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Sexta, 07 Junho 2024 11:15

Em meio a críticas contra actual oposição a maioria da população tem confiança na FPU - Abel Chivukuvuku

O coordenador adjunto da Frente Patriótica Unida (FPU), Abel Chivukuvuku, em entrevista à RTP, admitiu ter consciência das inúmeras críticas que os angolanos fazem à actual oposição, o que considera normal nas democracias. É positivo que assim seja.

De acordo com o líder do PRAJA, a diversidade faz parte dos processos democráticos. “Não há unanimismo, na verdade, em democracia. Mas a minha convicção é que a maioria da população, o cidadão comum, tem confiança na Frente Patriótica Unida. Essa é a minha convicção”.

“Até porque serve de factor crítico para nós todos. Há um ditado que diz que aquele que te critica é teu amigo. Quem te avisa amigo é. É bom que haja mesmo esses segmentos críticos de algumas das nossas atitudes e posturas, mas nós temos que ser responsáveis”, apelou para advertir “Nós não podemos nos guiar com base em emoções.”

Questionado sobre o que fazer nos momentos em que é preciso determinação, embora saiba que Angola tem um regime com uma tendência excessiva para a violência disse, “Eu, pessoalmente, sou de quem defende a teoria de que ir à rua sim, mas sobretudo quando é preciso defender os grandes interesses da população que sofre. As questões sociais.”

Assim, destacou o problema dos professores, dos enfermeiros que ganham mal, sofrem, têm más condições de trabalho, o problema das empregadas, das zungueiras, que andam a ser corridas nas ruas todos os dias, os problemas das mamás que vendem nas praças, que não conseguem um sustento suficiente para os seus filhos. “Essas, sim, é preciso ir à rua para defender essas pessoas. Não é para defender os nossos lugares de políticos.”

O grande foco político para este ano, eram as autárquicas.

Falando sobre a realização das autarquias locais, Abel chivukuvuku acredita que Angola deu um passo positivo. “Quando digo demos, nós todos anulámos. Houve concertação suficiente para que ao nível do Parlamento houvesse o debate que começou e ainda não terminou para a aprovação da lei que institucionaliza as autarquias”, disse o político, dando nota de que era a última lei que faltava. “Entretanto, é preciso agora clarificarmos os rumos.

É ainda de opinião que agora, é preciso que haja diálogo dos actores principais do país, do ponto de vista político, social, acadêmico. Diálogo para se definir o rumo. “Quando é que vamos ter as autarquias? Como? E o meu desejo, a minha posição, a nossa posição do PRAJA é que deveríamos ter as autarquias em 2025 com os actuais municípios e de forma total.”

“Todos os 168... Não aumentar o número das autarquias e não fazer um quarto do país. Sim, não faz sentido. Vamos em 2025 fazer as eleições autárquicas com os atuais municípios e na totalidade, não é verdade? Portanto, este é um passo que temos que concordar, temos que ter previsibilidade.”, apelou.

“E depois podemos relançar o debate sobre... Mas não é isso que quer o governo, não é isso que quer o presidente João Lourenço. Bom, isso são manobras, são manobras. O regime tem consciência de que o risco de perder nas eleições autárquicas em muitos municípios é muito grande. Basta ver as eleições de 2022. Em Luanda só ganharam num município. E o menos relevante, Kisama”, frisou.

Chivukuvuku afirma que em todos os outros municípios perderam. Isso pode voltar a acontecer e vai voltar a acontecer na globalidade de muitos municípios nas províncias. Mas em democracia mesmo assim tem que haver equilíbrios.

O político admite que o MPLA vai ganhar alguns municípios, a Frente Patriótica outros municípios, outros partidos outros. Criam-se os equilíbrios, permitem devolver o poder ao cidadão, melhorar o nosso processo democrático e provavelmente a governabilidade.

Sobre a divisão político-administrativa, disse que não é contra o princípio da discussão da divisão territorial do país, pois isso seria incoerência. “É falta de sentido da missão. Falta de propósito, não é verdade? Portanto, até porque eu defendo a teoria de que sim, a divisão das províncias do Moxico e do Cuando do Cubango faz sentido. É lógico. São províncias enormes, ingovernáveis. Mas também há uma lista de municípios que eles estão a propor que não faz sentido”, esclareceu.

“Eu nunca evitei diálogo na minha vida. Primeiro, eu não acredito, e seria uma ilusão, que alguém acreditasse que pode fazer tudo, construir um país sozinho. É preciso congregarmos sinergias para que todos participemos. Na verdade, não custa nada sentar e dar um rumo ao país. Discutimos a distribuição territorial antes de 2027 ou depois de 2027? Como é que vamos melhorar o ambiente político nacional? Melhorar o processo democrático? Abertura da comunicação social? Acabar com a violência na vida política nacional? Essas coisas conversam-se e traçam-se um rumo. Temos as nossas diferenças, mas estamos todos angolanos. Somos irmãos”, adiantou.

Por outro lado, realçou, não me cabe a mim discutir como é que o MPLA vai resolver o seu problema de liderança. Obviamente, nós vamos estudando, vamos avaliando, vamos analisando. Por além daquilo, é preciso as pessoas perceberem.

Por outro lado, acrescentou, cabe aos dirigentes, aos quadros, aos militantes do MPLA decidirem o que é que vão fazer respeitando a Constituição.

“Quando há o projecto de sociedade, é outra coisa. Até porque, no nosso caso, se a base fosse projecto de sociedade, talvez tivéssemos impedido a Guerra Civil, se fosse projeto de sociedade. Mas, se era projecto de poder, não podiam ter o poder, os três poderes gemónicos”, salientou.

Portanto, disse que este é o primeiro problema filosófico, mas que tem que ser debatido. O segundo problema filosófico. “Tenho a impressão, voltando a impressão, de que, pelo menos na África do Sul, os movimentos de libertação, Angola, Namíbia, Suapo, na África do Sul, a ANC, no Zimbabue, a ZANPF, Moçambique, a FRELIMO, por terem lutado, quase que se acham donos do país. Podem fazer o que quiserem, são donos. Eles é que lutaram, eles é que libertaram. Portanto, tem o direito de ficar ali.”

“Com uma tendência quase de pensar que nós lhes devemos e temos que lhes reconhecer isso. Não, senhor. Se eles lutaram para nós, não são donos. Nós todos é que somos os donos. Portanto, há esses fatores filosóficos que é preciso ter em consideração. Para ver se tiramos o nosso continente desse marasmo.”

Na verdade, portanto, Abel Chivukuvuku é de opinião que é preciso encontrar uma plataforma diferente de visão dos problemas do país. “Como eu disse, os quatro elementos de análise do contexto, neste momento, do nosso país, já expliquei que, do ponto de vista psicomoral, há tendência para dois desesperos. E uma fórmula, desespero do povo, desespero do regime, não é bom.”

“Do ponto de vista econômico, quase que estamos em bancarrota. Hoje a característica principal da nossa economia, primeiro, quase 60% dos recursos vão para o pagamento da dívida. Se a dívida tivesse produzido factores e infraestruturas positivas, fazia sentido. Mas estamos a pagar infraestruturas que não existem, que estragaram. E que já estragaram.”, lamentou.

Para Abel, trata-se do desenvolvimento do espetáculo, em vez do desenvolvimento que melhora a qualidade da vida das pessoas, sendo por isso que, do ponto de vista social, a característica principal hoje no país é a pobreza. Com leivos de fome até nas cidades.

“Nós gostamos de pomposidade, visibilidade. O que devia valer, para nós podermos nos vangloriar, é dizer que a qualidade de vida do nosso povo está a subir todos os dias. Ver se chegamos aos níveis das Maurícias”, acusou.

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