A insatisfação foi manifestada pelo presidente da ABPA, Ricardo João Santin, considerando que a importação de derivados de frango “é complementar” e tem “selo de qualidade”.
“Angola está em recuperação, a gente vê o retorno de crescimento, precisa gerar emprego, mas precisa também de garantir comida na mesa das pessoas, por isso a gente também veio aqui protestar contra a lei que proíbe a importação de algumas partes e dos miúdos de aves”, disse à Lusa o responsável.
Segundo o presidente da ABPA, que representa as proteínas de aves, suínos, ovos e material genético produzidos no país sul-americano, é falso que o seu país não consome partes de frango, garantindo que o dorso, moelas e outros fazem parte da dieta alimentar dos brasileiros.
Brasil e Angola “têm hábitos alimentares muito parecidos e não vemos justificativa técnica de que não podemos exportar miúdos de frango, de bovino”.
É importante acabar com “qualquer espécie de protecionismo”, afirmou, exortando as autoridades angolanas que, de acordo com Ricardo João Santin, vetaram a importação de cortes ou derivados de frango brasileiros desde abril passado, a rever a decisão. Falando no âmbito do Fórum Empresarial Agro Brasil-Angola, em Luanda, no âmbito da visita do ministro de Estado para a Agricultura e Pecuária do Brasil a Angola, Santin sublinhou que mais de 150 países do mundo atestam a qualidade da carne brasileira.
Observou que o seu país é o maior exportador de aves e de carne bovina do mundo e o quarto maior exportador da carne suína e, por isso, são “fiscalizados diariamente” por mais de 150 países, destino das suas exportações.
O presidente da ABPA pediu ao Governo angolano a “revisão das regras que proíbem a importação” de miúdos de frango, de ponta de asa, de dorso, de pescoço de frango, de peru, “o que é uma alimentação que se faz no Brasil”, insistiu. O consumo de derivados de frango em Angola ganhou forma e constitui a base alimentar de muitos famílias, sobretudo nos últimos anos, por ter preços acessíveis, face aos baixos rendimentos de muitos, que recorrem à “sócia” – arranjo informal para pagamentos parcelados de produtos.
Em maio de 2023, a então diretora nacional do Comércio Externo, Augusta Fortes, citada pela Rádio Nacional de Angola, anunciou que os importadores de frango haviam sido orientados a fazer uma descrição especifica da mercadoria a importar e a “descontinuarem a importação de produtos que ferem a moral da população, como cabeças de frango, a carcaça de frango, rabinhos de frango”.
Ricardo João Santin lamentou, por outro lado, o elevado índice de desemprego em Angola que, como disse, contrasta com o Brasil, onde há falta de mão-de-obra no setor agropecuário que possui hoje 20 mil empregos abertos.
Para colmatar a escassez de mão-de-obra no setor das aves e suínos, explicou, a ABPA está a elaborar um programa de incentivo à modernização e inovação para colocar robôs em atividade no setor.
“A nossa parceria (com Angola) é de segurança alimentar e fazemos isso com mais de 150 países do mundo, precisamos de oferecer à população acesso a todo o tipo de proteína. Os Governos têm de deixar aberto para a população ter acesso a nutrientes”, exortou.
O Brasil exporta anualmente entre 35 e 40 mil toneladas de carne para Angola, conforme dados da ABPA, que congrega mais de 140 associados, entre empresas e cooperativas ligadas ao agronegócio.