"Quando começa a haver problemas políticos e quando andam em cima de alguém, digamos que todas as portas se fecham e é o momento em que estamos. A nível da Namíbia, por exemplo, estamos a ter uma grande pressão, estamos a ser quase ameaçados de nos tirarem a licença por causa do nosso acionista. Temos de tirar o acionista da nossa estrutura, mas isso não depende de nós, depende do acionista", disse à Lusa Hugo Teles, à margem do XIII Fórum Banca, sem citar nomes.
A empresária angolana e filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos Isabel dos Santos, cujas participações sociais estão arrestadas pela justiça angolana, é acionista de referência do BIC, através da Sociedade de Participações Financeiras (25%) e da Finisantoro Holding Limited (17,5%).
"Na Namíbia consideraram o nosso acionista 'not fit and proper' ['não adequado e idóneo'] e acham que não pode ter nenhuma participação direta ou indireta na Namíbia", disse o responsável do BIC.
"Estamos a tentar arranjar uma solução, está em curso uma tentativa de resolução", adiantou o gestor, escusando-se a divulgar quais os cenários que estão a ser equacionados.
O BIC tem seis balcões na Namíbia e, segundo Hugo Teles, a operação estava em franco desenvolvimento, sobretudo na zona fronteiriça, de onde é oriunda 80% da população namibiana.
"É lá que está uma boa parte do negócio e é junto à fronteira com Angola. E uma zona onde os bancos anglófonos não gostam de se posicionar, mas é onde nos sentimos bem e sabemos trabalhar. Nós achamos que podíamos brilhar na Namíbia", declarou à Lusa.
Hugo Teles disse que desde a altura em que foram arrestadas as ações, o banco não tem qualquer informação sobre o processo judicial, mas admite que a situação causa transtornos.
"Não é nada que nos diga respeito, a nossa acionista é que terá de resolver essa situação. Não escondo que nos causa alguns transtornos, nomeadamente na relação com os [bancos] correspondentes [bancos que prestam serviços a outros bancos], causa bastantes transtornos", destacou.
"Essencialmente, não conseguimos abrir mais contas com correspondentes, continuamos inibidos de trabalhar em dólares", apontou o presidente executivo do BIC.
Hugo Teles, que foi um dos oradores de uma mesa redonda sobre o impacto das privatizações e da entrada em bolsa dos bancos comerciais, no XIII Fórum Banca, organizado pelo semanário Expansão, em Luanda, considerou que esta não é uma prioridade imediata para o BIC.
"Nós estamos capitalizados, estamos focados em dar crédito a particulares e a empresas e não temos necessidade de ir buscar financiamento", justificou.
Reconheceu, no entanto, que podem ser "empurrados" para a bolsa por alguns dos acionistas, já que "um dos acionistas tem o capital arrestado", mas a estratégia passa por "continuar a usar o capital para dar crédito".
Questionado sobre a desvalorização do kwanza, confirmou o impacto no banco, sobretudo porque "há muitas empresas que estão a passar algumas dificuldades", e considerou que tudo teria sido mais fácil, nomeadamente para os clientes, se tivesse havido um alerta.
"Nós já sabíamos que isto iria acontecer, mas não sabíamos quando", disse Hugo Teles, frisando que os bancos poderiam ter sido consultados previamente e poderiam ajudar a economia "a sofrer menos com estes abanões".
Além do BIC angolano, Isabel dos Santos é também acionista do português EuroBic, com 47,5%, sendo Fernando Teles o outro acionista maioritário.
Esta entidade financeira, envolvida no escândalo que ficou conhecido como 'Luanda Leaks', terá sido usada para alegados desvios de dinheiro pertencente à petrolífera estatal angolana, Sonangol.