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Sexta, 13 Dezembro 2013 18:00

Sucessão de José Eduardo dos Santos e situação económica na agenda de Angola

A sucessão de José Eduardo dos Santos e a situação económica vão ser os temas que condicionarão Angola ao longo do próximo ano.

O tema da sucessão de José Eduardo dos Santos, presdidente desde 1979, foi colocado pelo próprio na agenda pública com a entrevista que deu à televisão brasileira Bandeirantes, em que reconhece estar há "demasiado tempo" no poder.

Nessa entrevista, José Eduardo dos Santos foi mais longe do que é habitual ao referir que "diversos cenários" estão a ser testados no seio do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder desde a independência, em 1975.

Em causa está o fraco apoio do "candidato" de José Eduardo dos Santos, o vice-PR Manuel Vicente, dentro das estruturas do MPLA, o verdadeiro centro de poder em Angola, cujo líder acumula o cargo com o de chefe de Estado.

A falta de passado de militância partidária de Manuel Vicente é o principal óbice apontado pelos históricos, que estarão dispostos a encarar uma solução inédita e nunca testada em Angola: uma liderança bicéfala, com nomes diferentes para dirigir o partido e representar o país.

Estes cenários são debatidos ao mesmo tempo que o país tenta acertar as contas com o crescimento económico, ao fim de dois anos de metas corrigidas sempre para baixo do inicialmente previsto.

O Orçamento Geral do Estado para 2014 prevê um défice de 4,9 por cento e aposta forte no desenvolvimento do setor não-petrolífero, num esforço de diversificação da economia que tarda em apresentar resultados, com o objetivo de reduzir a dependência do petróleo, que representa, ainda, mais de 95 por cento das receitas de exportação.

O aumento da despesa significa que Angola vai reforçar os investimentos em infraestruturas, desde estradas e caminhos-de-ferro até energia, para garantir racionalidade e resultados nos investimentos adicionais na agricultura e indústria.

Quanto ao crescimento do Produto Interno Bruto, a previsão é de 8,8 por cento, dois pontos percentuais acima da previsão do Fundo Monetário Internacional (6,3%).

Trata-se de um valor generoso face à correção em baixa do valor alcançado em 2013, e que foi de 5,1 por cento, menos também dois pontos percentuais que a previsão inicial.

A correção em baixa foi justificada com o longo período de seca, o crescimento abaixo do esperado no setor de petróleo e a má gestão da dívida pública.

O otimismo para 2014 fundamenta-se ainda na manutenção de uma taxa de inflação entre os 7 e 9 por cento, o que conduz ao compromisso assumido nas eleições gerais de agosto de 2012, e que valeram uma confortável maioria absoluta ao MPLA: crescer mais e distribuir melhor a riqueza produzida.

Trata-se, todavia, de um compromisso que é diariamente posto à prova por parte significativa dos 19 milhões de habitantes, que vive com o correspondente a 1,4 euros/dia.

Do lado de fora das decisões está a oposição parlamentar, limitada ao papel que lhe é deixado pelo poder mas que descobriu já no final de 2013 a novidade que é fazer oposição na rua, fora dos tempos eleitorais.

Entre a sucessão de José Eduardo dos Santos e o comportamento da economia, resta um pequeno espaço para a oposição provar se a sua capacidade de mobilização para ações de rua será causa ou consequência no ano que vai entrar.

LUSA

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