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Quinta, 31 Outubro 2024 15:28

Jovens não podem perder-se em discussões de infantário, a nação pertence a todos, não a um único partido

Sr. Presidente da Assembleia Nacional, Agradeço o facto de me ter permitido dizer algumas palavras aos meus colegas deputados na altura em que me afasto desta Casa.

Entrei nesta Casa em 1980 na condição de deputado pelo Círculo de Malanje e ao longo destes 34 anos pude conviver com angolanos deputados vindos de todos os cantos de Angola e membros de vários partidos constituídos ao longo destes tempos e muitos dos quais já não existem. Eu, que sou um dos sobreviventes, venho aqui para agradecer a todas aquelas pessoas que por aqui passaram assim como a todos os partidos que também aqui estiveram.

Quero dizer a todos que tenham passado aqui na condição de deputados e a todos os partidos sem exceção o meu muito obrigado. Muito obrigado porque, como sou hoje, também a todos devo. A eles devo a compreensão de que não têm o monopólio da verdade e os outros não têm o monopólio dos erros.

É entre os milhares de deputados que ao longo destes 34 anos permitiram que eu convivesse com eles desejo hoje ressaltar três nomes, Lúcio Lara, pela sua capacidade de ouvir os outros, Fulupinga Nlandu Víctor, pela sua personalidade inconformista, hoje elas fazem mudar o mundo, Agostinho Mendes de Carvalho, pela sua retidão na defesa das pausas do povo angolano.

Finalmente, peço autorização para deixar aqui uma mensagem aos jovens deputados, num país jovem, tanto mais que aqui, entre os deputados, estão dirigentes de organizações juvenis do partido, o futuro deste país, cujo presente custou sangue, suor e lágrimas, está nas vossas mãos.

E vocês jovens não podem perder-se em discussões de infantário que apenas vos dividem e impedem posições e ações comuns em relação ao que é verdadeiramente importante para o futuro, as eleições em África são importantes, mas não são suficientes, as eleições são um processo de inclusão e precisamos, em África, processos de inclusão.

Vocês jovens têm de estudar em conjunto novos rumos para a África e não serem meros papagaios repetindo o que vem do Norte em África, a maioria dos partidos são muito assentes numa base étnico-linguístico-cultural, de modo que, quando as eleições excluem um partido, não é uma organização política que está a ser excluída, mas sim um grupo social e étnico-linguístico-cultural é esta exclusão, resultado de processos eleitorais fomentados no Norte, que está na base de muitas situações que temos no nosso continente.

Criamos os Estados, fizemos os governos, mas falta criarmos a nação, os vossos pais, os vossos avós, meteram-se na trilha da libertação que levou à independência da África, agora é a altura de vocês meterem-se na trilha da construção da nação.

A nação não é de nenhum partido, é obra de todos e pertence a todos e quanto mais um país africano avançar na construção da nação, menos será a possibilidade de surgirem as crises que têm afetado o nosso continente. Hoje, em muitos países do nosso continente, o importante para subir na vida é a cor do cartão do partido, é o Kimbo de onde venho, ou da raça de que sou e vocês, jovens africanos, têm de prepararem-se para ajudar a mudar estes critérios em favor da educação, da formação e da competência.

Quero apenas dizer aos deputados desta legislatura e a todas as legislaturas desde 1980, o meu muito obrigado por aquilo que me ensinaram ou fizeram para que eu pudesse estar como hoje estou.

Obrigado a todos, os aqui presentes ou ausentes, os vivos ou aqueles que já tenham partido. Muito obrigado.

Artigo Retro

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