Em causa estão os elevados encargos operacionais e a rápida expansão das redes em zonas rurais, explicou o governante, em declarações à Lusa à margem de uma visita a um parque solar fotovoltaico.
A cadeia de valor do setor elétrico angolano integra quatro segmentos --- produção, transporte, distribuição e comercialização --- havendo uma única empresa concessionária, tanto para distribuição e para comercialização, que é a ENDE.
Segundo o ministro, a empresa pública é assim obrigada a estar presente em todas as localidades, independentemente da escala do consumo, o que significa que os encargos podem ficar muito acima das receitas expectáveis, sobretudo em meios rurais.
João Baptista Borges adiantou que o objetivo é concessionar os ativos locais permitindo aos privados que assumam funções comerciais e operacionais.
"O que se faz é entregar-lhes os ativos das redes de distribuição, o sistema de contagem e de cobrança, e eles fazem a comercialização da energia, fazem novas ligações, fazem o trabalho de piquete, reparações, avarias, etc.", afirmou. Em contrapartida, as empresas pagam uma taxa pela utilização das infraestruturas da ENDE.
Questionado sobre a sustentabilidade económica para os privados, tendo em conta os limites das tarifas e a fraca capacidade de pagamento das populações, João Baptista Borges sublinhou que os operadores não terão de suportar grandes investimentos iniciais.
"Eles não têm custos de investimento significativos, porque eles recebem as redes. No fundo, o investimento que é feito é já dimensionado para aquilo que é o universo de consumidores que eles vão atender", disse, acrescentando que, com custos reduzidos, "torna-se atrativo".
A tarifa de eletricidade permanecerá única em todo o país, garantiu o mesmo responsável, acrescentando que eventuais diferenças regionais nos custos serão compensadas através de subsidiação cruzada.
O ministro adiantou que o Governo está a finalizar a regulamentação necessária para operacionalizar o novo modelo.
Quanto ao calendário para a concretização desta intenção, João Baptista Borges foi categórico: "Não pode passar do próximo ano exatamente pela dinâmica de crescimento da infraestrutura que vai criando depois cada vez mais dificuldades de sustentabilidade."
O processo será amplamente discutido antes da implementação. "Nós estamos a constituir um Comité de Reforma do Setor que vai integrar todas as sensibilidades das instituições locais, associações, ministérios, pessoas individuais, etc. para discutir o modelo e vamos depois implementá-lo ao longo do próximo ano", concluiu.
A abertura da comercialização a privados decorre das alterações introduzidas à Lei Geral de Eletricidade pela Lei n.º 6/25, de 23 de julho, que abre o caminho jurídico para que a comercialização de energia elétrica passe a ser exercida também por entidades privadas, mediante licença e sob supervisão da entidade reguladora do setor.

