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Segunda, 26 Junho 2023 18:06

Queda do Kwanza deixa em alerta cidadãos que compraram casas em Portugal

A desvalorização da moeda nacional afecta angolanos que adquiriram casas em Portugal com recurso a financiamento de bancos portugueses. Apesar do risco garantem que ainda não estão no limite, mas em alerta com a situação que está a levar a alguma contenção na gestão dos salários em Angola.

Cidadãos da classe média que compraram casas em Portugal estão em alerta com a depreciação do kwanza, devido ao aumento do custo do euro na banca e no mercado informal, que pode dificultar o cumprimento da prestação do crédito obtido para aquisição do imóvel. Apesar de ainda não assumirem incumprimento no pagamento da prestação, os trabalhadores que realizaram o sonho da casa próprio em terras lusas, ouvidos pelo Expansão, admitem que estão receosos com a situação.

"Ainda não falhei nenhuma prestação lá. Mas se o kwanza continuar a perder espaço para o dólar e o euro, as coisas poderão apertar um pouco", disse um funcionário da Administração Geral Tributária (AGT), que em Dezembro do ano passado adquiriu o seu apartamento em Lisboa, com financiamento bancário de um banco local.

Com uma mensalidade de 800 euros, este jurista garante que tudo fará para continuar a honrar o compromisso assumido, nem que para isso tenha de alterar o seu estilo de vida.

"Uma coisa tenho certeza, vou continuar a pagar a prestação ao banco. Para já, o dinheiro de Julho está garantido e já começamos a reduzir custos aqui para poder continuar a enviar o dinheiro. Só espero que os bancos não atrasem tanto as transferências", disse.

Menos confiante que este funcionário da AGT está Maria Bernardo (nome fictício), funcionária da Sonangol, que todos os meses paga 600 euros.

"Estou muito preocupada, porque tenho pendentes duas transferências. É verdade que conseguimos criar uma poupança lá, que permite o pagamento de alguns meses. Mas se não conseguirmos transferir, complica as nossas contas, porque o dólar está casa vez mais alto", disse a funcionária. "Esta desvalorização do kwanza vai acabar por nos obrigar a refazer os nossos planos de custos. Se for necessário, vamos mesmo ter de apertar o cinto, mas não vamos perder a casa em Portugal", garante confiante a nossa interlocutora.

Em alerta, mas não receoso, está o engenheiro de telecomunicações de uma das empresas de telefonia móvel que opera no mercado e comprou o seu apartamento há dois anos nos arredores de Lisboa.

"Se dizer que não estou preocupado estaria a mentir. Mas ao mesmo tempo estou tranquilo porque já assistimos no passado a esta desvalorização do kwanza. As coisas vão melhorar e não acredito que quem tem casa em Portugal não tenha já garantido pelo menos o dinheiro para o pagamento de alguns meses", disse.

Ideia partilhada por João Pedro (nome fictício). O homem alerta que, em caso de complicação maior, pondera arrendar o imóvel em Portugal para não cair em incumprimento a ponto de perder a casa para o banco.

"Independentemente deste aperto ,ainda consigo pagar as minhas prestações. Se as coisas piorarem, arrendo o apartamento e garanto o pagamento. Tenho certeza que não vou perder o apartamento por falta de pagamento", concluiu.

Com desvalorização da moeda nacional, os cidadãos vão precisar de transferir mais kwanzas para o pagamento das prestações dos imóveis em Portugal.

Especialistas alertam para o risco da variação cambial

Em Março, quando o Expansão publicou a peça sobre a compra de imóveis em Portugal por trabalhadores do escalão médio, com os seus salários em Angola, especialistas alertaram para alguns cuidados a ter, a começar pela variação cambial, a que estamos a assistir.

"Pelo que me apercebi, os jovens estão a pagar estas casas em Portugal com dinheiro dos seus salários aqui. Mas se o kwanza desvalorizar, provavelmente ficam sem condições de mandar o dinheiro necessário para lá. Sem esquecer que a nossa economia é instável devido à dependência do petróleo e os preços dos bens e serviços podem aumentar a qualquer momento, o que reduz a capacidade financeira das pessoas", disse na altura o economista António Domingos. Expansão

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