“Na verdade, o que se passa aqui é que os nossos irmãos estão a agir de má-fé, porque fomos aconselhados à uma reconciliação para se poder pôr fim a esta situação que a igreja vive”, afirmou hoje Valente Bizerra Luís à Lusa, reagindo ao anúncio da reabertura dos templos.
O responsável da direção da ala dissidente, angolana, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Angola, reconhecida pelo Instituto Nacional dos Assuntos Religiosos (INAR) angolano, referiu que a legitimidade da igreja não está em causa, por possuir documentos que atestam.
“E aqui não estamos a falar, neste momento, de questão de legitimidade, porque se formos a falar de questão de legitimidade, eles dizem que são e nós também dizemos que somos, mas cada um deve apresentar então um documento que comprove a sua legitimidade”, sublinhou.
“Posso falar em viva voz, temos, praticamente, todos os documentos que comprovam a nossa legitimidade”, assegurou.
O bispo Alberto Segunda disse à Lusa hoje que “já não existem alas” na IURD em Angola e que os mais de 100 templos da igreja podem ser reabertos “em breve”.
“Para mim não existem duas alas, já não existe, isso era apenas no início do conflito, o que existe agora é a IURD que está a atravessar uma fase da reconciliação”, afirmou Alberto Segunda, bispo angolano e líder da conhecida ala brasileira da IURD em Angola.
Alberto Segunda referiu que os mais de 100 templos da IURD espalhados pelas 18 províncias angolanas continuam fechados, admitindo, no entanto, a sua reabertura para “breve”, após a execução da sentença, datada de 31 de março de 2022.
Para Valente Bizerra Luís, que desvaloriza os argumentos de Alberto Segunda sobre possível reabertura dos tempos, “apenas o INAR, como fiel depositário poderá fazer a entrega das chaves dos tempos a quem de direito”.
“Agora, quando o bispo Segunda diz que nos próximos dias devem ser reabertos os templos não é o bispo que deve assim ditar, porque neste país existem leis, autoridades de direito”, apontou.
Questionado se persistem as alas no seio da IURD em Angola, Bizerra Luís referiu que gostaria que estas não existissem, mas, notou, a direção brasileira “mostra publicamente o contrário, passado a ideia de que são reconhecidos pelo governo e que têm uma sentença favorável”.
Para não existir alas, argumentou, “acho que teria de facto haver de ambas as partes uma reconciliação, e essa reconciliação nós tentamos de várias formas e estamos ainda a tentar”.
“Mas, os nossos irmãos dizem que não querem voltar a comungar connosco na mesma instituição e preferem que cada um siga o seu caminho”, atirou.
“O outro lado não aceita a reconciliação, já conversamos várias vezes, para que haja uma reconciliação tem de haver vontade das duas partes e do lado dos nossos irmãos falta esta vontade e acho que eles não estão a ser honestos nas abordagens que fazem publicamente”, frisou.
Bizerra Luís confirmou também a participação de IURD na marcha da paz promovida pela JMPLA, braço juvenil do partido no poder, referido que foram a convite do Conselho Nacional da Juventude (CNJ) e não a convite do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
“A igreja que dirigimos esteve sim numa marcha a qual fomos convidados pelo CNJ e não pelo MPLA ou JMPLA”, justificou.
Sobre se participariam numa marcha convocada pela UNITA, maior partido na oposição em Angola, o bispo respondeu: “Nós não estamos em questão de fazer apoio à este ou aquele partido, o que recebi foi um convite da CNJ e do que eu saiba não está ligado à nenhum partido”.
Este líder religioso disse ainda aguardar com expectativa pela reabertura dos templos, observando, no entanto, que Luanda e algumas províncias do interior de Angola contam já com “alguns templos abertos”.