Nos últimos anos, tem sido crescente o número de jovens angolanos que saem às ruas para protestar contra a situação política e social do país. São jovens que, muitas vezes organizados em movimentos sociais e coletivos, reivindicam mudanças nas políticas públicas e mais transparência e participação democrática por parte das autoridades.
No último sábado (17.06), por exemplo, manifestantes saíram às ruas de Angola para protestar contra o aumento nos preços da gasolina e da cesta básica. A onda de protestos culminou na detenção de pelo menos cem jovens, um tema a gerar debate no país.
Em entrevista à DW, Crispiniano dos Santos, o 1º Secretário Nacional da JMPLA, o braço juvenil do partido no poder, diz serem "os fiéis advogados dos jovens angolanos" e aponta os jovens da UNITA como "a causadores das arruaças". Mas sobre os excessos da polícia, acreditam que "ela deve fazer o seu papel".
DW África: O JMPLA reconhece os problemas dos manifestantes?
Crispiniano dos Santos: Nós reconhecemos que há algum excesso por parte dos nossos agentes, mas isso não nos leva a praticar atos que atentem à nossa segurança. Temos que respeitar o povo, não estamos a destruir o pouco que existe e nem colocar em risco a vida dos jovens.
DW África: Acredita, então, que os atuais problemas dos jovens angolanos não representam "risco" para a sociedade?
CS: Os problemas que afligem a juventude angolana não são específicos da juventude do MPLA, mas são de toda a juventude. Nós, do MPLA, temos sido os "advogados fiéis" da juventude angolana, independentemente da sua filiação político-partidária. Nosso dia-a-dia é dedicado a nossa responsabilidade social, que visa atender às preocupações e a iniciativas dos jovens mais vulneráveis.
Quero, neste sentido, convidar a todos os jovens e partidos políticos para que, ao invés de realizarem atos de vandalismo, juntem-se à comunidade. [Praticando] atos socialmente relevantes, orientando os jovens economicamente sobre como constituir o primeiro negócio, sua iniciativa empreendedora e, com isso, multiplicarmos os postos de empregos. Nós temos que começar a praticar aquilo que edifica a nossa sociedade e contribui para o desenvolvimento do nosso país.
DW África: Mas a JMPLA, enquanto braço juvenil do partido no poder, tem algum programa específico para mitigar a situação dos jovens no país?
CS: Estamos a trabalhar com o Executivo para que sejam adotadas políticas multi e intersectoriais, sobretudo para atender os variados domínios de interesse da juventude. Só assim vamos assegurar que beneficiem de uma melhor qualidade de vida, assentes no trabalho e no emprego. Portanto, este é o nosso maior desafio e vamos continuar de forma responsável e empenhada para que o Executivo responda positivamente aos anseios dos nossos jovens.
DW África: Mais de cem manifestantes foram detidos em Angola no último fim-de-semana. O JMPLA tem a dizer sobre a atuação da polícia?
CS: Apelamos à Polícia Nacional para que faça o seu trabalho, e mantenha a ordem e a tranquilidade no país. Condenamos os atos de vandalismo. Quando alguém incita violência... o país tem regras que devem ser obedecidas. Quem é de direito, deve fazer o seu trabalho. A polícia não pode permitir que partidos políticos irresponsáveis coloquem em perigo a vida do povo.
DW África: Quando fala em "partidos políticos" irresponsáveis, está a culpabilizar a UNITA?
CS: Temos que ter partidos de oposição comprometidos com Angola e com os angolanos para podermos construir em conjunto um país que orgulhe a todos. Não podemos continuar a convidar os jovens a queimarem pneus nas ruas, nas vias públicas, enfrentando os agentes e autoridades. São atos que nós condenamos, e não queremos que a oposição continue nesta senda. DW África