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Quarta, 25 Setembro 2019 17:37

Caso Zé Maria: Sessão interrompida depois de advogado de defesa humilhar ex-ajudante de campo do SISM

A sessão desta manhã foi suspensa pelo presidente do colectivo de juízes depois de Manuel Nicolau, tenente do exército arrolado como testemunha no processo-crime do general "Zé Maria", ter sido "humilhado" em tribunal pelo advogado de defesa do réu, quando revelava ao colectivo de juízes como desapareceram os documentos que estavam guardados no gabinete do antigo chefe do Serviço de Inteligência Militar (SISM) depois da sua exoneração.

Sérgio Raimundo, advogado de defesa do general "Zé Maria", interrompeu o réu, pedindo desculpa ao juiz e solicitando autorização para fazer "algumas perguntas ao senhor tenente".

"Terminou os estudos em que classe?", perguntou o advogado, ao que o tenente Manuel Nicolau respondeu que completou a 12ª classe.

Sérgio Raimundo retorquiu: "Nem parece que é um oficial das Forças Armadas Angolanas (FAA), o senhor não sabe falar, estamos a falar português, na fase de instrução preparatória disse uma coisa, hoje está a falar outra. Não pode dizer duas verdades sobre uma realidade e sobre o mesmo facto".

O juiz Carlos Vicente interveio, exigindo respeito para com um oficial das FAA e transmitindo ao advogado de defesa do general "Zé Maria" que "não é preciso humilhar ninguém nem dar lições de moral".

"Estamos perante um tribunal, não tem o direito de falar assim com um oficial das FAA. Isso de nível académico não vem ao caso, senhor advogado, tenha mais respeito porque não está a falar com uma criança", disse o magistrado.

A discussão entre juiz e advogado levou a que o presidente do colectivo de juízes suspendesse a audiência, remarcando para o período da tarde de hoje a audição de outra testemunha, concretamente o ex- director do Jornal de Angola, José Ribeiro, arrolado no processo por ter publicado vários textos de opinião escritos por "Zé Maria", que retratavam a batalha do Cuíto Cuanavale e a Guerra dos Congos.

Testemunha conta suposta insubordinação do general José Maria

O director-adjunto do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE), José Coimbra Baptista Júnior, confirmou hoje, no Supremo Tribunal Militar (STM), que o general António José Maria não acatou a decisão do Presidente da República, João Lourenço, no sentido de fazer a entrega de todo o acervo do Serviço de Informação e Segurança Militar (SISM), após à sua exoneração.

José Coimbra Baptista Júnior respondia ontem no STM na qualidade de testemunha de acusação, no julgamento em que o ex-chefe do SISM, general António José Maria, é acusado da prática dos crimes de extravio de documentos, aparelhos ou objectos que contêm informações de carácter militar, bem como de insubordinação.

Coimbra Baptista confirmou aos juízes o encontro, no dia 11 de Fevereiro deste ano, entre o director-geral do SINSE, Fernando Garcia Miala, e o general José Maria, em que o primeiro transmitiu a ordem do Presidente João Lourenço, no sentido de o ex-chefe do SISM entregar, no prazo de 48 horas, todo o acervo relativo à Batalha do Cuito Cuanavale.

“O general José Maria disse que se encontrava a dirigir um gabinete na FESA e que, para que este acervo pudesse ser entregue, o Presidente João Lourenço devia contactar o ex-Presidente José Eduardo dos Santos”, contou.

A testemunha sublinhou que houve, por parte do general Garcia Miala, a tentativa de convencer José Maria a reconsiderar a sua posição, para evitar situações que poderiam não ser as mais desejadas, mas o ex-chefe do SISM manteve-se firme na sua posição.“Em momento nenhum houve da parte do general José Maria a aceitação da ordem baixada pelo Presidente da República para a entrega do acervo sobre a Batalha do Cuito Canavale”, afirmou. O Tribunal volta hoje a ouvir várias testemunhas.

Cumprimento de orientação

Por seu turno, o jornalista António José Ribeiro, arrolado como testemunha por parte da defesa, informou que os artigos publicados ao longo dos últimos anos sobre a batalha do Cuito Cuanavale davam cumprimento a uma orientação do ex-presidente da República para que o Jornal de Angola publicasse factos das batalhas ocorridas no pais desde a independência.

Referiu que em 2014 o ex-chefe de estado orientou a este órgão para publicar artigos que narrassem as batalhas mais importantes ocorridas no país desde 1975, com realce para a do Cuito Cuanavale, no intuito de elucidar as camadas mais jovens sobre factos históricos.

Salientou que as fontes e material relacionados à Batalha do Cuito Cuanavale foram-lhe fornecidos pelo ex-chefe do SISM, em virtude do mesmo ter investigações muito avançadas sobre a matéria.

Frisou, por outro lado, que ao longo dos 45 anos de exercício da profissão de jornalista teve a oportunidade de tomar contacto com importantes dossiers da vida política e diplomática de Angola, com destaque para as conversações tripartidas que culminaram com os acordos de Nova Iorque e a consequente queda do regime do apartheid na África do Sul.

O general António José Maria esteve à frente do Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM) de 2009 a 2017.

O julgamento, iniciado 12 de Setembro, prossegue nesta quinta-feira com continuação à audição das testemunhas. NJ/Angop

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