Sexta, 05 de Dezembro de 2025
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Sexta, 05 Dezembro 2025 19:47

“Ampla Frente”: oposição contrária à nova iniciativa da UNITA para alternância do poder em 2027

As reacções à proposta de Adalberto Costa Júnior de relançar uma “Ampla Frente” expuseram profundas divergências entre os principais actores da oposição.PRA-JA, bloco Democrático, analistas e até dirigentes da própria Unita apresentam leituras distintas sobre o fracasso da FPU, o futuro da oposição e os obstáculos legais, simbólicos e estratégicos para 2027

A intenção do presidente eleito da UNITA de reconstruir uma plataforma ampla para enfrentar o MPLA em 2027 reabre um debate sensível entre os maiores partidos da oposição e traz à superfície divergências até aqui contidas. Enquanto o PRA-JA acusa a UNITA de rejeitar a única via legal — a coligação formal — e de ter “corrido” com aliados em 2022, o Bloco Democrático descarta qualquer hipótese de extinção ou agregação e defende apenas uma coligação nos termos da lei.

Analistas políticos, como Bali Chionga e Aniceto Cunha, alertam que, sem o BD e o PRA-JA, a nova frente pode produzir resulta- dos inferiores aos de 2022, devido a resistências internas na UNITA, novas forças emergentes e outros desafios estruturais. Por sua vez, a UNITA garante não haver mal- estar no seu seio do partido e que o diálogo será retomado, embora considere prematuro avançar sobre os modelos de coligação ou no- vos símbolos.

É neste ambiente de incertezas, acusações mútuas e pressões internas que se desenha o futuro da oposição angolana a dois anos das eleições gerais.

Lindo Bernardo Tito acusa UNITA derejeitar coligação formale "correr" com o PRA-JA

O agora dirigente do PRA-JA Servir Angola, Lindo Bernardo Tito, reagiu às declarações do presidente eleito da UNITA, Adalberto Costa Júnior, sobre a criação de uma "Ampla Frente", ao defender que a actual crise na oposição angolana resulta da recusa da UNITA em aceitar uma coligação formal, cuja formação liderada por Abel Chivukuvuku considera "o único modelo viável para unir forças politicas em 2027".

Em declarações ao jornal OPAÍS, Lindo Tito foi taxativo ao afirmar que o PRA-JA nunca saiu da Frente Patriótica Unida (FPU), como tem

sido repetido por várias platafor mas digitais, mas que foi afastado pela UNITA epelo Bloco Democrático (BD) "no mesmo dia" em que o partido concluiu o seu congresso. "O PRA-JA não saiu. O PRA-JA foi corrido. Há dois comunicados que provam isso", afirmou. Segundo o politico, o congresso do PRA-JA Servir Angola deixou duas deliberações claras; nomeadamente preparar o partido para concorrer de forma autónoma em 2027 e dar liberdade ao seu líder, Abel Chivukuvuku, de dialogar com todos os partidos da oposição, desde que o entendimento resulte numa coligação formal. Ademais, Lindo Bernardo Tito acusou a UNITA de evitar deliberadamente a formação de uma coligação, defendendo, em vez disso, um modelo de "agregação" que, segundo ele, "destrói" os restantes partidos da oposição.

"A UNITA não quer coligação formal. Quer agregação. Mas a agregação obriga os dirigentes e militantes dos outros partidos a renunciarem aos seus próprios partidos para entrar na lista da UNITA"

"A UNITA não quer coligação formal. Quer agregação. Mas a agregação obriga os dirigentes e militantes dos outros partidos a renunciarem aos seus próprios partidos para entrar na lista da UNITA. Isso é correcto? É justo?", questionou. O dirigente exemplificou com o caso do Bloco Democrático em 2022, ao recordar que o seu então presidente, Justino Pinto de Andrade, teve de renunciar à função e à militância para integrar a lista conjunta.

"Não é humilhação?", perguntou, sublinhando que esta prática causa "crispação interna" e destrói a identidade dos partidos.

"UNITA violou o acordo de 2022" Lindo Tito afirmou ainda que a UNITA "nunca cumpriu" o acordo estabelecido com o PRA-JA na FPU, nomeadamente na distribuição de posições nas listas, na liderança provincial e na representação institucional após as eleições de 2022.

"Nunca deu ao PRA-JA o que estava previsto. Nem 20% do que devia. Violou tudo".

O politico revelou ainda que o Bloco Democrático enfrenta hoje "divisões internas profundas", com uma ala a acusar a actual direcção de "destruir o partido" ao admitir uma nova agregação com a UNITA.

Lindo Bernardo Tito explicou que a lei angolana não permite agregações, mas apenas coligações formais entre partidos, com símbolos comuns apenas durante o periodo eleitoral.

"Os partidos não existem para preservar os simbolos, mas para conquistar e manter o poder. Depois das eleições, cada um usa o seu símbolo. É simples", notou. Para Lindo Bernardo Tito, caso não haja uma coligação formal, cada partido caminha sozinho. "A UNITA vai sozinha, o PRA-JA

vai sozinho, o Bloco Democrático vai sozinho. O PRA-JA está preparado. Não vamos aceitar agregação", disse o politico, insistindo que a oposição poderia unir se, mas apenas através de uma coligação real, com regras claras edefinição prévia do cabeça de lista. "O problema não está no PRA-JA. Está na UNITA. A UNITA nunca quis coligação. Quis absorver os outros e descartá-los depois", concluiu.

BD garante força própria para concorrer em 2027

Confrontado sobre a possibilidade de o Bloco concorrer sozinho, Mwata Sebastião mostrou total confiança. "O Bloco está prepara do. Estamos implantados em todas as provincias e em 92 municípios. Não temos financiamento do Estado, mas conseguimos ex pandir com os nossos próprios esforços. Temos força e estrutura para disputar o pleito", garantiu.

Explicou ainda que concorrer sozinho não significa isolar-se, já que o BD pretende incorporar dentro do partido outras sensibili-dades, incluindo movimentos da sociedade civil.

Sobre a polémica da criação de novos símbolos numa eventual coligação ponto sensível dentro da UNITA o secretário geral foi directo: "Se uma exigência nacional obrigasse a abdicar dos nossos símbolos, o Bloco Democrático diria sim. O interesse na-cional está acima dos interesses partidários", afirmou, e deixou um recado claro; "A UNITA também deveria compreender isso".

Criticas internas? "Não passam de fofocas", diz Mwata

Questionado sobre acusações de militantes que acusam o presiden te Filomeno Vieira Lopes de "empurrar o partido para o abismo" ou "vender o BD", Mwata Sebastião desvalorizou completamente. "Isso não passa de uma fofoca. Se o partido estivesse à venda, que dissessem o preço. Talvez até eu comprasse. É absurdo", disse, ga-rantindo que o partido está "de boa saúde", e que diferenças inter-nas são normais em democracia, e que a acção apresentada por um grupo de militantes ao Tribunal Constitucional será tratada pelos canais normais, sem impacto na coesão interna.

Politica Partido Liberal vai concorrer de forma isolada nas eleições de 2027

O Partido Liberal disse que a Comissão Política vai analisar o desafio lançado pela UNITA, sobre a criação da Ampla Frente para a alternância, em substituição da ex-Frente Patriótica Unida. A afirmação é do Presidente daquela força política.

Luís de Castro, pensa que a forma como o “Galo Negro” apresenta o modelo, com base na agregação, carece de aprovação daquele órgão deliberativo, mas, afirmou que o seu ponto de vista, é do Partido Liberal concorrer isoladamente, por ser uma nova formação política, e disse “não ser a favor duma agregação”.

O político defendeu que o PL tem a nobre missão de levar a imagem do partido a todos angolanos, em caso de entrar nessa agregação, poderá cortar a possibilidade de se fazer conhecer ao nível do país. OPAIS

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