Segunda, 29 de Setembro de 2025
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Segunda, 29 Setembro 2025 13:06

468.809 angolanos concorreram a 3.254 lugares na função pública

Num país com o desemprego em alta, muitas vezes é por desespero de causa que os candidatos concorrem a qualquer vaga que esteja disponível, ainda que não cumpram com os requisitos exigidos. O objectivo é tentar uma "fezada" que depois acaba, também, por arrastar os processos de contratação.

Apenas um em cada 100 candidatos que se inscreveu em concursos públicos conseguiu ingressar na função pública entre o período de 2022 até meio de 2025, segundo cálculos do Expansão com base nos dados fornecidos pela Escola Nacional de Administração e Políticas Pública (ENAPP). Nestes quatro anos, a ENAPP realizou e concluiu um total de 11 concursos públicos, nos quais se inscreveram um total de 468.809 concorrentes para 3.254 vagas, e apenas 2.855 foram contratados. E 122.863 foram excluidos por não reunirem as condições exigidas.

Contas feitas, apenas 0,6% dos concorrentes inscritos conseguiu a vaga para a qual concorreu, sinal que espelha a real situação de desemprego no País, em que há uma procura por empregos muito superior à oferta. O que acaba também por contribuir para uma política de remunerações salariais muito baixas, com todas as consequências que isso traz para o País.

Há ainda outra questão que contribui para estas corrida a tudo o que é concurso para entrada na função pública, que é o facto de a maior parte dos angolanos considerar que o Estado é o melhor empregador e aquele que garante maior segurança e estabilidade já que é conhecido por nunca despedir trabalhadores, ao contrário do que acontece nos privados que andam "ao sabor" de uma economia em constantes altos e baixos, com crises financeiras sucessivas.

De acordo com o economista Heitor Carvalho, fica em evidência a escassez de empregos formais no País. "A taxa de emprego formal, ou seja, o número de pessoas que procuram emprego e conseguem é de 14%. Se excluirmos o emprego informal, teremos uma taxa de desemprego de 86%. Portanto, são esses que estão nos empregos informais e os desempregados que se inscrevem sempre que abre uma vaga nova. Logo, é esta desproporção entre a oferta de empregos formais e a população que quer trabalhar, que faz com que qualquer concurso tenha uma procura muito superior à oferta".

Esta desproporcionalidade, de acordo com o economista, deve-se ao facto de não se estar a criar novos empregos no País, apesar da narrativa criada à volta desta questão. "Não é o Governo que deve criar empregos, o problema é deixar que sejam as empresas a criar emprego. E não há empresas a criar empregos porque fazer negócios em Angola é muito difícil. O ambiente de negócios e as condições para fazer negócios são muito difíceis e por isso não há muita gente a querer investir em Angola", admite.

Diante disto, segundo Heitor Carvalho, o que se pode fazer é mudar as questões ligadas ao ambiente de negócios, "porque as regras são complicadas de se cumprir". Estas dificuldades levam a que muitas empresas se virem para a informalidade. E é importante lembrar que assim como as empresas se viram para o mercado informal diante das dificuldades do ambiente de negócios, a força de trabalho também acaba por sair da formalidade face à escassez de empregos que garantem segurança laboral.

Já o também economista Hermenegildo Quexigina, argumenta que o motor das economias dos paises é o sector privado e que o Estado deve apenas criar as condições necessárias para que este se desenvolva e fomente a criação de novos empregos. "De acordo com o inquérito ao emprego do Instituto Nacional de Estatística, nos primeiros seis meses deste ano, dos 6,1 milhões de jovens em idade activa 3,2 milhões estão desempregados, e tendo em conta que quase metade da população economicamente activa é jovem, é difícil prever um cenário de melhorias no mercado de trabalho. A população continua a crescer e não são criados novos empregos, temos cada vez mais jovens a formarem-se com perpectivas de conseguirem empregos, mas a realidade é que não temos postos de trabalhos para eles. Isso sem tocar na questão da qualidade da formação destes jovens", defende.

Além disso, o alto nível de informalidade e desemprego destapam outros problemas sociais e são um sinal de alerta sobre a incapacidade do País em aproveitar o seu dividendo demográfico que é a sua população jovem. Ao não criar essas condições abre a "porta" a mais pobreza e delinquência. Expansão

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