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Terça, 27 Abril 2021 20:19

Presidente da Confederação Empresarial Angolana admite que Prodesi “falhou”

O presidente da Confederação Empresarial Angolana (CEA) admitiu hoje que o Prodesi, programa de apoio à produção, “falhou”, sobretudo “por ser indireto e coordenado por um órgão ministerial” e difícil de operacionalizar.

Para Francisco Viana, o Prodesi (Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações), aprovado por decreto presidencial em julho de 2018, falhou pela sua coordenação e falta de formação.

“O Prodesi falhou, porque passou a ser indireto, passou a ser coordenado por um ministério”, afirmou Francisco Viana, quando questionado pela Lusa.

Em declarações no âmbito da apresentação do II Congresso da Produção e do Setor Produtivo, agendado para 04 a 06 de novembro, o responsável apontou “várias insuficiências” do Prodesi, considerando que o programa “Angola Investe era mais fácil de operar”.

O Prodesi é um programa executivo para “acelerar a diversificação da produção nacional e geração de riqueza, num conjunto de produções com maior potencial de geração de valor” de exportação e substituição de importações nos setores da alimentação, agro-indústria, recursos minerais, construção, têxteis e outros.

Aumentar a produção e volume de vendas das produções e fileiras prioritárias, acelerando a diversificação e potenciando as vantagens comparativas nacionais, e reduzir o dispêndio de recursos cambiais com a cesta básica são alguns dos objetivos fundamentais do programa.

Segundo o presidente do CEA, o recurso à reserva dos bancos, à luz do Instrutivo 10/2020 de 03 de abril, elaborado pelo Banco Nacional de Angola (BNA) para a concessão de crédito ao setor real da economia, “tem sido um mecanismo viável, apesar de muitas dificuldades”.

“Esse instrumento [Instrutivo 10] está a andar, mas mesmo assim com muitas dificuldades porque os próprios bancos não querem dar dinheiro à-toa”, apontou.

Entre as falhas, apontou questões ligadas à formação dos empreendedores, pedindo “que o Estado não tenha medo de alocar alguns milhões para se trabalhar na formação com regras e quem roubar vai para a cadeia”.

Francisco Viana considerou igualmente que “se tudo passar pelo Ministério da Economia e Planeamento (gestor do Prodesi), não há ministério que aguente”.

O líder empresarial criticou também a substituição do Angola Investe, criado em 2012 e que visava o apoio e financiamento de projetos de investimentos às micro, pequenas e médias empresas, operado por bancos comerciais, pelo Prodesi sem se fazer um balanço.

“Esses hábitos de substituir programas sem fazer o balanço e propor outros programas não são os mais salutares para uma gestão eficiente do nosso país, temos é que primeiro ver qual foi o balanço do Angola Investe e porque é que o Angola Investe falhou”, realçou.

O Angola Investe “era melhor do que o Prodesi, era muito mais fácil operar, era diretamente com os bancos”, embora tenha falhado nas garantias de pagamento, observou.

O Estado “deixou de ter capacidade de assumir as garantias e falhou também na questão dos consultores, o Estado deixou de ter capacidade para poder formar os consultores, para os consultores poderem apoiar as empresas”, notou.

“Mas também falhou por causa da nossa mentalidade, muita gente aproveitou o Angola Investe para roubar, para fazer corrupção e esses não se pode dizer que eram os governantes, é a nossa mentalidade de ir buscar dinheiro para depois não pagar”, apontou o líder empresarial.

Francisco Viana criticou ainda a medida do Governo angolano sobre a importação de bens de cesta básica em ‘big bags’ (sacos a granel), a partir de 17 junho, referindo tratar-se de uma “medida anedótica”.

“Nós nem fomos consultados sobre o decreto dos ‘big bags’ e achamos que isso não tem nada a ver, é melhor consultar os empresários e assim vão deixar de fazer essas coisas, há coisas que não entram nos ‘big bags’, têm que consultar os empresários”, respondeu à Lusa.

“Esse hábito de tomar medidas sem consultar os empresários dá nisto, que, para mim, é uma anedota”, atirou.

O decreto estabelece que as importações de um conjunto de produtos, essencialmente alimentares, deverão passar a ser feitas a granel (em ‘big bags’ de, pelo menos, uma tonelada) sendo o restantes processo de empacotamento e/ou embalamento feito em Angola.

Segundo o executivo, a medida permitirá fazer importações a preços mais baixos, além de promover o desenvolvimento das indústrias de embalamento e logística, geradoras de postos de trabalho, e contribuir para a poupança de divisas.

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