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Sexta, 22 Janeiro 2016 20:42

José Kalupeteca nunca usou telefone nem a escrita

José Julino Kalupeteca tem 47 anos de idade, é natural do Huambo, pai de oito filhos e é camponês de profissão.

Ele está a ser julgado no Tribunal Providencial de Huambo onde declarou não ter visto mortos no monte Sumi.

Após desentendimentos com a Igreja dos Adventistas do Sétimo Dia, em que chegou a ser líder da juventude depois de ter frequentado a um curso bíblico, fundou o que chama a sua igreja, A Luz do Mundo, em meados de 2006.

O líder que movimentou centenas de pessoas para os seus cultos em várias montanhas de Angola estudou apenas durante quatro meses na primeira classe.

Por “razões espirituais”, segundo disse no tribunal nesta quinta-feira,  ele não usa telefone. Kalupeteca também não escreve.

Ao longo do interrogatório não se cansou de responder, de forma serena, às mais de 80 perguntas feitas pelo juiz presidente Afonso Pinto, mas, em determinados momentos em que não entendeu as perguntas repetiu “estou perdido, doutor”.

O também conhecido como “pai Kalupeteca” conta a sua versão dos factos do monte Sumi, onde, segundo as autoridades, morreram oito oficiais das forças da segurança e 13 civis.

José Julino Kalupteca repetiu várias vezes não ter visto nenhuma morte, nem de civis, nem do polícias.

Ao explicar os acontecimentos, José Julino Kalupteca disse que a polícia chegou em quatro grupos e o comandante dirigiu-se a ele.

"Quando o comandante chegou eu estava a rezar, ele  perguntou `você é o Kalupeteca?´, eu respondi que sim,  mas daí para frente não vi mais nada,  só só fumo e poeira”, garantiu o também conhecido pelos seus seguidores como pastor e profeta.

Questionado sobre quantos fiéis encontravam-se no monte Sumi, Kalupeteca disse que “inicialmente eram 700 pessoas”, mas depois de o governador ter ordenado o fim das suas actividades “apenas ficaram alguns obreiros, viúvas e crianças”, que tinham como principalmente ocupação a agricultura.

“Várias outras pessoas voltaram aos arredores do monte Sumi por terem comprado lá os seus terrenos” continuou Kalupeteca, sem adiantar números.

Em relação ao número de mortos ou feridos, o líder de A Luz do Mundo disse não ter visto “nada”.

Kalupeteca foi confrontado na manhã desta sexta-feira, 22, com instrumentos metais que supostamente os seus fiés terão usado para assassinar os nove membros das forças de segurança de Angola.

Dos meios apresentados constam duas AKM "sem carregadores", nove catanas, um sacho, cinco machados com cabos e três sem cabos, duas enxadas, duas facas de cozinha, 55 mocas, uma flecha, uma picareta e duas caçadeiras, o que contraria o número de meios constantes no auto de apreensão.

Kalupeteca disse que tinha as mocas para trabalhos e que a caçadeira era do conhecimento da polícia local.

Ontem, o líder de A Luz do Mundo foi interrogado apenas pelo juiz, mas hoje começou a responder a perguntas do Ministério Público.

Questionado sobre os mortos, Kalupeteca disse que apenas ouviu falar deles na cadeia e através da rádio.

De notar que não foram apresentadas, em tribunal, as armas usadas pela polícia.

Voanews

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