas do fórum social”, salientou.
António Coelho considerou mesmo que há localidades em Angola onde a situação do VIH/Sida “não é preocupante, mas sim alarmante”.
A problemática dos dados estimados sobre o VIH/Sida em Angola, que segundo a ONG é de cerca de 340.000 seropositivos, muitas vezes, frisou, “não refletem a realidade dos factos, sobretudo em distintas localidades do país”
“A outra questão de financiamento o país não tem dinheiro para lutar contra a Sida, o OGE (Orçamento Geral do Estado) reserva uma contribuição bastante limitada, temos estado a olhar para parceiros internacionais, mas ainda assim também estamos muito limitados”, afirmou.
O líder associativo adiantou igualmente que Angola enfrenta, há 12 meses, problemas de disponibilidade de produtos para a prevenção do VIH/Sida, nomeadamente material de informação e educação, testes, reagentes, e que o país “está neste momento sem preservativos”.
“Não há rotura, mas há limitação na distribuição dos antirretrovirais, sabem que os antirretrovirais chegam a custo zero, mas a verdade é que estamos a evoluir para uma situação bastante complicada”, alertou.
Se “não forem tomadas medidas urgentes”, observou o responsável, “seguramente que nos próximos tempos vamos registar também uma rotura a nível dos antirretrovirais”.
Pelo menos 16.000 pessoas morrem anualmente em Angola vítimas do VIH/Sida e o país, que tem cerca de 340.000 seropositivos, está a registar diariamente cerca de 20 novas infeções, sobretudo entre jovens, como anunciou hoje a Anaso.
Segundo a Anaso, Angola tem uma taxa de prevalência de 2% e o VIH/Sida no país continua a ter o rosto feminino, com cerca de 190.000 mulheres vivendo com a doença, 44.256 jovens entre os 14 e 24 anos e cerca de 39.000 crianças dos zero aos 14 anos vivem igualmente com o vírus.