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Terça, 14 Janeiro 2014 18:54

Entre montes de lixo e o silêncio das autoridades

Sem respostas das autoridades de Luanda nem uma saída aparente, a situação do saneamento básico continua a constituir um grave problema nos bairros "Malanjino", Teixeira e Balumuka, sitos entre o Popular, Cassequel e Golfe-Correios.

Quando, em Agosto do ano passado, foi lançado o alerta através de uma foto publicada nas redes sociais sobre o estado precário do saneamento básico no Bairro Malanjino, Teixeira e Balumuka, pequenos subúrbios situados entre os bairros Popular, Correios e Cassequel, estava-se longe de perceber a dimensão real de um problema que, segundo a reclamação de moradores, parece não encontrar ainda respostas para a grave situação com que se debatem diariamente as populações locais.

Os acessos são dificílimos, mesmo em tempo seco, agravando-se mais ainda nos meses em que chove intensamente, como atestam relatos recolhidos no local a partir de cidadãos ali residentes. Convivem há já alguns anos com um cenário de clara precariedade em termos de saneamento básico. "Se a administração não faz nada, o que é que podemos fazer?", questiona- se o morador Armando Jorge, que, por outro lado, lamenta o estado em que se encontra o bairro e o facto de, em seis anos quase, não haver uma resposta das autoridades. "O que é que podemos fazer mais?", deixa a questão no ar.

SEM RECOLHA DESDE 2008

Centenas, senão mesmo milhares de famílias, são obrigadas a lidar com um quadro desolador, que já parece vulgar e fazer parte do dia-a-dia de quem ali fixou residência. "Este bairro já existe há muito tempo, mas sempre estivemos bem até virem mexer na vala de drenagem. Em 2008, desde que eles chegaram, até à data de hoje, a situação é esta: muito lixo. Não há recolha desde essa data, porque os carros não podem entrar. Só chegam até às ruas de cima do Cassequel", esclarece Nelson Abias, um outro morador. Em Agosto do ano passado, o Novo Jornal deu conta do facto, noticiando inclusive a morte de crianças que escolheram para espaço de diversão a vala de drenagem bloqueada pelos resíduos sólidos. As autoridades distritais do Kilamba Kiaxi, nessa altura, descartaram qualquer responsabilidade por se tratar de uma zona de fronteira entre o distrito da Maianga e do Kilamba Kiaxi, embora tivessem admitido conhecer a situação.

FIM DO CULTIVO

No passado mês de Novembro, segundo relatos da camponesa Maria João, uma equipa do distrito da Maianga esteve no local com uma máquina a desassorear o curso alternativo da vala de drenagem, uma vez que esta tem as obras suspensas há já quase seis anos. Por essa altura, o curso da vala foi desviado para uma zona onde Maria João e familiares cultivavam couve e milho. Tal decisão condicionou a actividade que esta desenvolvia, num terreno que herdou da mãe. Mas em Novembro, Maria João viu- -se obrigada a pôr fim ao cultivo, uma vez que o espaço em que trabalhava foi destruído. A reportagem do Novo Jornal voltou recentemente ao local e constatou a mudança no espaço, à excepção do lixo que ainda ali abunda. Maria João, hipertensa, mãe de sete filhos, antiga praticante de karaté e antiga funcionária dos serviços gerais do então Ministério das Obras Públicas, é hoje uma mulher em pranto. "Aqui era o único sítio onde tirava o sustento para os meus filhos. Quando eles chegaram, estava a chegar do hospital. Falei com o senhor que estava na máquina, que foi muito educado, mas dias depois quando cá voltaram destruíram tudo e agora a situação é esta que se vê", explica Maria João.

O MERCADO A CÉU ABERTO

Um outro cenário,que salta facilmente à vista, é o do mercado a céu aberto num local com enorme quantidade de lixo. Nem mesmo as moscas e o cheiro nauseabundo impedem os comerciantes e as crianças de ali estar. Quem por ali se dedica à venda de bens parece pouco ou nada se importar com as condições de higiene sanitária. "Não temos mais outro local onde possamos vender. O que é que vamos fazer?", atira uma vendedeira.

ADMINISTRAÇÃO DA MAIANGA A REAGE

De acordo com declarações do administrador distrital da Maianga, Manuel Marta, em resposta ao NJ, o problema das valas de drenagem e o seu desassoreamento está a cargo de uma empresa pública - Unidade Técnica de Gestão de Luanda - constituída pelo Governo para dar tratamento a todas as valas de drenagem da capital, incluindo a de Cassequel. "É uma empresa com meios sofisticados, porque aquilo exige um trabalho de engenharia sério e não temos estes meios nem recursos para este efeito, por isso é que o governo achou por bem constituir uma empresa só com essa finalidade", salienta o responsável. Segundo o governante, a situação da presença de grandes quantidades de lixo tem uma explicação: Por um lado há uma empresa que faz periodicamente a recolha dos resíduos sólidos, por outro, existe uma comunidade que, passados alguns dias, deposita enormes quantidades de lixo nos mesmos locais em que foi feito o desassoreamento. "O trabalho está a ser feito a partir do Cariango, vindo do Cazenga para baixo, Senado da Câmara e assim sucessivamente. Por isso, o trabalho que temos feito é de sensibilizar os nossos parceiros e educar a população para que não coloque o lixo nas valas, mas infelizmente não são acatados os nossos pedidos e, de quando em vez, vamos fazendo um trabalho paliativo. Não podemos interferir, nem devemos, porque aquilo é um trabalho sério de engenharia, nas competências da Unidade Técnica de Gestão de Luanda", defende.

MAIANGA A DIZ CUMPRIR O SEU PAPEL

Quanto aos trabalhos de reabilitação da vala, suspensos desde 2008, o responsável distrital afirma que tudo dependerá do serviço de engenharia que está a ser feito. "Se eu lhe dissesse que este ano a vala fica limpa, estaria a mentir. Tudo depende do trabalho que está a ser feito pelos próprios técnicos, que estão a levantar muros, estão a desassorear e aos poucos vão avançando até chegar ao nosso distrito, mas o trabalho está feito com engenharia séria", garante Manuel Marta. Sobre as insuficiências dos serviços de limpeza em todo o perímetro do distrito, Manuel Marta lembra que a Maianga tem apenas uma única empresa que o governo provincial contratou para a recolha de resíduos sólidos, a Envirobac, que, segundo diz, tem áreas limitadas, de acordo com o contrato que foi formulado com o governo da província. "O restante está sob tutela e responsabilidade da Elisal que gere a política de saneamento básico na província de Luanda. Nós somos apenas meros acompanhantes, porque não temos meios", justifica.

NJ

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